O que eu tenho que eles não têm – As competências que os robôs não dominam… ainda17 min de leitura

A melhor maneira de prever o futuro é inventá-lo.”

– Alan Kay, cientista da computação, em 1971.

Com a tecnologia robótica avançando diariamente a passos largos, dilemas levantados pela inclusão dos robôs na sociedade humana tornam-se cada vez mais presentes. A questão da competição desigual entre humanos e robôs no mercado de trabalho é um ótimo exemplo disso, já que, à medida que engenheiros e cientistas aprimoram seus projetos robóticos, diversas funções e tarefas passam gradativamente a ser desempenhadas por máquinas.

A Inteligência Artificial (IA) está mais perto de nós do que imaginamos. Atualmente, é impensável uma vida sem buscadores como o Google, que utiliza IA para entregar resultados com mais rapidez, ou sem o auxílio do GPS para descobrir a melhor rota entre dois pontos em uma viagem.

O conceito de robótica surgiu há cerca de um século quando, na década de 1920, o escritor tcheco Karel Čapek citou pela primeira vez entidades mecânicas com traços de seres humanos – os famosos humanoides (NPR, 2011).

Essa evolução, porém, está apenas começando. Estudos apontam que a próxima geração será a mais afetada pela tecnologia em toda a história, levando a interação com os robôs a um novo patamar.

Hoje já existem robôs que falam, andam e apresentam comportamentos parecidos com os dos seres humanos. Um recente levantamento do IEEE (Institute of Electrical and Electronics Engineers ou Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos), organização formada por especialistas em desenvolvimento tecnológico, indicou que 40% dos pais da chamada geração Alpha (crianças hoje com oito anos de idade ou menos – nascidas entre 2010 e 2025) substituiriam babás humanas por robôs-babás ou empregariam uma para auxiliar no trabalho com os filhos. A pesquisa ouviu 600 pais norte-americanos com idades entre 20 e 36 anos e ao menos uma criança de oito anos ou menor.

Outro caso interessante é o do robô humanoide Pepper, comercializado pela companhia japonesa Softbank. Pepper ganhou as manchetes dos principais jornais ao redor do mundo por sua função inusitada: atuar como um sacerdote em cerimônias funerárias budistas. Embora ter máquinas substituindo as pessoas não seja algo novo, o que nos assusta nesses casos é o quão “substituíveis” podemos ser – até mesmo para atividades consideradas muito pessoais e afetivas.

Figura 1.0 Pepper: primeiro robô humanoide sociável, capaz de reconhecer rostos e emoções humanas básicas, além de dialogar e interagir através de seu painel touchscreen. Fonte: https://spectrum.ieee.org/automaton/robotics/home-robots/pepper-aldebaran-softbank-personal-robot

Eu, robô

Ainda que pareça ficção, fazer com que máquinas pensem como seres humanos e tornem-se tão inteligentes quanto eles já pode ser uma realidade em alguns aspectos. Por isso mesmo, existem vários ramos de pesquisa em sistemas inteligentes, cada um voltado a um elemento específico do comportamento humano e ao debate de questões éticas e morais.

Membro sênior do IEEE e professor do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Edson Prestes explica que “qualquer tecnologia tem o componente medo, logo não pode ser levada pela euforia. Por isso, é sempre interessante ter cuidado, olhar os dois lados. Sou fã da tecnologia, desde que levados em consideração os aspectos éticos e o lado negativo” (IEEE ROBOTICS & AUTOMATION MAGAZINE, 2017).

Embora a invasão de privacidade, o isolamento e a frieza sejam alguns de nossos principais temores em relação às máquinas, é importante reconhecer também os inúmeros benefícios que elas podem proporcionar. Nesse sentido, Prestes analisa: “Imagina em um ambiente hospitalar ou numa casa de idosos ter a presença de um robô cachorro? Quando lemos, estabelecemos com o personagem fictício das páginas do livro um afeto, o mesmo com objetos que guardamos. Esse tipo de afeto sempre existirá, por que não com uma máquina?”

O problema é que muitos olham para uma máquina como se fosse um liquidificador e concluem ser impossível estabelecer um vínculo emocional”.

Outras pessoas, em contrapartida, tendem a antropomorfizar as coisas, ou seja, dar forma ou características humanas a algo que não é humano. Muitos indivíduos antropomorfizam seus animais de estimação e até mesmo seus automóveis, enquanto as crianças frequentemente não conseguem diferenciar o que é ou não real. Emerson observa: “Então, criar elos com o robô vai existir. É algo interessante? Se pensarmos em pessoas vulneráveis, idosos e crianças sejam sem convívio social, tímidas e com problema emocional, a máquina pode ser uma ferramenta. Por outro lado, se levarmos para o lado da euforia e a interação só ocorrer com o robô, que será quase um ser perfeito, é ruim”.

