Como o intraempreendedorismo pode gerar novos modelos de negócio, aperfeiçoar produtos/serviços e alavancar o desempenho corporativo.
“Você não pode impor a produtividade, você deve fornecer as ferramentas para permitir que as pessoas se transformem no seu melhor.”
– Steve Jobs
O movimento de inovação aberta e o surgimento de startups vêm sendo agentes de transformação implacáveis. Nesse cenário, grandes conglomerados corporativos e modelos de negócios tradicionais ficam cada vez mais ameaçados por inovações disruptivas.
Estão surgindo novas formas de disponibilizar produtos e serviços por uma fração do custo das companhias até então líderes de mercado, gerando uma nova realidade de oportunidades, serviços, transparência e renda. Diante disso, muitos empresários ficam como “dinossauros apavorados”: desorientados, em rápido processo de extinção e com aceleradas perdas de valor em seus negócios.
A chamada Uber Economia corresponde a uma série de novos modelos de negócios, startups e aplicativos que desafiam as regulações do mercado e transformam as relações de trabalho.
Criada há apenas sete anos, a Uber já vale cerca US$60 bilhões, ultrapassando várias grandes corporações de diversos setores. Já o Airbnb, aplicativo de hospedagem fundado em 2008, recentemente assinou contrato de US$500 milhões como parceiro oficial dos Jogos Olímpicos de Tóquio e outras Olimpíadas até 2028.
Enquanto a Uber inutiliza as cooperativas de táxi ao conectar quem procura transporte a motoristas cadastrados, o Airbnb liga quem busca hospedagem com proprietários de imóveis, eliminando os serviços de hotelaria. Ou seja, ambos removem intermediários e agrega valor ao serviço prestado, além de oferecerem preços bem menores que os métodos tradicionais.
A revolução digital está em toda parte, transformando a vida pessoal e profissional. Quem não se adaptar pode ter seu negócio/emprego destruído pela próxima onda disruptiva, movimento que já reinventou diversas indústrias.
Ser disruptivo é essencialmente um grande desafio. Muitas empresas em busca de um diferencial capaz de impulsionar seu desempenho e criar vantagem competitiva frequentemente ignoram que ele já pode existir em seus próprios colaboradores. Funcionários engajados, que criam, apresentam e implementam novas ideias, são intraempreendedores.
O termo intrapreneurship(intraempreendedorismo) foi cunhado ,ainda em 1978, por Gifford Pinchot III, empreendedor e cofundador americano do Graduate Institute Bainbridge, atualmente chamado Universidade Pinchot (PINCHOT, 2017).
Trata-se de empreendedorismo interno, ou seja, empreender dentro de uma organização já estabelecida – empresas que incentivam e valorizam as iniciativas empreendedoras de seus colaboradores.
O conceito de intraempreendedorismo vai muito além da “caixa de sugestões” ou de algum programa interno de ideias de funcionários. Para ser verdadeiramente intraempreendedor, o negócio deve promover uma radical mudança cultural interna, que possibilite o desenvolvimento de novas práticas e formas de negócio, além de garantir agilidade na implantação dos projetos.
Geralmente quem trabalha em empresas de grande porte reconhece como principais barreiras à instauração de uma cultura intraempreendedora a burocracia excessiva, a rigidez dos trâmites de decisão e aprovação, os limites impostos pelas descrições de cargos e a baixa tolerância a erros e falhas.
A jornada intraempreendedora, portanto, começa com o rompimento desses paradigmas. Se antes o ciclo externo era fornecedor – empresa – cliente, atualmente é parceiro – empresa – parceiro. As empresas que buscam inovar estão delegando boa parte de suas operações a fornecedores e clientes, dividindo responsabilidades e incorporando valores. Nesse contexto, os avanços tecnológicos também têm facilitado essa postura participativa, viabilizando a entrada de consumidores e fornecedores nos processos organizacionais internos e tornando os limites de interação cada vez mais difusos.
No âmbito da cultura corporativa intraempreendedora, esse movimento é uma tendência também dentro das empresas. Colaboradores de diversos departamentos devem se tornar parceiros da companhia, desfrutando de maior autonomia e poderes para introduzir, negociar e executar projetos de grande valor agregado.
