O reconhecimento e validação dos sentimentos e emoções como chave para fazer escolhas assertivas e tomar decisões
“Triste não é mudar de ideia. Triste é não ter ideias para mudar.”
– Francis Bacon
Os debates na comunidade neurocientífica se dão em cima de várias questões, porém uma é unânime: o cérebro humano está em constante mudança. Apesar disso, as opiniões, crenças e preferências emocionais, sociais, econômicas e políticas estão mais polarizadas do que nunca, revelando uma face dura e inflexível da mente humana.
Nas palavras do poeta português Fernando Pessoa:
“Se há algo de fato estranho e inexplicável é que uma criatura de inteligência e sensibilidade se mantenha sempre sentada sobre a mesma opinião, sempre coerente consigo própria. A contínua transformação de tudo dá-se também no nosso corpo, e dá-se no nosso cérebro consequentemente. Como então, senão por doença, cair e reincidir na anormalidade de querer pensar hoje a mesma coisa que se pensou ontem, quando só o cérebro de hoje já não é o de ontem, mas nem sequer o dia de hoje é o de ontem? Ser coerente é uma doença, um atavismo, talvez; data de antepassados animais em cujo estágio de evolução tal desgraça seria natural. (…) Uma criatura de nervos modernos, de inteligência sem cortinas, de sensibilidade acordada, tem a obrigação cerebral de mudar de opinião e de certeza várias vezes ao mesmo dia.”
Qual é a fonte de todas as transformações do cérebro? Será a natureza ou as experiências vividas que definem como uma pessoa se comporta?
Medir e comparar os efeitos da genética e do ambiente é um pouco como questionar se a largura ou a altura contribuem mais significativamente para a área de um retângulo – obviamente, ambas são importantes.
De acordo com Bill Greenough, um dos pioneiros da Neurociência, as mudanças no cérebro podem ser classificadas como (Greenough & Markham, 2004):
- Mudanças independentes da experiência
Algumas alterações cerebrais ocorrem independentemente daquilo que uma pessoa faz ou de suas experiências. Nos meses seguintes ao nascimento, por exemplo, o cérebro humano cresce enlouquecidamente, passando de 400 gramas a 1 quilo no primeiro ano de vida, e segue se expandindo por vários anos depois. Essa trajetória de desenvolvimento é inerente a todos nós – trata-se de uma tendência da espécie, inata e controlada pelos genes.
- Mudanças a partir de expectativas em relação à experiência
A transformação a partir de expectativas em relação à experiência se dá por meio de uma interação entre fatores genéticos e ambientais. Isso significa que o cérebro está pronto e aguarda que algo aconteça, porém ainda necessita receber estímulos e comandos. Por exemplo, nosso cérebro é naturalmente direcionado à comunicação – ou seja, mesmo sem qualquer treinamento, usaremos gritos, gestos e sinais.
Embora seja configurado para responder quando exposto a uma língua, o cérebro não desenvolverá um vocabulário de fala se não houver incentivo e exposição. Os casos das chamadas “crianças selvagens” são claros exemplos disso; “Genie”, encontrada em Los Angeles em 1970, aos onze anos de idade, trancada em um quarto, cresceu sem interagir socialmente e nunca foi ensinada a falar. Ela se comunicava apenas por rosnados e gemidos e, mesmo com o suporte de psicólogos e linguistas, até hoje só consegue emitir frases quebradas de uma criança de três anos (The Guardian, 2016).
A suscetibilidade ao estresse é outro exemplo de expectativa em relação à experiência: se seus pais possuem um histórico de ansiedade e depressão, será que você também sofrerá do mesmo mal? Embora os genes tenham alguma importância nessa equação, o risco pode ser significativamente reduzido por meio do desenvolvimento da inteligência emocional e de um estilo de vida mais saudável.
- Mudanças dependentes da experiência
Essas modificações resultam 100% das suas experiências de vida. Mudanças cerebrais, em qualquer cenário, referem-se a transformações relativamente duradouras, mensuráveis no mínimo 90 dias após a influência ou evento desencadeador em questão. São exemplos comuns (negativos): traumas, uso abusivo de drogas, danos cerebrais traumáticos, abuso físico ou emocional; e positivos: aprender outra língua, interagir em um novo ambiente, passar um ano em país estrangeiro.
Apesar de vivermos em um mundo incrivelmente complexo, a maioria das pessoas parece dotada de muitas certezas. Basta olhar as redes sociais – de filosofia a política, de como educar os filhos à dieta mais eficaz para perder peso – possuímos fortes convicções sobre praticamente tudo! Você lembra a última vez em que viu um post dizendo: “Eu realmente não tenho uma opinião formada sobre esse assunto”?
Por que mudar dói?
Mudar pode ser exaustivo, não por sentimentalismo ou fraqueza, mas porque de fato provoca desconforto fisiológico. A mudança ativa uma zona do cérebro, o córtex pré-frontal, que funciona como a memória RAM de um computador. Ele é extremamente ágil e apto a resolver vários problemas lógicos simultaneamente, porém tem capacidade finita e, quando chega ao seu limite, produz sensações de cansaço, desconforto e até raiva. Isso ocorre porque o córtex pré-frontal está diretamente conectado à amígdala, o centro emocional do cérebro responsável por gerenciar nossas respostas às emoções.
