Administrando o tempo de forma a ter a sensação de equilíbrio na vida
Por Adriana Fellipelli para o Linkedin
“O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela.”
– Fernando Pessoa
“Já estamos chegando?” – essa é a pergunta que todo pai, mãe ou responsável por uma criança mais escuta durante uma viagem de carro – repetidas vezes em intervalos bem curtos.
Geralmente começamos a aprender o conceito de tempo ainda na infância, entre os 7 e 10 anos de idade. Até então, o tempo era algo completamente fluído e abstrato para nós, que nos concentrávamos plenamente em cada instante e atividade que desempenhávamos. Conforme crescemos, nos encaixamos na necessidade humana de criar demandas de tempo e mantê-las ativas.
Muitas pessoas têm a impressão de que o tempo passa mais rápido a cada ano. E elas não estão erradas – a neurociência já comprovou que a percepção de que o tempo demora a passar na infância e se apressa na vida adulta é tão frequente quanto justificável.
Na infância, um ano corresponde a muito tempo em relação aos poucos anos que temos de vida, percentualmente – um ano é 10% da existência de uma criança de 10 anos, por exemplo, enquanto para alguém de 60 anos, equivale a menos de 2%.
Paralelamente, nós calibramos o tempo por meio de fatos memoráveis, e como menos coisas novas e surpreendentes acontecem conosco conforme envelhecemos, parece que a juventude durou mais. Além disso, a percepção cronológica é mais lenta nas crianças porque a própria transmissão de informações entre os neurônios é mais vagarosa nessa fase, enquanto a atenção, a memória e outras funções do cérebro ainda estão se aperfeiçoando. Quando atingimos a maturidade, os circuitos já estão prontos e sabemos codificar corretamente a passagem do tempo.
Mesmo já crescidos, porém, podemos fazer uma coisa para alterar essa sensação de que tudo acontece rápido demais: praticar o lifelong learning ou a aprendizagem contínua ao longo da vida.
Você está aberto a desenvolver novas habilidades profissionais ou está sempre ocupado ou cansado demais para isso? Incluir novidades na sua rotina sempre que possível destacará as memórias e, de certo modo, esticará o tempo.
“Não posso largar o celular, preciso verificá-lo o dia inteiro. Há um mês, recebi uma ligação do meu gerente. O chefe dele ligou para reclamar que eu não tinha respondido uma mensagem que ele enviara uma hora mais cedo. Por isso, agora não fico mais de 10 minutos sem verificar meus aplicativos e caixas de entrada.”
Diante do cenário prolongado de pandemia e recessão global, esse discurso é cada vez mais comum, e a maioria dos profissionais desenvolveu um medo extremo de perder seus empregos. Afinal, eles não sabem se / quando conseguirão outro, e há altas chances de o novo cargo não pagar o mesmo que o atual, mesmo sendo tão desafiador quanto. Assim, o modo que muitos encontram para combater esse temor é adotar uma postura compulsiva em relação à própria gestão e disponibilidade de tempo.
O chamado Fear of missing out (FoMO) ou medo de ficar de fora se agravou com as alterações de vida impostas pelas restrições de mobilidade e de convivência social. Entre outras coisas, o sentimento geral é de ansiedade, melancolia e apreensão – um terror de perder oportunidades importantes capaz de nos tornar obsessivos e paranoicos – inclusive em relação ao manejo do próprio tempo.
O tempo é um fator psicológico que não pode nem deve ser administrado da mesma forma que fazemos com as coisas tangíveis, como dinheiro, dados e projetos.
Na sociedade contemporânea, a falta de tempo é uma queixa comum, e ela persiste apesar dos inúmeros livros, seminários e workshops sobre o assunto. Por quê? Embora voltados a diversos públicos, todos eles possuem uma equivocada abordagem em comum: o “perfeito equilíbrio na gestão do tempo”.
As emoções desempenham um papel de destaque na nossa percepção temporal. O clichê cinematográfico da batida de carro em câmera lenta, por exemplo, reflete fielmente a forma como processamos a passagem do tempo em situações de alta adrenalina e perigo extremo. Nesses contextos, o “tempo mental” ou a maneira como o cérebro percebe a passagem do tempo realmente desacelera.
Prioridades: contrabalançado oscilações no trabalho e na vida
“Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente. Não ousar é perder-se.”
– Soren Kierkegaard
Nada no mundo jamais alcança o total equilíbrio. Mesmo o que a princípio possa parecer um estado de equilíbrio trata-se na realidade de algo completamente distinto: uma ação de equilibrar – ou seja, na prática, o equilíbrio é um verbo, dinâmico e interativo, nunca um substantivo, estático e imutável. A “vida 100% equilibrada”, portanto, não passa de um mito, e suas origens de fato são antigas: a “média áurea”, um conceito filosófico que corresponde ao centro entre dois extremos, uma posição ponderada entre um estado e outro. Embora a ideia seja interessante, não é nada prática.
Ter uma vida plena não significa ser racional e sensato o tempo todo; na verdade, para alcançar um patamar extraordinário em qualquer área, invariavelmente são necessários sacrifícios de atenção concentrada e tempo.
E tempo aplicado a uma coisa representa tempo descontado de outra – e adeus equilíbrio novamente.