Este processo é comum e espontâneo em algumas startups, nas quais os poucos funcionários existentes assumem diversas funções e possuem canal aberto com os gestores. As grandes corporações, por outro lado, enfrentam desafios muito maiores nesse sentido, precisando superar vários obstáculos técnicos e burocráticos. Como minimizar os riscos relacionados a uma ideia a princípio excelente? Como identificar e recompensar intraempreendedores? Como vencer as limitações impostas por diferentes cargos e departamentos? Como definir a viabilidade de um novo projeto?
A cultura intraempreendedora
“O homem que faz mais do que ele é pago em breve será pago por mais do que ele faz.”
– Napoleon Hill
Acadêmicos, gurus e fundadores de negócios ensinam que desenvolver uma forte cultura corporativa é essencial para o sucesso de qualquer empresa. Brian Chesky, cofundador e CEO do Airbnb, conceitua cultura como “uma orientação comum para agir” (NEIPATEL, 2020). Já Reed Hastings, cofundador e CEO da Netflix, afirma que “culturas frágeis são difusas; as pessoas agem arbitrariamente e não se entendem, e isso se torna uma questão política”.
Em 2014, Chesky e Alfred Lin, ex-presidente da varejista norte-americana Zappos.com, participaram de uma palestra sobre empreendedorismo na Universidade de Stanford. Ao defender a importância de uma cultura intraempreendedora para o desempenho, Lin destacou os seguintes motivos (STARTUP CLASS, 2014):
- Uma cultura intraempreendedora bem definida e propagada fornece os princípios fundamentais que nortearão todas as atividades da companhia;
- Facilita o alinhamento dos funcionários aos valores importantes para a corporação;
- Favorece a estabilidade da rotina de trabalho;
- Estimula a criação de laços de amizade e confiança, mantendo a equipe unida e focada nos objetivos em comum;
- Estabelece uma lista clara e objetiva do que fazer ou não, determinando previamente o que é ou não aceitável (exclusão);
- Permite identificar e reter mais facilmente perfis profissionais proativos adequados para a empresa.
Cabe à organização tornar o ambiente propício ao intraempreendedorismo e criar medidas para que essa cultura seja incorporada e convertida em benefícios para todos os envolvidos.
Se alguém fizesse os seguintes questionamentos a um funcionário aleatório da sua empresa, ele saberia respondê-los?
- Quais são os objetivos da empresa? Como você procura atingi-los?
- Quais riscos aceitáveis você tem aceitado para alcançar esses objetivos mais rapidamente?
- Se for necessário negociar alguns dos valores organizacionais, quais deles serão priorizados?
Intraempreendedores são “sonhadores que realizam”, assumindo a responsabilidade pela formulação de inovações de qualquer tipo dentro de uma companhia. Trata-se do funcionário de qualquer setor ou cargo que concebe como transformar uma ideia em uma realidade lucrativa (PINCHOT, 1989).
Intraempreendedores pesquisam, criam e implementam projetos, analisando cenários e encontrando oportunidades. São capazes de conduzir a organização a novos negócios, além de trazer orientações diferenciadas para a elaboração de produtos, serviços, técnicas, tecnologias e soluções assertivas.
Uma cultura que incentiva o empreendedorismo é um diferencial competitivo ainda ignorado pela maioria das empresas. Muitas delas, no entanto, esperam de seus colaboradores ações intraempreendedoras sem sequer oferecer mínimas condições para tal.
A metáfora do fish tank
A especialista em gestão empresarial Bryn Meredith (2005 apud OSLAND et al., 2017, p. 185) usa uma ótima metáfora para refletir sobre o intraempreendedorismo e como ele pode ser estimulado no meio corporativo:
“Imagine sua empresa como um fish tank (tanque de peixes) que precisa de uma boa limpeza. Você remove todos os peixes e os manda para um spa inovador, onde eles desfrutam de várias atividades e experiências para aprender a desenvolver a criatividade em seu ecossistema (o tanque). Eles ficam maravilhados – alguns até começam a se ver como tubarões! Quando a estadia no spa termina, eles voltam bastante inspirados e energizados, porém a água do velho tanque continua suja e contaminada, enquanto a rotina também segue monótona e massacrante. Cheios de novas ideias, os peixes tentam transmiti-las aos peixes-chefes do aquário, mas eles estão sempre tentando purificar a água e ocupados demais para ouvir. Surgem então rumores de que o tanque atual brevemente será fundido a um outro maior, e todos ficam apreensivos imaginando se o novo tanque será mais limpo ou não, quais peixes já estarão nele e quais peixes não serão transferidos. Paralelamente, a água vai ficando cada vez mais turva, piorando a visibilidade, dificultando a comunicação e gradualmente diluindo toda a animação e iniciativa criativa adquiridas no spa.”
