A síndrome do impostor: um ciclo de medo, baixa autoestima & desqualificação pessoal10 min de leitura

A síndrome do impostor e sua relação com crenças negativas sobre a própria inteligência, habilidades e competências.

“A situação atual de uma pessoa é o reflexo perfeito das coisas em que ela acredita.”

Anthony Robbins

Imagine a seguinte situação: você acabou de apresentar um trabalho e seus colegas vêm cumprimentar você pela ótima apresentação. Em vez de ficar contente e orgulhoso com os elogios, sente-se imediatamente invadido por uma sensação ruim, como se não fosse digno de tanto apreço e tivesse enganado a todos. Se isso acontece frequentemente na sua vida, talvez você esteja sofrendo da chamada “síndrome do impostor”.

Figura 1.0 Síndrome do impostor.

Criado pela psicóloga americana Pauline Clance ainda na década de 1970, o termo representa um problema cada vez mais comum: em uma pesquisa de 2018 com mais de 10.000 funcionários do setor de tecnologia, quase 58% dos entrevistados disseram ter sofrido da síndrome do impostor em algum momento de suas carreiras. Um estudo do mesmo ano, publicado no International Journal of Research in Medical Sciences, relata que impressionantes 93% dos estudantes de medicina pesquisados ​​sentiram efeitos moderados ou graves da síndrome – quase 55% dos quais se enquadraram na categoria grave (INC, 2019).  

As mulheres parecem ser especialmente vulneráveis ​​à síndrome do impostor. Um relatório de 2011 sobre mulheres astrônomas revelou que estudantes do sexo feminino em pós-graduação em astronomia ou astrofísica tendem a se sentir muito mais impostoras do que os alunos do sexo masculino. E, segundo um estudo de 2019 publicado na Studies in Higher Education, havia “níveis elevados de ‘fenômeno impostor’ em amostras acadêmicas femininas, com um efeito estatisticamente significativo nas ‘medidas de motivação’” (INC, 2019).

Os sintomas da síndrome estão relacionados a crenças negativas sobre a própria inteligência, habilidades e competências. Essas ideias, normalmente falsas, mas incrivelmente reais e incômodas para quem as têm, geram um ciclo autodestrutivo.

Figura 1.1 O ciclo do impostor.
  • Medo:

O famoso psicólogo alemão Fritz Perls descrevia o medo como “excitação sem respiração”, pois o corpo humano experimenta as mesmas reações psicológicas tanto para o medo como para a excitação – suor na palma das mãos, estômago sensível e boca seca. Assim, a mente muitas vezes não reconhece a diferença e pode ser sugestionada.

O paradigma da montanha russa demonstra claramente esse fenômeno. Todos os anos, milhões de pessoas buscam prazer brincando na montanha russa, e quanto maior e mais radical ela for, mais medo – e excitação – sentimos. Há explicações biológicas para isso: quando enfrentamos situações difíceis ou ameaçadoras,

A solução para vencer o medo, portanto, é contraintuitiva: expor-se cada vez mais a cenários assustadores. Digamos, por exemplo, que você tema falar em público. Você provavelmente se sentirá nervoso conforme se dirigir ao palanque. Quando sentir medo, lembre-se de que essa emoção não é útil no momento, e em seguida decida qual emoção seria mais eficiente para lidar com esse desafio.

Novos medos quase sempre geram mais insegurança. Assim, ao evitar situações aparentemente complicadas, você vai acumulando temores, enquanto seu cérebro tenta com mais afinco mantê-lo a salvo. O círculo vicioso continua: mais medo demanda mais camadas de proteção

Em uma tentativa inútil de fugir de perigos, seu cérebro constrói um complexo modelo de segurança, uma enorme estrutura repleta de cenários amedrontadores e barreiras – medos – para te defender deles. Trata-se, porém, de uma “fortaleza” instável, pois quanto mais construímos, mais ameaçados nos sentimos e mais pontos fracos expomos.

Figura 1.2 A “fortaleza” instável dos medos.
Fonte: Mentirinhas do Coala. Disponível em: www.mentirinhas.com.br Acesso em: 03/11/2020.

Claustrofóbicos têm medo de lugares fechados; aicmofóbicos temem agulhas ou injeções; e acrófobos têm medo de altura.

Mas e o medo da rejeição social?

A definição de alguns medos é muito mais fluida e subjetiva – algumas pessoas temem o desconhecido, o fracasso, o ridículo, a solidão ou a perda de controle. Quais são os seus maiores medos? Se parece difícil reconhecê-los, isso pode ocorrer devido a outro temor mais abrangente: o medo de encarar os seus medos.

Muitos de nós tememos descobrir quem realmente somos e o que precisamos modificar em nós. Assim, a negação nos possibilita protelar enquanto nos acostumamos a limitar nossa vida para evitar nossos medos.

O medo de enfrentar os seus medos é apenas uma das diversas artimanhas cerebrais para garantir que tudo permaneça estável e sob controle. Por meio desse mecanismo, o cérebro tenta estabelecer um conceito lógico que oculte a verdadeira fonte do seu medo, geralmente originado de outro sofrimento, bem escondido e profundamente enterrado em sua própria mente. É exatamente por isso que os medos são difíceis de revelar: eles estão o tempo todo se camuflando e mudando.

Em sua forma pura, o medo é um instrumento de defesa, que alerta para que você tome as medidas necessárias para evitar o sofrimento – físico ou psicológico.

O próprio sofrimento, porém, também é um mecanismo controlado pelo cérebro – a dor de uma queimadura não acontece na pele, mas sim através de um sinal transmitido para o cérebro, que o rotula como dor.