NESSE CONTEXTO, QUAL É A LINHA QUE SEPARA O BEM DO MAL?

Em “Tempos Modernos”, de 1936, o brilhante cineasta Charles Chaplin faz uma crítica – que permanece atualíssima – à Revolução Industrial. A cena mais emblemática do filme talvez seja a do protagonista Carlitos repetidamente apertando parafusos até ser sugado pela engrenagem de uma máquina gigante. Será que corremos esse risco hoje em dia? Quais serão os impactos da robotização no mercado de trabalho? Sua profissão está ameaçada?

Indústria 4.0

Todas as casas terão um computador conectado ao mundo todo. Haverá informações necessárias para a vida cotidiana como extrato bancário, ingressos de teatro; todas as informações para viver numa sociedade moderna complexa… Haverá uma tela de televisão pequena e um teclado e será possível falar com o computador e receber informações. E vai ser tão natural como o telefone é hoje para nós”.

O visionário escritor britânico Arthur C. Clarke fez essa impressionante previsão em uma entrevista, no ano de 1974 (ACM, 2013). Recentemente, a Singularity University divulgou suas expectativas para os próximos vinte anos. São algumas delas:

2020

  • Diagnósticos fundamentados em IA (Inteligência Artificial) e recomendações terapêuticas serão utilizados na maior parte dos centros médicos.
  • Surgirão os primeiros carros voadores.

2022

  • Impressoras 3D fabricarão roupas e materiais para montagem de casas e prédios.
  • Robôs domésticos trabalharão em alguns lares de média renda.
  • Robôs atuarão como recepcionistas e assistentes de lojas e escritórios.

2024

  • Saber lidar com Inteligência Artificial aumentada será uma exigência para a maioria dos empregos.

2028

  • Robôs terão relacionamentos reais com as pessoas, oferecendo suporte a crianças e idosos, além de cuidar da preparação de alimentos e higiene pessoal.

2032

  • Robôs avatares serão populares e qualquer pessoa poderá teleportar sua consciência para locais remotos ao redor do mundo.

2038

  • A IA e a realidade virtual alavancarão todas as partes da vida humana em todo o mundo.

Quando o assunto é robótica, a realidade já parece estar bem próxima à ficção; de acordo com a Federação Internacional de Robótica (IFR), a quantidade de robôs deve dobrar até 2020, atingindo a impressionante marca de 3 milhões de unidades ativas em fábricas ao redor do mundo.

Figura 1.2 O estoque global estimado de robôs industriais e a previsão de crescimento para os próximos anos, segundo a Federação Internacional de Robótica.
Fonte: https://ifr.org/ifr-press-releases/news/

Grandes impactos são previstos também no mercado de trabalho, com o desemprego de um lado e o aparecimento de novas profissões de outro. Mas como as organizações estão se preparando para esse cenário?

Como realocar os indivíduos que ficarão desempregados? O que esperar em termos de liderança e relacionamento entre seres humanos e robôs nas organizações?

O historiador israelense Yuval Harari aborda essas questões em seu novo livro, “21 lições para o século 21” (Harari, 2018). Nele, Yuval não pretende cobrir todos os efeitos das novas tecnologias, mas sim estimular reflexões simultâneas sobre as fascinantes vantagens e os graves perigos associados a eles. Tratando-se de empregos, Harari faz a seguinte análise:

A perda de muitos trabalhos tradicionais, da arte aos serviços de saúde, será parcialmente compensada pela criação de novos trabalhos humanos. Um clínico geral que diagnostica doenças conhecidas e administra tratamentos de rotina provavelmente será substituído pela IA médica. Mas, justamente por causa disso, haverá muito mais dinheiro para pagar médicos e assistentes de laboratórios humanos que façam pesquisas inovadoras”.

Para o autor, o mercado de trabalho em 2050 se tornará marcado pela cooperação, e não pela competição, entre humanos e IA. Os novos empregos trazidos pela robotização, porém, demandarão altos níveis de especialização, não solucionando, portanto, os problemas dos trabalhadores desempregados e sem qualificações. Esses novos empregos, segundo Harari, exigirão das pessoas uma boa educação, além de formação técnica e capacidade de aprendizagem contínua.

