Plano de Contingência para o novo Zeitgeist – Parte 2
Por Adriana Fellipelli, para o Linkedin
Da polarização à interseção
“Quem busca extremos corre o risco de passar da virtude à maldade, já que as paixões costumam levar a ações desmedidas.”
– Nietzsche
Você já reparou que está cada vez mais difícil acompanhar e compreender o que está acontecendo no mundo? Há uma série de situações que a princípio pareciam casos isolados e sem grandes efeitos, mas que repentinamente eclodiram e assumiram proporções enormes, afetando países e até o planeta inteiro – são exemplos claros disso a Primavera Árabe, os protestos antirracistas nos Estados Unidos e, principalmente, a pandemia de Covid-19.
Vivemos tempos de crescente polarização, nos quais achismos, ignorância, inércia e ideologia frequentemente se articulam para nos dar respostas que inicialmente até parecem plausíveis e promissoras, mas são intrinsicamente erguidas sobre os ombros de vieses inconscientes e parcialidades.
Mesmo na vida pessoal, situações consideradas sem importância no passado hoje são motivos de brigas e separações.
Passamos a nos sentir agredidos por assuntos que, antes, eram meros temas de diálogos enriquecedores e amistosos.
Cada vez mais nos incomodamos com pontos de vista divergentes e comportamentos de familiares e amigos, desprezando-os em vez de abraçá-los. Todos os lados usam o mesmo argumento: “Como alguém culto e inteligente pode pensar e agir assim?”. Polarizamos em vez de conciliarmos ideias, criando um terreno fértil para as fake news e o ódio prosperarem. Por que opiniões estão se sobrepondo a fatos? Como os debates criativos se transformaram em embates destrutivos?
Paradoxalmente, enquanto os novos recursos tecnológicos proporcionam cada vez mais estruturas para nos unir, construímos cada vez mais tabus e muros psicológicos, e essa tendência também atinge em cheio o mundo dos negócios.
A polarização nas empresas desencadeia uma impiedosa sequência de destruição de valor: é capaz de corromper o clima organizacional, abrindo espaço para a proliferação de conflitos interpessoais e para a degradação do desempenho e, consequentemente, dos resultados, ampliando a desconfiança nos negócios e ameaçando as já frágeis relações entre organizações e colaboradores.
O caminho para prevenir ou interromper esse processo é o investimento em uma liderança flexível e cooperativa, que compreende a importância de cuidar do capital social e, assim, formar relações de confiança com as pessoas e as comunidades.
Em um mundo em franca polarização, é cada vez mais urgente o desenvolvimento das chamadas soft skills dos líderes a fim de salvar mais carreiras e negócios, promovendo a proteção da saúde física, mental, emocional e econômica.
As crises e os pontos de ruptura são momentos nos quais a qualidade da liderança é ainda mais determinante para o destino de uma companhia.
Um líder capaz de gerenciar o capital humano é aquele que busca ativamente acompanhar as transformações e tendências socioemocionais, valorizando cada funcionário e respeitando a individualidade de todos.
Da “síndrome do ocupado” para a otimização da produtividade
“A questão essencial não é o quão ocupado você está, mas sim com o que você está ocupado.”
– Henry David Thoreau
Você não consegue diminuir o ritmo no trabalho ou dizer não para novas tarefas? Está sempre checando mensagens e e-mails no celular automaticamente, mesmo sem precisar? Faz as refeições assistindo à televisão, lendo um jornal ou navegando pela internet? Caso afirmativo, você provavelmente sofre da “síndrome do ocupado”, uma percepção errônea de que ter qualquer tempo verdadeiramente livre é sinal de preguiça, enquanto a obsessão pelo trabalho é considerada uma virtude.
A hiperconectividade, a necessidade de controlar tudo e a falsa sensação de estar se adiantando na corrida do sucesso são disfarces comuns para problemas emocionais como o medo do fracasso e do tédio, a dor na consciência por não dedicar tempo suficiente à família e a dificuldade de refletir sobre a vida e desfrutar da própria companhia. Ironicamente, estar ocupado – ou parecer estar – tornou-se a desculpa perfeita para qualquer um evitar demanda realmente importante, uma justificativa dada a nós mesmos e aos outros para não lidar com questões mais complexas.
Andamos ocupados demais para sermos produtivos.
Romper com esse padrão exige otimizar nossos esforços em vez de maximizá-los, o que só é possível quando decidimos criar lacunas de agenda para integrar e desenvolver diversas áreas de nossas vidas simultaneamente. Como dizia o escritor inglês G.K. Chesterton, “não é que não conseguimos encontrar a solução. É que não conseguimos enxergar o verdadeiro problema”.
Do vício digital para a construção de conexões reais
“Na era da informação, a invisibilidade é equivalente à morte.”
