Coaching: Um checklist antifraude8 min de leitura

Não existem fórmulas mágicas para o SEU sucesso. Você é único (a)!

“Não há coisa mais fria do que o conselho cuja aplicação seja impossível.”

– Confúcio

Por Adriana Fellipelli para o Linkedin

O psiquiatra suíço Carl Jung já dizia: “O pêndulo da mente humana oscila entre o desejável e o repulsivo, não entre o certo e o errado”. Não é à toa que nossa sociedade ocidental contemporânea vem se tornando cada vez mais uma grande celebração individualista do ego, frequentemente deixando de lado valores mais sólidos como a ética, o autoconhecimento e o propósito de vida.

Hoje, promessas de sucesso instantâneo em todos os âmbitos – o corpo perfeito, o trabalho ideal, o casamento impecável e a conta bancária milionária – pipocam apoderando-se do termo coaching.

Coach é uma palavra inglesa, porém de origem húngara (kocsi). Kocs é uma cidade na Hungria localizada às margens do rio Danúbio que, em meados do século XVI, começou a produzir carruagens que se tornaram muito cobiçadas na época por seu conforto – as chamadas kocsi szeker eram pioneiras no uso da suspensão de molas de aço. O primeiro significado do termo coach, portanto, é carruagem.

Ao longo do tempo, porém, surgiu uma analogia: assim como a carruagem transporta as pessoas a diversos lugares, o coach também atua como um guia, conduzindo os demais pelos vários campos do conhecimento.

Nos últimos anos, o termo coaching foi banalizado e modificado para significar virtualmente qualquer coisa que envolva treinamento individual ou aconselhamento para treinamento em grupo que possa ser comercializado por um preço. Ele se ramificou de tal forma que qualquer pessoa que tenha o desejo de entrar na onda o fará sem quaisquer escrúpulos ou preocupação com profissionalismo, qualificações ou validação científica.

Atualmente há coach de praticamente tudo: relacionamentos, carreira, decoração de ambientes, adestramento de cães e culinária, de vida… – apenas para citar alguns exemplos desta indústria florescente.

Basta dar uma olhada em algumas biografias nas redes sociais e ver quantas pessoas se descrevem como treinadores de “vendas”, “marketing”  e “ganhar dinheiro”, quando, na verdade, a maior parte delas é formada por meros curiosos e/ou oportunistas – alguns vão além e chegam a se referir a si próprios como “gurus”.

Para não cair nessa armadilha, é indispensável conferir sempre os seguintes aspectos:

Figura 1.0 Coaching: ineficaz x eficaz.
  • Coaching de verdade exige especialização, qualificações, experiência e vivência

A maioria dos autoproclamados “coachs” do mercado propõe uma orientação cega para resultados, ignorando estudos psicológicos e os mais recentes avanços da neurociência, além de desconsiderar as particularidades inerentes à personalidade e à história de vida de cada pessoa.  

Figura 1.1 Coaching sem especialização: “confie em mim, Margherite, eu sou arquiteto”. Fonte: New Yorker Cartoons, 2019.

Assim, ao propor objetivos irrealistas – e muitas vezes também fúteis -, esses “gurus” apenas alimentam momentaneamente uma ilusão, desperdiçando uma valiosa oportunidade de compreender as verdadeiras motivações e aptidões do indivíduo.

A Fellipelli atua com excelência na área de desenvolvimento humano por meio da aplicação de técnicas sofisticadas e científicas, testadas e aprovadas anualmente em mais de 2 milhões de pessoas ao redor do mundo. Somos a mais completa empresa de diagnósticos psicológicos, treinamentos, coaching, formação e orientação de carreira do mercado brasileiro, e temos como missão transformar o cliente em protagonista da sua própria existência.

  • Cuidado com a positividade tóxica

Não há nada inerentemente errado com a positividade. De fato, alguma dose de otimismo pode ser uma força do bem que ajuda a motivá-lo para o futuro.

No entanto, a positividade também pode se tornar prejudicial quando não é sincera, contundente ou deslegitima os verdadeiros sentimentos de ansiedade, medo, tristeza ou sofrimento. Neste caso, não é positividade saudável, é tóxica.