O córtex pré-frontal costuma “pifar” facilmente porque, para funcionar, ele consome muita energia. Sendo assim, na maior parte do tempo o cérebro utiliza o gânglio basal, uma espécie de hard drive que armazena muito mais dados com menor custo energético. É nessa zona cerebral que ficam guardadas as memórias e rotinas que praticamos diariamente de modo automático, sem precisar pensar.
A interação entre o córtex pré-frontal e o gânglio basal é o elemento-chave por trás da nossa resistência a mudanças – afinal, desempenhar atividades sempre da mesma maneira é muito mais simples e “econômico” do que recorrer ao dispendioso córtex pré-frontal (Bear, Connors & Paradiso, 2017).
Para sobreviver em ambientes repletos de subjetividade e alternativas, o cérebro veio “programado de fábrica” para driblar a cacofonia, criando “certezas” e eliminando dúvidas e ambiguidades.
Mas como isso é possível? Pasme: não se trata do uso de lógica e racionalidade, mas sim da evolução de uma mente humana emocional por excelência.
Nossa natureza emocional, porém, vem sendo depreciada há mais de 2.400 anos. Ainda no século IV a.C., o filósofo grego Platão já apregoava que o ser humano deveria reprimir sua sensibilidade e suas emoções, pois elas o impediriam de agir “moralmente” ou racionalmente. No século XVII, René Descartes, o primeiro filósofo moderno, proferiu sua famosa frase: “Penso, logo existo”. Novamente, o homem era estimulado a analisar, verificar, enumerar, sintetizar – e, para isso, as emoções deveriam ser deixadas de lado.
Nossa face emocional sempre foi vista como algo pouco confiável que deve ser censurado, escondido.
Desde pequenos aprendemos que é necessário “pensar bem” e ser “superior às próprias emoções” para tomar boas decisões – ou seja, os sentimentos tornaram-se o bode expiatório de todas as escolhas ruins.
A atração das mariposas pela luz é um caso interessante nesse sentido. Para nós, elas parecem suicidas ao voarem em direção a uma forte lâmpada. Seria isso um erro evolucionário? Toda criatura não busca sobreviver e se reproduzir? Sim, porém a evolução da mariposa parece estar estacionada, atrasada em relação aos rápidos avanços da sociedade humana. Há milhões de anos, muito antes da invenção da luz artificial, a mariposa desenvolveu mecanismos que a guiavam através da luz solar e das estrelas. Talvez a transição evolucionária desses animais para diferenciar a iluminação natural da artificial esteja acontecendo agora, e provavelmente daqui a mais alguns milhões de anos os descendentes dessas mariposas consigam distinguir facilmente as luzes que os orientam e as que podem matá-los.
Analogamente, a mente humana evoluiu suas emoções e regulações de equilíbrio durante um tempo que antecede, de longe, a complexa cultura contemporânea. A necessidade de mecanismos para analisar e interpretar o mundo ao redor não era maior do que havia para as mariposas de diferenciar a luz celeste da artificial. E, assim como elas, as pessoas não querem se matar; estão apenas seguindo, geralmente de modo inconsciente, instruções que, em algum momento, elevaram suas chances de sobrevivência.
As emoções sempre existiram e, ao contrário do que muitos pregam por aí, podem ser bastante úteis se administradas com sabedoria. E não, elas não necessariamente atrapalham o processo – de fato, sem emoção é impossível decidir.
Essa revelação surpreendente emergiu do caso do neurocientista português António Damásio e seu paciente, Elliot, em 1982. Após a extração de um tumor do córtex cerebral, Elliot tornou-se incapaz fazer escolhas, mesmo as mais banais, como que roupa vestir. Ele se distanciou de tudo, de todos e de si próprio; sua fala era calma e pausada, mas indiferente, e ele não conseguia mais demonstrar sentimentos de tristeza, raiva ou impaciência.
Baseado no estudo desse paciente, Damásio contestou a premissa de que a ausência de emoções é o melhor cenário para tomar decisões: “Um cérebro que não pode sentir não pode decidir”, afirmou (Damásio, 2012).
A capacidade de reconhecer e validar os próprios sentimentos e os dos outros, assim como de se adaptar às mudanças, expressando emoções de forma assertiva, é a chave não somente para escolhas mais sadias, mas também para uma vida mais autoconsciente e realizada.
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Referências bibliográficas
- CARVALHO, Glória Maria Monteiro & MELO, Maria de Fátima Vilar de. Cortesia e heterônimos: notas sobre a contradição em Fernando Pessoa. Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFGD. V. 11, n. 26 (2017). Acesso em: 12/01/2021.
- GREENOUGH, William T. & MARKHAM, Julie A. Experience-driven brain plasticity: beyond the synapse. Neuron Glia Biol. 2004 Nov; 1(4): 351–363. Acesso em: 12/01/2021.
- THE GUARDIAN, 2016. Starved, tortured, forgotten: Genie, the feral child who left a mark on researchers. Acesso em: 12/01/2021.
- BEAR, Mark F., CONNORS, Barry W. & PARADISO, Michael A. Neurociências: Desvendando o Sistema Nervoso. Editora Artmed, 2017.
- DAMÁSIO, António R. O Erro de Descartes. Emoção, razão e o cérebro humano. Companhia das Letras, 2012.
Tema: Projeto Emotions, EQ-I 2.0®.
Subtema: O reconhecimento e validação dos sentimentos e emoções como chave para fazer escolhas assertivas e tomar decisões
Objetivo: Autoconhecimento, Autodesenvolvimento, Desenvolvimento de Liderança, Desenvolvimento de Equipe, Coaching.
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