A dor é só um pensamento e o cérebro pode, até certo ponto, ignorá-la, e você torna-se então capaz de reprimi-la. É isso que os corredores de longas distâncias fazem, por exemplo. Eventualmente, você pode até aprender a apreciar algum nível de dor – a dor muscular após exercícios físicos é algo que aprendemos a gostar porque está relacionada ao aperfeiçoamento e crescimento pessoal.

  • Baixa autoestima:

Carl Rogers, fundador da psicologia humanista, defendia que a raiz da maioria dos problemas na vida de muitas pessoas é justamente a baixa autoestima, ou seja, o desprezo por si mesmo e a crença de não ter valor nem ser digno de admiração e amor. Para ele, o conceito de autoestima resume-se no seguinte axioma: “Todo ser humano, sem exceção, pelo mero fato do ser, é digno do respeito incondicional dos demais e de si mesmo; merece estimar-se a si mesmo e que se lhe estime”.

Rogers observava ainda que a falta de aprovação social e de um apoio emocional adequado, uma triste realidade na vida de tantas pessoas desde a infância, também estava por trás de distúrbios psíquicos como depressão, pânico e ansiedade. Nesse cenário, o Brasil destacou-se como o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo e o quinto em casos de depressão, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (WHO, 2017).

A construção da nossa própria imagem e a influência da opinião de terceiros sobre ela está associada à nossa autoestima. Trata-se de um mecanismo de retroalimentação positiva: se criarmos uma autoimagem positiva e não permitirmos que qualquer julgamento depreciativo dos outros nos afete, teremos infalivelmente uma autoestima elevada.

Desse modo, a visão que estabelecemos de nós mesmos perante outras pessoas (autoimagem) promove a autopercepção e a autoaceitação, aspectos baseados em valores sociais, culturais e familiares que contribuem para nossa saúde física, mental e emocional.

A baixa autoestima origina sentimentos de rejeição, inadequação, medo e angústia, o que pode prejudicar substancialmente a forma como nos relacionamos com os outros.

Indivíduos com baixa autoestima têm o hábito de se autodepreciar e por isso, em geral, acabam atraindo pessoas e relacionamentos interpessoais complicados e muitas vezes tóxicos.

  • Desqualificação das realizações pessoais como oportunismo ou sorte:

Pessoas que sofrem da síndrome de impostor são incapazes de aceitar o próprio êxito, sentindo-se como fraudes por acreditarem que só obtiveram sucesso e ocupam uma posição de prestígio por serem sortudas ou terem enganado os demais, levando-os a crer que são mais capazes ou inteligentes do que de fato são.

O quadro opõe-se a outro fenômeno psíquico, o efeito Dunning-Kruger – fenômeno caracterizado pela superioridade ilusória. Nele, pessoas com baixo nível de especialização e conhecimento em determinada área enxergam-se como superiores aos outros, tomando decisões equivocadas que geralmente levam a fracassos. Nesse caso, o próprio despreparo do indivíduo, aliado a sua arrogância, impede uma visão clara sobre as suas próprias competências.

Atribuição social é o processo por meio do qual tentamos explicar como outras pessoas se comportam e parecem. A crença de que indivíduos ricos assim o são porque possuem talento e trabalham duro, enquanto os pobres vivem mal porque não têm habilidades e não se esforçam o suficiente, é um caso de atribuição social bastante comum.

A atribuição social também é muito usada para explicar o sucesso na vida como resultado de trabalho árduo ou questão de sorte. O fato de o sucesso ser atribuído à qualificação pessoal ou a um golpe de sorte, por exemplo, depende até certo ponto de se o indivíduo em questão é homem ou mulher, uma vez que muitas culturas consideram mais provável que a mulher seja bem-sucedida por obra do acaso e não do talento, um reflexo de sua posição inferiorizada em sociedades dominadas por homens.

Embora esses três elementos sejam fundamentais, o ciclo do impostor envolve diversos outros vícios mentais, como a dificuldade para lidar com as próprias falhas, a autossabotagem, a comparação excessiva com as outras pessoas, o receio constante de ser desmascarado e a busca desenfreada por aprovação social.

Desenvolver uma boa autoestima é fundamental para uma carreira – e uma vida em geral – de sucesso. De nada adianta você ter um grande potencial se não conseguir acreditar nele. Sua autoestima é um fator determinante em seus relacionamentos consigo mesmo, com as pessoas ao seu redor e com o seu trabalho. Para você ser bem-sucedido (a) nessa empreitada, a FELLIPELLI oferece dois instrumentos extremamente efetivos: o MBTI®, valiosa ferramenta de assessment elaborada a partir das teorias de Carl Jung para determinar seu tipo psicológico e o EQ-i 2.0®, assessment consagrado no mundo inteiro para o desenvolvimento da inteligência emocional. .

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Referências bibliográficas

INC, 2019. You’re the Real Deal: How to Combat Imposter Syndrome. While imposter syndrome can affect anyone, it’s especially prominent among high-achieving women. Disponível em: inc.com/rebekah-iliff/youre-real-deal-how-to-combat-imposter-syndrome.html Acesso em: 03/11/2020.

WHO, 2017. Depression and Other Common Mental Disorders. Global Health Estimates. Acesso em: 03/11/2020.

Tema: Projeto Emotions, EQ-I 2.0®, MBTI®.

Subtema: A síndrome do impostor e sua relação com crenças negativas sobre a própria inteligência, habilidades e competências.

Objetivo: Autoconhecimento, Autodesenvolvimento, Desenvolvimento de Equipes, Desenvolvimento Organizacional, Coaching.

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