Positividade tóxica é a suposição, por si mesmo ou pelos outros, de que, apesar da dor emocional ou da situação difícil de uma pessoa, ela deve ter sempre uma mentalidade positiva ou “vibrações positivas”.

A positividade tóxica pode assumir muitas formas: pode ser um parente que o repreende por expressar frustração em vez de ouvir por que você está chateado, ou um comentário para “ver o lado bom” ou “ser grato pelo que você tem”.

Pode ser um meme que recomenda “apenas mudar sua perspectiva de felicidade”, ou um amigo que posta repetidamente o quão produtivo ele está sendo a despeito de todos os problemas. E pode ser ainda suas próprias crenças internas de que você deve afastar os sentimentos “ruins”.

Com a positividade tóxica, algumas emoções são vistas como inerentemente más, enquanto positividade e felicidade são impulsionadas compulsivamente – e experiências emocionais humanas autênticas acabam negadas ou minimizadas.

A pressão para parecer sempre ok invalida a vasta gama de emoções que todos nós experimentamos ao longo da vida. Isso pode dar a impressão de que você é mau ou ingrato quando se sente angustiado, o que pode ser internalizado na crença central de que você é inadequado ou fraco.

Figura 1.2 Positividade tóxica: “pelo menos nós já estávamos correndo”. Fonte: New Yorker Cartoons, 2019.

Julgar-se por sentir dor, tristeza, ciúme – que fazem parte da experiência humana e são emoções transitórias – leva ao que se chama de emoções secundárias, como a vergonha, que são muito mais intensas e mal adaptativas. Elas nos distraem do problema em questão e não dão espaço para a autocompaixão, que é tão vital para nossa saúde mental.

A positividade tóxica, em sua essência, é uma estratégia de prevenção usada para afastar e invalidar qualquer desconforto interno. Mas ao evitar suas emoções, você na verdade acaba causando mais danos. Em suma: tudo bem não estar tudo bem às vezes.

  • O coaching não deve dar respostas prontas nem fórmulas mágicas para o sucesso

Não acredite em promessas fantásticas e soluções instantâneas e miraculosas para qualquer dificuldade.

Seja no trabalho ou na vida pessoal, todo progresso sempre será resultante da combinação entre profissionalismo do coach e trabalho duro do coachee.

Figura 1.3 O coaching não tem como objetivo dar “receitas de bolo”, mas sim ajudar o coachee a acessar e integrar seus próprios conteúdos inconscientes. Fonte: New Yorker, 2019.

Nesse processo, ao tentarmos entender melhor nossas dinâmicas inconscientes, abrimos a possibilidade de trazê-las à consciência e influenciá-las, ou seja, é possível direcionar ao menos parte dessa poderosa força para atingirmos nossos objetivos.

Uma pista de como conseguir isso é a seguinte: em vez de apenas sentar-se e remoer seus problemas, observe suas ações concretas e perceba até que ponto elas correspondem à sua autoimagem. As pessoas frequentemente se enganam, por exemplo, pensando que são mais altruístas do que realmente são, até notarem que raramente se engajam em trabalhos voluntários ou fazem doações para caridade. Assim, ao analisarem mais cuidadosamente comportamentos e reações, elas podem revisar teorias pré-concebidas sobre a própria personalidade – e promover melhorias.

Paralelamente, o coaching deve ter como um de seus objetivos centrais promover autonomia; ele não deve ser uma “muleta emocional” nem gerar uma relação de dependência, mas sim capacitar e incentivar o indivíduo a caminhar com as próprias pernas.

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Referências bibliográficas

  • New Yorker Cartoons, 2019. Acesso em: 01/12/2020.
  • JUNG, Carl G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Editora Vozes, 2018.

Tema: EQ-i 2.0®, Projeto Emotions

Subtemas: Explorando o universo do coaching, aprendendo a identificar profissionais qualificados.

Objetivo: Coaching, Coaching nas Empresas, Desenvolvimento Organizacional.