Já Tom Pickersgill, fundador e CEO da Broadstone – empresa que usa a Inteligência Artificial e o aprendizado de máquina para selecionar candidatos a empregos no Reino Unido -, acredita que todas as profissões serão afetadas de certo modo pela IA, porém algumas não poderão ser substituídas pela tecnologia. Pickersgill defende a criatividade como característica básica dos empregos resistentes ao desenvolvimento tecnológico:

Humanos utilizam a sua experiência de vida, suas emoções e sua criatividade para trazer vida às coisas, os robôs, porém, precisam de dados para funcionar. Eu não acredito que esses tipos de dados possam produzir um trabalho genuíno de arte que realmente poderá engajar o público, compartilhando experiências”.

A capacidade de solucionar problemas de forma original, imaginativa e engenhosa é destacada por Mark Williams, responsável pelo projeto People First, que usa um software para auxiliar as atividades humanas. De acordo com ele, “ainda que as máquinas tenham a habilidade de serem mais rápidas do que qualquer ser humano, elas não conseguem fazer análises mais profundas, nem têm especializações e o conhecimento necessário para resolver problemas de produção”.

Admirável mundo novo: trabalho do futuro ou futuro sem trabalho?

A inteligência e a capacidade de abstração sempre foram as principais armas dos seres humanos para ocupar o topo da cadeia alimentar no planeta. Com elas, somos capazes de estimar causas e consequências e elaborar tecnologias cada vez mais sofisticadas. No entanto, segundo alguns cientistas, pode estar próximo o momento em que seremos superados por uma Inteligência Artificial resultante da nossa própria tecnologia.

Sobre isso, o matemático britânico Irving John Good escreveu ainda em 1965: “definamos uma máquina ultra inteligente como aquela que pode superar a capacidade intelectual de todo ser humano, em qualquer atividade. Como o desenho das máquinas é uma dessas atividades, uma máquina ultra inteligente seria capaz de desenhar máquinas ainda melhores, faria uma explosão de inteligência e o intelecto do homem se tornaria incapaz de equipará-lo. Em consequência, a primeira máquina ultra inteligente será o último invento que o homem vai descobrir (…) na verdade, uma primeira constatação que podemos fazer é a de que os avanços tecnológicos desta ultra inteligência seriam de tal calibre que suas consequências humanas e sociais fogem do alcance de nossa capacidade de previsão” (Good, 1966).

A produtividade vem crescendo mais que o emprego há algumas décadas, e mesmo que as novas tecnologias também gerem novas ocupações, acredita-se que o saldo final seja bastante negativo. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) projeta de 2,7 a 3 milhões de novos desempregados em 2018, que se somarão aos 201 milhões atuais. E mais: 42% dos trabalhos atuais são considerados “ocupações vulneráveis”, ou seja, funções que podem ser facilmente desempenhadas por robôs (OIT, 2018).

As indústrias de automóvel e de eletrônicos permanecem sendo os maiores alvos dos fabricantes de robôs. Conforme o World Robotics Report, levantamento anualmente divulgado pela IFR (IFR, 2017 – 2), as vendas de robôs industriais registraram um aumento de 31% entre 2016 e 2017 – de 294 mil unidades para 387 mil.

Figura 1.3 Com o processo de robotização, a produtividade vem aumentando mais que o emprego já há algumas décadas.

De acordo com uma pesquisa em 46 países e mais de 800 ocupações realizada pela McKinsey & Co, até 2030 aproximadamente 800 milhões de pessoas de todo o mundo perderão seus empregos para a automação e os robôs – isso representa mais de um quinto da força de trabalho global atual. E mesmo que a automação seja mais lenta do que esperado, no mínimo 400 milhões de trabalhadores ainda seriam deslocados de seus cargos nos próximos 13 anos (McKinsey & Co, 2017).

Para essas pessoas a boa notícia é que existirão empregos de transição, porém em muitos casos será necessário aprender novas habilidades para executar o trabalho. Assim, ao contrário do que muitos pensam, os robôs podem, em vez de simplesmente tomar postos de trabalho dos seres humanos e causar desemprego, elevar a produtividade geral, liberando as pessoas para executar outras tarefas.

AO AUTOMATIZAR AS TASKS MAIS MECÂNICAS E REPETITIVAS, AS MÁQUINAS PERMITEM QUE OS FUNCIONÁRIOS SEJAM PREPARADOS PARA OUTROS TIPOS DE ATIVIDADES, MENOS OPERACIONAIS E MAIS INTELECTUAIS – ALÉM DE MELHOR REMUNERADAS.

