O homem é um animal político”.
Aristóteles
Considerado polêmico e até mesmo tabu em muitas empresas, o termo política tem sua originado no grego politiká, uma derivação de polis, que significa aquilo que é público. Ou seja, não quer dizer Estado, nem presidente, nem sistema de governo, nem partidos políticos – embora todos sejam agentes políticos, pelo menos no presidencialismo -, mas a forma como ocorre a organização pública, como são desenvolvidas as atividades que afetam diretamente a sociedade.
Em tempos de eleição, debates e ânimos exaltados entre candidatos e eleitores, é fundamental que os líderes organizacionais saibam lidar com a questão política no ambiente de trabalho. Estado máximo ou Estado mínimo, consumo liberado de drogas ou repressão ao crime organizado, permissão ou proibição do aborto… No cafezinho ou na mesa de lado, é normal conversar sobre os assuntos cotidianos, inclusive algum tema relacionado à política.
Por sua natureza sensível e controversa, a discussão política nem sempre é positiva no ambiente corporativo. Sendo assim, pode ser necessário conversar com os funcionários, evitando transformar qualquer interação entre colegas em embate eleitoral. É importante também estimular o bom senso e a reflexão em cada colaborador, propondo questões como: “será que aqui é o lugar adequado para expor minha opinião”? “Alguém que pensa diferente de mim pode se ofender se eu falar isto com estas palavras?”
A atuação profissional não pode se transformar em um comício, nem o posicionamento e as opiniões políticas particulares devem ser necessariamente divulgados. Se o assunto não está fluindo construtivamente, com um mínimo de cuidado e empatia, importantes relações de trabalho e comerciais podem ficar gravemente comprometidas.
Alvo são ideias, não pessoas
O efeito mais comum de abordar política de modo inapropriado no trabalho é o conflito de opiniões que, para alguns, estão acima do indivíduo como um todo, dos seus sentimentos e experiências. Para evitá-lo, a empatia não deve sair de cena quando a política entra, ou seja, o diálogo precisa ser conduzido de modo racional e emocionalmente inteligente.
A FELLIPELLI oferece a ferramenta para gestão de conflitos TKI™, que ocupa posição destacada no mercado internacional há quase quarenta anos. Ela atua avaliando os diferentes tipos de negociações e divergências, apontando técnicas e padrões comportamentais para gerenciá-los adequadamente.
Já a questão da Inteligência Emocional (IE) é tratada através do EQ-i 2.0®, que auxilia a gestão de carreiras e equipes, promovendo relacionamentos sociais mais equilibrados e saudáveis no ambiente corporativo.
É necessário sempre ter em mente que a outra pessoa, mesmo discordando politicamente, também está indignada com algo, também tem críticas e também é sistematicamente atingida pela política. Geralmente existem alguns princípios e teorias apoiados por uma maior quantidade de pessoas, mesmo dentro das organizações. Isso, porém, não deve ser motivo para discriminar quem pensa diferente; na realidade, esse fato representa uma valiosa oportunidade de aperfeiçoar todos os pontos de vista através de uma troca franca e respeitosa de ideias.
A argumentação honesta e gentil torna o debate muito mais produtivo e construtivo. Voltaire (1694-1778), grande ensaísta político francês, dizia: “Para que discutir com os homens que não se rendem às verdades mais evidentes?”.
Conversas sobre política devem ter como objetivo formar um conhecimento mútuo sobre um assunto, através de raciocínios e argumentos plausíveis.
Você tem se posicionado assim quando discute política com seus colegas de trabalho?
Polarização: tomando partido?
Recentemente, a polarização social dominou o Brasil e o mundo, assustando o mercado empresarial. O radicalismo político origina uma grave sequência de destruição de valor: gera instabilidade, estimula a proliferação de discursos populistas e pode deteriorar o ambiente de negócios, abalando o cenário econômico, intensificando desigualdades e aumentando a desconfiança de investidores e consumidores. Dessa forma, ameaça desgastar ainda mais as já combalidas relações entre as organizações e as pessoas.
