Tendo a incerteza como uma constante no mercado em transformação, o pensamento adaptativo fará toda a diferença.
Por Adriana Fellipelli, para o Linkedin, em 21/08/2020
Em 1859 o britânico Charles Darwin revolucionou nossa compreensão do mundo vivo e sacudiu até os dogmas de religiões milenares ao lançar sua “Origem das espécies”. Ao apresentar o mecanismo de seleção natural que rege a evolução, ele demonstrou que, na luta pela sobrevivência na natureza, aquele que prevalece não é necessariamente o mais forte, e sim o que melhor se adapta às mudanças nas condições do ambiente em que vive.
Quando ousou descer das árvores, onde ficava mais protegido, nosso ancestral tomou uma decisão arriscada, em sua busca por um cardápio mais variado. Em campo aberto, estava exposto ao voraz apetite de predadores mais fortes e velozes; afinal, ele também era visto como uma iguaria. Para não se tornar o “prato do dia”, inaugurou a estratégia do “quem não é o maior tem que ser o melhor”. Surgia assim o “Homo Sapiens”…
O resto da história é bastante conhecido. Botando o cérebro para funcionar, o homem dominou o fogo, a produção de alimentos na agricultura, revolucionou o transporte com a invenção da roda e criou a tecnologia quando aprendeu a usar primitivas ferramentas como instrumento de trabalho e arma de defesa e caça. Daí para os satélites artificiais e a informática foi um pulo.
Mais de 160 anos depois, poucos ousam refutar a teoria da evolução de Darwin, e seus conceitos se aplicam com perfeição na “selva competitiva” do moderno mundo empresarial, onde o jogo de cintura e a agilidade para se antecipar às metamorfoses em um mercado em vertiginosa velocidade de transformação valem mais do que a mão pesada e a velocidade obtusa em uma única direção.
Já vai longe o tempo do bacharelismo e da especialização direcionados no sentido estático e unidimensional de “um homem para cada função”. No carteado da geração dos “Millennials”, o “Coringa” vale mais do que os poderosos ases e os ornamentados reis e valetes, fazendo valer sua versatilidade para se integrar e potencializar as cartas em qualquer naipe do baralho.
É claro que a mobilidade e o trabalho duro sempre terão lugar, fazendo valer a máxima “Jacaré que não anda vira bolsa de madame”.
Mas é preciso saber se mover em várias direções, em constantes correções de rota, com os olhos sempre abertos enxergando lá na frente.
O conceito de “wicked problems” (problemas traiçoeiros que se reconfiguram) inviabiliza a chave de uma solução única e definitiva, exigindo uma capacidade de entendimento em rápida adaptação.
“The problem is not the problem. The problem is the next problem”.
A frase do galês Tom Hudson (Cardiff College of Art) nunca foi tão atual. Para fazer face a problemas contraditórios e mutáveis, precisamos estar munidos de uma transversalidade multidisciplinar, passando por campos como a psicologia, marketing, política socioeconômica e ambiental, associada à gestão do conhecimento e estratégia de negócios.
Mais do que nunca será preciso “brincar nas onze posições do campo, batendo ‘corner’ e indo cabecear na área”. Neste artigo vamos apresentar uma das técnicas essenciais que nos permitirão bater no peito e, como o genial Dadá Maravilha, dizer:
“Não me venha com a problemática, que eu já tenho a solucionática”.
Adaptative Thinking (Pensamento adaptativo)
Normalmente, nosso raciocínio é serial, estruturado de maneira cartesiana. Desde os primeiros passos em nosso desenvolvimento cognitivo, somos condicionados a pensar de maneira progressiva, isto é, uma coisa depois da outra e assim por diante. Quando nos defrontamos com uma situação que exige de nós a habilidade para dividir nosso foco entre problemas que se multiplicam em várias frentes, a reação mais comum é resmungar o chavão – “Não dá pra assobiar e chupar cana ao mesmo tempo”.
Nosso cérebro costuma “entrar em parafuso” quando ocorre uma ruptura na sequência lógica de eventos, tendendo a um emaranhado caótico de “inputs” dispersos.
Quando conversamos com alguém cuja carpintaria de pensamento é desestruturada, precisamos pedir para “ir com calma”, ganhando tempo para acompanhar a argumentação e organizar cada informação em sua caixinha.
O Adaptative Thinking consiste em processar o pensamento em busca de soluções de forma multifuncional, e atuar com precisão em diversas atividades superpostas. Não se trata de simplesmente executar de forma automática tarefas simultâneas. É como dirigir um carro no trânsito em alta velocidade enquanto discute um assunto importante com o passageiro ao lado e ouve o noticiário no rádio, tudo isso mantendo um olho pelo retrovisor nos carros que o perseguem buzinando o tempo todo, à procura de uma brecha para ultrapassá-lo. É preciso manter constante a capacidade de reação adequada a situações que se transfiguram sem parar. A cada curva, nos defrontamos com um novo cenário, onde o que era essencial pode perder a importância, e um fator até então secundário se tornar relevante. A qualquer momento, uma manobra equivocada pode encerrar a jornada com uma capotagem ou um inesperado encontro com um poste.