Naturalmente, esse rearranjo no mercado de trabalho deve ser encarado com extrema cautela, envolvendo estudos e debates sobre segurança social e aspectos éticos transacionais. “Todos nós vamos ter que mudar e aprender a fazer coisas novas com o tempo”, afirmou em entrevista Michael Chui, sócio da McKinsey & Co em São Francisco (Bloomberg, 2017).

Sobre humanos e cobots

A maior parte dos CEOS, líderes e gestores crê que, ao longo dos próximos cinco anos, será necessário treinar seus funcionários para acompanhar a adoção de recursos de automação e inteligências artificiais, conforme o último levantamento da consultoria McKinley.

A era digital, diretamente relacionada à otimização dos fluxos de informação ao redor do mundo, vem transformando pensamentos, ferramentas, sistemas, comportamentos e tipos de consumo nos últimos anos. Nesse cenário altamente mutável, a robotização emerge como uma nova grande onda que promete revolucionar nossa vida pessoal e profissional.

No entanto, apesar de já existirem exemplares humanoides, a intenção dos fabricantes não é produzir robôs para substituir as pessoas, mas sim dinamizar as atividades do dia a dia, permitindo que a humanidade dê um salto nas relações trabalhistas e exercite mais a mente do que o corpo. Esse deve ser o papel primordial dos robôs daqui pra frente: assessorar o trabalho humano.

Não por acaso a principal tendência captada pelo World Robotics Report de 2017 foi justamente essa: o papel de destaque dos cobotscollaborative robots ou robôs colaborativos – no processo de human-robot collaboration (IFR, 2017-2).

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Figura 1.4 Human-robot collaboration: cooperação e harmonia entre seres humanos e robôs são elementos-chave para o sucesso corporativo e social.

Os executivos possivelmente estarão entre os primeiros a incorporar essas atualizações. Ainda de acordo com o estudo atual da McKinsey & Co, somente 16% deles assumem estar “muito preparados” para interagir com os novos recursos da automação, enquanto 30% acreditam estar despreparados. A maioria dos entrevistados se vê “um pouco preparada” para lidar com esse aparato.

A McKinsey constatou também que, embora metade das atividades profissionais atualmente desempenhadas por homens possam ser feitas por robôs, apenas 5% dessas ocupações devem ser de fato totalmente automatizadas.

O uso de diversas inovações, como a automatização de tarefas e a IA, é uma realidade na rotina de centenas de milhares de empresas no Brasil e no mundo. Existem, porém, correntes em defesa da valorização das habilidades humanas neste processo, com diversas entidades nacionais e internacionais atuando a favor do planejamento e da ética nessa área. Um grande exemplo disso é a união da empresa de energia portuguesa EDP com a companhia de headhunting Korn Ferry, a consultoria EY e a faculdade especializada em tecnologia Fiap para realizar o pacto Fórum Empresarial de Digitalização Humanizada no Trabalho.

O pacto reúne dez pontos – como observar o fator humano na tomada de decisões sobre o emprego da tecnologia e gerir a velocidade de absorção de mudanças no ambiente organizacional – e deve ser assinado por empresas de vários setores no Brasil. Busca-se assim estabelecer um manual de boas práticas para as empresas, evitando submeter os funcionários a efeitos negativos ao longo do processo de digitalização. Nas palavras de Miguel Setas, presidente da EDP Brasil, “o objetivo dessa cartilha é mostrar que a transição, se bem planejada, pode reduzir as incertezas em torno da robotização. Há benefícios para os trabalhadores” (ISTOÉ Dinheiro, 2018).

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Para saber mais:

  • FORD, Martin. Rise of the Robots: Technology and the Threat of a Jobless Future (English Edition). Basic Books, 2015.
  • DAUGHERTY, Paul R. e WILSON, H. James. Human + Machine: Reimagining Work in the Age of AI.  Harvard Business Review Press, 2018.
  • STEVAN Jr, Sergio Luiz; LEME, Murilo Oliveira; SANTOS, Max Mauro Dias. Indústria 4.0. Fundamentos, Perspectivas e Aplicações. Editora Érica, 2018.
Referências bibliográficas

Tema principal: BIRKMAN®, MBTI®,  INTERACTION STYLE® PROFILE

Subtemas: Empatia, criatividade, habilidades socioemocionais: os desafios da robotização.

Objetivo: Desenvolvimento Organizacional, Neurocoaching, Desenvolvimento de Competências, Inteligência Emocional, Neurociência, Coaching nas Empresas.


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