Nos últimos anos – principalmente a partir do início da Era Trump – as empresas dos Estados Unidos viram-se forçadas a assumir, uma postura diante de temas sociais eminentes (CNBC, 2018). A American Airlines solicitou ao governo norte-americano que não usasse seus aviões para transportar crianças imigrantes separadas de suas famílias, a consultoria McKinsey & Company rompeu relações com a agência de imigração dos EUA, a rede de varejo Walmart elevou a idade mínima para a compra de armas e a locadora de veículos Hertz cortou o desconto tradicionalmente oferecido aos membros da Associação Nacional do Rifle (HBR, 2018).
Várias outras empresas de destaque no cenário empresarial vêm se posicionando nos últimos meses. A maioria dos especialistas considera esse fenômeno uma resposta à polarização política das últimas eleições locais, associada à grande importância que os millennials, também conhecidos como geração Y, dão aos valores corporativos.
As empresas de hoje devem focar-se nas pessoas e no propósito do seu negócio e não apenas nos produtos e no lucro, segundo a quarta edição do estudo Millennial Survey publicado anualmente pela Deloitte. Estas e outras evidências sugerem que as empresas, especialmente as dos mercados desenvolvidos, terão que realizar profundas mudanças para atrair e reter os talentos do futuro.
A Deloitte Global questionou futuros líderes de 29 países sobre a liderança e a forma como as empresas operam e impactam a sociedade. A geração Millennials, que inclui todas as pessoas nascidas após 1982, acredita profundamente (75%) que as empresas estão mais focadas na sua própria agenda do que em ajudar a melhorar a sociedade.
A mensagem é clara: quando pensam nos seus objetivos de carreira, os millennials mostram-se hoje tão interessados em saber como as empresas desenvolvem as suas pessoas e contribuem para a sociedade, como nos seus produtos e lucros,” afirma Barry Salzberg, CEO da Deloitte Global. “Estes resultados devem ser vistos como um sinal para a comunidade empresarial, particularmente dos mercados desenvolvidos, de que é necessário alterar a forma como se relaciona com os talentos da geração Millennial ou corre o risco de ficar para trás.”
Fonte: https://www2.deloitte.com/pt/pt/pages/human-capital/articles/geracao-millennial.html
Esse cenário político norte-americano guarda grandes semelhanças com a atual situação brasileira. A busca por soluções para os problemas socioeconômicos nacionais através de simplismos como “comunistas versus fascistas” e “verde & amarelos versus vermelhos” é contrária à razão, tornando o ambiente emotivo e hostil e impedindo a convergência em torno de uma agenda comum.
Ativismo corporativo: humanizando empresas
Muitos líderes empresariais enxergam a política como uma ameaça, um setor contaminado por clientelismo e corrupção incompatíveis com a essencial boa imagem corporativa. Há ainda quem tema punições governamentais e dos próprios consumidores por posicionamentos políticos. Jorge Paulo Lemann, empresário mais rico do Brasil, segundo a Forbes (2018), destoa dessa tendência, chegando a afirmar recentemente: “Passei a vida fugindo da política. Acho isso errado. Os jovens que têm vocação devem agarrar a oportunidade. É isso que fará diferença, no Brasil”.
Esse civismo empresarial pregado por Lemann manifestou-se recentemente no fórum “Você Muda o Brasil” (2018), realizado em agosto deste ano com a participação de executivos e CEOs como Luiza Trajano (Magazine Luiza), Pedro Passos (Natura), Paulo Kakinoff (Gol), Walter Schalka (Suzano), etc. O principal objetivo do evento foi “refletir produtivamente sobre ética, cidadania e os desafios do país”, sem caráter partidário.