O cenário lhe pareceu frenético? Seja bem-vindo à competição no mundo dos negócios, onde não basta ser o mais rápido no gatilho – é preciso também acertar o alvo. Aqui, as regras (quando as há) são perversas; vale até dedo no olho. No frigir dos ovos, a escolha se resume a “vencer ou vencer”. Aos perdedores, as batatas…
Pode parecer difícil, mas nossa estrutura cerebral é um computador multifuncional perfeitamente preparado para isso. Para conseguirmos obter o máximo rendimento desta fantástica máquina que temos sobre os ombros tudo que precisamos é de treinamento específico.
“A arte da reinvenção será a habilidade mais crítica deste século”.
Segundo o autor israelense Yuval Noah Harari, o domínio do pensamento adaptativo pode fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso em sua carreira profissional. Exercitar esta habilidade o colocará na vanguarda dos acontecimentos, em vez de apenas sobreviver “seguindo a manada” em obediência às diretrizes geradas pelo processamento dos novos impulsos.
Em um mercado impulsionado pelo vertiginoso processo de evolução tecnológica que de um dia para outro torna obsoleto o que até ontem era inovador, as técnicas de marketing e gestão devem ser capazes não só de acompanhar e se ajustar a esse ritmo, mas se situar à frente das mudanças, para não ser implacavelmente atropelado por elas.
As pessoas que desenvolvem sua adaptabilidade lançam mão de um mix de iniciativas que envolve curiosidade, espírito inovador e coragem para a resolução de novos problemas em cenários até então desconhecidos, pois a incerteza é uma constante na prática diária.
Cada atitude é precedida por uma análise crítica da situação, que funciona como um amortecedor entre o estímulo e resposta. Pensar e agir sempre racionalmente é a melhor maneira para avançar, identificando sempre as melhores soluções para cada caso. A agilidade para se ambientar em situações inesperadas, avaliar comparativamente as reações possíveis e escolher qual delas é a mais adequada será a chave para o êxito ao lidar com as mudanças.
As pessoas adaptáveis possuem uma amplitude que pode ser chamada de pensamento divergente. Isso permite considerar diversas possibilidades de solução a partir de um único ponto de partida. Por outro lado, é preciso humildade para enxergar e aproveitar fragmentos de boas ideias em seus pares ou até concorrentes, podendo adaptá-las e incorporar a seu favor. Você começa a perder quando se julga o “dono da verdade” e tenta impor seus conceitos qualquer custo.
Os pensadores divergentes propiciam a exploração de múltiplas soluções ao estabelecer com presteza conexões improváveis. Quem faz mais perguntas do que fornece respostas está sempre aberto para encontrar a melhor solução possível para a charada.
Em qualquer setor profissional, é fundamental estar sempre um passo à frente em relação aos demais competidores. Aqueles que optarem por jogar o jogo do conformismo, limitando-se a “cumprir tabela” com o arcaico manual de procedimentos no bolso, estarão destinados a tarefas secundárias, distantes do topo decisório. A competição no mercado de trabalho não é para amadores. Se por um lado a aventura inconsequente de um voo às cegas pode levar ao desastre, a receita cautelosa do tipo “escalda-pés e caldo de galinha” dos nossos avós não funciona mais neste terceiro milênio.
Ao adotar o pensamento divergente e nos abrirmos para enfrentar mudanças inesperadas e situações de risco, abandonamos a mentalidade rígida que torna lenta nossa capacidade de reação aos desafios do nosso tempo.
“Todo fracasso é falha de adaptação, todo sucesso é uma adaptação bem-sucedida”.
Para o autor inglês Max McGewon, o “Adaptative Thinking” não é um bicho de sete cabeças, uma técnica intrincada restrita a “experts”. Segundo ele, qualquer pessoa será capaz de lançar mão de sua capacidade de adaptação para otimizar o nível de seu desempenho em qualquer área ou simplesmente sobreviver. É preciso coragem para encarar os problemas e não esperar que outros os resolvam por você. É preciso resiliência para enfrentar as turbulências e seguir navegando nas ondas da mudança sem largar o timão, por mais assustadores que sejam os ventos e as ondas em meio à tempestade.
Vai valer a pena. As pessoas adaptáveis costumam ser mais felizes e ter melhor autoestima. A confiança em qualquer empreitada só aumenta quando nos mostramos capazes de nos reinventar diante de períodos de dificuldade.
“É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas”
(Saint-Exupéry)
O Adaptative Learning está intimamente ligado às mudanças e à versatilidade da organização diante delas. Para ajudar coaches e líderes a desenvolver esta competência, a FELLIPELLI oferece programas exclusivos: O Líder Emocionalmente Eficiente & Coaching Executivo, duas abordagens revolucionárias da inteligência emocional na liderança fundamentadas nas mais recentes descobertas da neurociência. Consulte-nos!
Tema: Liderança, Coaching.
Subtema: Como se mover em várias direções, em constantes correções de rota, sem perder o foco.
Objetivo: Autoconhecimento, Autodesenvolvimento, Desenvolvimento de Liderança, Coaching, Coaching nas Empresas.