A utópica busca do impecável equilíbrio do uso do tempo encontra-se mais em evidência do que nunca, porém ela está fadada ao fracasso antes mesmo de começar.
Ao longo de milênios, o trabalho era tudo na rotina de nossos ancestrais, que gastavam quase todas as horas que passavam acordados coletando alimentos, pescando ou caçando. Nas últimas décadas, uma revolução tecnológica sem precedentes nos permite desfrutar de conforto e lazer inimagináveis até pouco tempo atrás, porém a crença de que falta algo em nossas vidas nunca foi tão forte. Parece que, em um esforço descomunal para cuidar igualmente de tudo, tudo acaba sendo malfeito e nada recebe a devida atenção.
O maior problema é que a fixação em uma vida equilibrada significa nunca realizar nada nos extremos – e embora nos sintamos mais confortáveis no centro, grandes sucessos só podem ser alcançados justamente nas bordas externas que evitamos a todo custo.
Quando trabalhamos demais, os assuntos pessoais ficam em segundo plano, nos sentimos sufocados e nos queixamos de não ter uma vida. Já ao dedicar-se mais às obrigações pessoais, a carreira sai perdendo e novamente reclamamos de não ter a vida que desejamos. E, finalmente, quando são tantas exigências pessoais e profissionais e tudo sai errado, entramos em colapso e exclamamos: “Não tenho vida!”. ]
Quando nos sentimos desequilibrados, isso não quer dizer necessariamente estar fora do “caminho do meio”, mas sim que nossas prioridades não estão sendo realizadas. Na loucura de tentar fazer tudo e cuidar de cada pequeno detalhe, esquecemos o que realmente importa para nós e perseguimos tarefas e objetivos irrelevantes no longo prazo.
Muitas pessoas se afastam de seus verdadeiros propósitos de vida a ponto de não achar mais o caminho de volta, ou se distanciam por tanto tempo que não resta mais nada esperando quando elas retornam.
A questão não é estar em equilíbrio ou não, mas sim avaliar corretamente: “A oscilação neste assunto deve ser curta ou longa?”. No trabalho, as oscilações podem ser mais prolongadas – atingir a excelência exige desequilíbrios estratégicos por maiores períodos e tudo bem, faça as pazes com essa ideia. Já na vida pessoal, as oscilações devem ser rápidas, porém mais frequentes, e o principal ingrediente é a atenção – família, amigos e autocuidado precisam ser bem contrabalançados para que nunca se negligencie um pelo outro.
No espetáculo de contrabalanceamento da nossa rotina, em vez de procurar o “equilíbrio ideal” entre aspectos tão diferentes como profissão e vida amorosa, cabe a nós tratá-los de modo distinto e prioritário.
Pense em sua própria vida como um jogo em que você faz malabarismos com cinco bolas chamadas trabalho, família, saúde, amigos e integridade. Você mantém todas no ar, porém um dia finalmente descobre que a bola “trabalho” é de borracha, ou seja, se você a soltar, ela vai quicar de volta. Já as outras quatro bolas – família, saúde, amigos e integridade – são de vidro, isto é, se você largar uma, ela será lascada ou até mesmo se despedaçará no chão, sem qualquer possibilidade de conserto.
Muitos empresários de sucesso passam a maior parte da vida como convictos workaholics, sempre crendo sinceramente estar fazendo o melhor pela família. Quando eles finalmente se aposentassem, algum dia, todos passariam tempo juntos, viajariam e colheriam os frutos de tantos anos de trabalho exaustivo.
Você acha que é possível fazer um acordo com o universo para o tempo parar, segurando tudo o que é importante até você poder voltar a viver? Os aniversários, as histórias contadas para o filho antes de dormir, as conversas com pais e avós… Ao jogar com o tempo, você pode acabar não podendo bancar a aposta. Mesmo se acreditar que pode vencer, reflita se está mesmo disposto a viver com tudo o que terá inevitavelmente perdido.
Observe uma bailarina: quando ela fica na ponta dos pés ou en pointe, pode passar a impressão de não ter peso algum e estar graciosamente flutuando. No entanto, se reparar bem, verá suas sapatilhas vibrando agilmente, contrabalançando o tempo todo.
Na vida, é também a capacidade de contrabalançar que cria a ilusão de equilíbrio.
Contrabalançar o tempo é a chave para satisfazer suas verdadeiras prioridades, porém esse processo exige o desenvolvimento de altas doses de autoconhecimento e inteligência emocional. Sabendo disso, a FELLIPELLI oferece os seguintes instrumentos de excelência: o MBTI®, a avaliação de personalidade mais conhecida e mais confiável do mercado, distribuída no Brasil com exclusividade pela FELLIPELLI e o EQ-i 2.0®, assessment mais respeitado do mundo para a compreensão e o desenvolvimento da inteligência emocional.
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Referências bibliográficas
- SCIENCEDIRECT, 2013. Time perception in children: A neurodevelopmental approach. Sylvie Droit-Volet. Acesso em: 26/02/2021.
- PATTERSON, James. O Diário de Suzana para Nicolas. Editora Arqueiro, 2011.
Subtema: Tratando de modo distinto e prioritário os diferentes aspectos da vida.
Objetivo: Autoconhecimento, Autodesenvolvimento, Desenvolvimento de Equipe, Coaching, Coaching nas Empresas.