Para promover a inovação e o intraempreendedorismo é necessário primeiro renovar o tanque (a organização), não os peixes (os funcionários)!
Negócios que valorizam e alimentam uma cultura favorável ao intraempreendedorismo detêm uma grande vantagem competitiva frente à concorrência. A FELLIPELLI compreende a importância da inovação no meio corporativo, por isso oferece cursos e assessments exclusivos sobre desenvolvimento pessoal, desenvolvimento de equipes, liderança e diversos outros temas. Consulte-nos! https://www.fellipelli.com.br/
Para saber mais:
- Corporate Entrepreneurship and Innovation. Paul Burns. Red Globe Press, 2020.
- Intrapreneurship: Ignite Innovation! Howard Edward Haller. Silver Eagle Press, 2014.
- Changing Your Company from the Inside Out: A Guide for Social Intrapreneurs. Gerald F. Davis & Christopher J. White. Harvard Business Review Press, 2015.
- Espírito empreendedor nas organizações: Aumentando a competitvidade através do intraempreendedorismo. Marcos Hashimoto. Editora Saraiva, 2013.
- Feitas Para Crescer: Como o Intraempreendedorismo Pode Promover a Inovação e o Desenvolvimento das Empresas. Chris Kuenne & John Danner. Editora Alta Books, 2018.
- Intraempreendedorismo:Conceitos & Práticas Para Construção de Organizações Inovadoras. Editora QualityMark, 2013.
Referências bibliográficas
- PINCHOT, 2017. Acesso em: 10/02/2020.
- NEIPATEL, 2020.Building a Strong Company Culture, with Airbnb CEO Brian Chesky. Acesso em: 10/02/2020.
- STARTUP CLASS, 2014. Everything we know about how to start a startup, for free, from some of the world experts. Acesso em: 10/02/2020.
- PINCHOT, Gifford. Intrapreneuring: por que você não precisa deixar a empresa para tornar-se um empreendedor. São Paulo: Harbra, 1989.
- ROBBINS, Tony. Poder sem limites. Editora BestSeller, 2017.
- ACADEMY OF MANAGEMENT REVIEW, 2009, Vol. 34, No. 3, 511–532. THE NATURE AND EXPERIENCE OF ENTREPRENEURIAL PASSION MELISSA S. CARDON, Pace University; JOAKIM WINCENT, Luleå University of Technology; JAGDIP SINGH, Case Western Reserve University; MATEJA DRNOVSEK, University of Ljubljana. Acesso em: 10/02/2020.
- INC, 2020. Bill Gates Believes to This Day That This 1 Trait Is What Sets Great Leaders Apart. Acesso em: 10/02/2020.
- OSLAND, Joyce S.; MENDENHALL, Mark E.; LI, Ming. Advances in Global Leadership. Emerald Publishing Limited, 2017.
- MASTERS OF SCALE, 2020. Imperfect is
perfect. Mark Zuckerberg,
Founder & CEO of Facebook. Acesso em: 10/02/2020. - MACKEY, John & SISODIA, Raj. Capitalismo Consciente: Como Libertar o Espírito Heróico dos Negócios. Editora Alta Books, 2018.
- CHÉR, Rogério. Engajamento: Melhores práticas de liderança. Editora Alta Books, 2014.
- HOFFMAN, Reid & YEH, Chris. Blitzcaling – o caminho mais rápido para construir negócios extremamente valiosos. Editora Alta Books, 2019.
Tema principal: Cultura Organizacional
Subtema: Intrapreendedorismo: uma cultura a ser vivenciada para alavancar o desempenho corporativo e se tornar um diferencial competitivo.
Objetivo: Desenvolvimento Organizacional, Desenvolvimento de Liderança, Coaching, Coaching nas Empresas.
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