Embora tenha se intensificado nos últimos anos, o ativismo corporativo – bom e ruim – não é exatamente uma novidade. Nos anos sessenta, em pleno movimento dos direitos civis, a rede de supermercados Woolworth, na Carolina do Norte, tentou proibir o acesso de afro-americanos a seus estabelecimentos. Em 1996, a Disney expressou seu apoio aos direitos dos homossexuais ao celebrar o Dia Gay. Isso reflete a crescente pressão social sobre as empresas para que se pronunciem, com consumidores cada vez mais atentos não apenas ao produto, mas também ao comportamento organizacional.
De acordo com Daniel Korschun (Drexel, 2016), pesquisador do ativismo empresarial e professor associado de marketing da Universidade Drexel, as companhias enfrentam o desafio de estabelecer uma relação equilibrada entre seus valores e atitudes. “Em uma de minhas pesquisas, aparecia que os consumidores são capazes de abandonar uma companhia se ela não tomar partido, especialmente se ela defende publicamente certos valores. Consideram-na hipócrita se não agir assim”, diz Korschun.
No Brasil, a onda de engajamento político integra um movimento mais abrangente, provável consequência das grandes manifestações populares de 2013. Trata-se, portanto, de uma impulsão genuína da sociedade civil do país, na qual desperta a consciência de que a solução democrática exige participação política tanto individual quanto corporativa.
As grandes transformações do panorama político no século XXI inverteram a lógica social vigente. Agora, em vez de as pessoas estarem a serviço da empresa, o que algumas companhias já notaram é que cabe a elas adequar-se às novas demandas sociais. Nesse cenário, em que o engajamento dos stakeholders é substituído pelo engajamento dos negócios, líderes de mercado vêm tomando medidas firmes. A Starbucks recentemente empregou 10 mil refugiados, enquanto a marca de cervejas Corona declarou que a América já é grande, envolvendo todo o continente nesse conceito.
Para saber mais:
- Consumo de Ativismo. Izabela Domingues e Ana Paula de Miranda. Estação das Letras e Cores, 2018.
- Politics at Work: How companies turn their workers into lobbyists. Alexander Hertel-Fernandez. Oxford University Press, 2018.
Referências bibliográficas
- Uma analogia entre o mundo corporativo e a política. Disponível em: http://fmn.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788544301937/pages/-2Acesso em: 26/09/2018.
- Cortina, Adela. Neuroética y Neuropolítica. Sugerencias para la educación moral. Editora Tecnos, Madri, 2011.
- Amazonas Atual, 2018. Disponível em: http://amazonasatual.com.br/o-brasileiro-vai-precisar-de-inteligencia-emocional-nessas-eleicoes/ Acesso em: 26/09/2018.
- El País, 2015. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2015/12/16/ciencia/1450280276_883678.html Acesso em: 26/09/2018.
- Revista USP, 2011. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revusp/issue/view/1862 Acesso em: 26/09/2018.
- CNBC, 2018. Disponível em: https://www.cnbc.com/2017/02/24/ceos-need-courage-to-lead-in-the-trump-era-commentary.html Acesso em: 26/09/2018.
- HBR, 2018. Disponível em: https://hbr.org/2017/02/business-leaders-should-stand-up-to-president-trump Acesso em: 26/09/2018.
- FORBES, 2018. Disponível em: https://forbes.uol.com.br/tag/jorge-paulo-lemann/
- Você Muda o Brasil, 2018. Disponível em: https://vocemudaobrasil.com.br/ Acesso em: 26/09/2018.
- Drexel, 2016. Disponível em: https://newsblog.drexel.edu/2016/06/26/corporate-political-activism-why-corporations-are-taking-political-stands-more-than-ever/ Acesso em: 26/09/2018.
Tema principal: Liderança e Gestão de Conflitos
Subtemas: O que as empresas consideram obstáculos e como estão lidando com a polarização política atual.
Objetivo: Gestão de Conflitos, Neurocoaching, Coaching nas Empresas, Team Building, Cultura e Desenvolvimento Organizacional.