– Zygmunt Bauman
As redes sociais foram idealizadas para aproximar as pessoas, porém estão distanciando-as no plano das relações humanas. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman afirma que vivemos uma época que escorre pelas mãos, um tempo líquido em que nada é para durar. Hoje, parece não haver nada tão intenso que consiga permanecer e se tornar de fato importante; tudo é dispensável e transitório, inclusive os relacionamentos interpessoais (Bauman, 2000).
Quase não existem mais experiências reais e profundas, é preciso fotografar, filmar, comentar, exibir e comparar – o mais importante não é viver, mas sim poder descrever ao mundo o que se está fazendo.
É o reino do personal branding, ou seja, pessoas se enxergam como produtos e constroem narrativas online para se “vender” aos demais. A busca incessante por likes e seguidores – a nova medida de popularidade – se sobrepõe à profundidade das relações, que frequentemente começam e terminam sem contato pessoal algum. Passamos a analisar o outro por fotos e hashtags, deixando de lado a troca vivida.
Trocas de ideias “olho no olho” e encontros espontâneos nunca foram tão raros.
Com quantas pessoas você já conversou hoje? Não vale Whatsapp, e-mail ou telefone, mas sim tête-à-tête, ouvindo mais do que falando e não apenas dando uma “atençãozinha”, louco para se livrar logo do interlocutor que pode ser um colega de trabalho, um cliente e até mesmo um amigo ou familiar.
Não há receita de bolo para cultivar relacionamentos. A tecnologia é obviamente importante, porém a interação direta ainda é a melhor forma de cativar as pessoas, construindo relações sólidas que assegurarão o sucesso da empresa – que, afinal de contas, é formada por gente.
Do caos emocional para o planejamento equilibrado
“Queremos ter certezas e não dúvidas, resultados e não experiências, mas nem mesmo percebemos que as certezas só podem surgir através das dúvidas e os resultados somente através das experiências.”
– Carl Jung
Como vimos, a necessidade de administrar a avalanche de informações que nos atinge diariamente é uma realidade da era digital. Outro fator relacionado a esse excesso é a chamada síndrome da fadiga informativa, um mal identificado pelo psicólogo britânico David Lewis que assola pessoas que precisam lidar com grandes volumes de dados e acabam ansiosas, insatisfeitas e paralisadas em sua capacidade analítica (Lewis, 1999).
Caos emocional é um estado de confusão e angústia em relação aos acontecimentos externos e às nossas próprias emoções. Aqui ocorre um confronto entre os lados emocional e racional que frequentemente nos leva a perder o controle, guiando o nosso comportamento por impulsos.
Uma ferramenta inovadora e eficiente nesse sentido é a prática de pré-experienciar cenários futuros. O método Futuros Expirenciais (Experiential Futures), originalmente desenvolvido pelos designers Stuart Candy e Jake Dunagan no curso de Estudos de Futuros do Havaí em 2006 (ScienceDirect, 2016),
Em vez de simplesmente remoermos o passado e nos sentirmos impotentes e aflitos diante do porvir, ao praticar esta técnica assumimos uma postura proativa e multidimensional, tomando decisões orientadas por possíveis cenários futuros.
Ao imaginamos elementos afetivos e concretos sobre futuros possíveis, nosso cérebro processa essa informação como uma situação vivida no momento presente, ou seja, são formadas “memórias de futuros”. Aqui o mais importante não é prever com exatidão o que de fato acontecerá, mas sim criar um ambiente de segurança emocional, ficando mais confortável e tranquilo em relação às incertezas e complexidades da vida.
Grande parte dos problemas do mundo tem suas origens em decisões baseadas em vieses inconscientes e guiadas por sentimentos como medo e frustração. Substituir este velho mindset por uma perspectiva mais profunda e criativa pode ser desafiador, mas abre um universo de amplos significados e possibilidades.
Para lidar melhor com a complexidade na sua vida, carreira e/ou empresa, a receita é clara: agilidade, inteligência emocional e técnicas fundamentadas nas últimas descobertas da neurociência para aprimorar os processos de interpretação da realidade e tomada de decisões.
A FELLIPELLI atua com excelência nas diversas áreas relacionadas ao aperfeiçoamento humano, tais como desenvolvimento pessoal e de equipes, liderança, inteligência emocional e muitas outras. Consulte-nos! https://www.fellipelli.com.br/
Referências bibliográficas
- TOFFLER, Alvin. O Choque do Futuro. Editora Record, 1998.
- Universität Bern, 2012. Acesso em: 05/09/2020.
- BAUMAN, Zygmunt. Liquid Modernity. Polity, 2000.
- LEWIS, David. Information Overload: Practical Strategies for Surviving in Today’s Workplace. Penguin Business, 1999.
- ScienceDirect, 2016. Designing an experiential scenario: The People Who Vanished. Acesso em: 05/09/2020.
Tema: Inteligência Emocional, Neurociência.
Subtema: Como viver o Zeitgeist de forma positiva
Objetivo: Autoconhecimento, Autodesenvolvimento, Desenvolvimento de Liderança, Coaching, Coaching nas Empresas.