As emoções femininas no trabalho17 min de leitura

Emoções ligadas à autoestima, segurança, autoconfiança, autoaceitação e outras tantas influenciam a atuação feminina nas organizações.

“Tentar fazer tudo e esperar que tudo possa ser feito da maneira exata é a receita para a decepção. Perfeição é o inimigo.”

Sheryl Sandberg

A participação feminina no mercado de trabalho brasileiro vem se intensificando nos últimos anos. Em 2007, as mulheres correspondiam a 40,8% do mercado formal. Já em 2016, esse número subiu para 44%. Os dados, fornecidos pelo Ministério do Trabalho e baseados em pesquisas do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) e da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), são animadores, porém boa parte das mulheres ainda encontra dificuldades para administrar as próprias emoções e sobreviver no cada vez mais volátil ambiente corporativo. Dentre os principais desafios enfrentados podemos citar:

  • Perfeccionismo

“Lutar por excelência é motivador; lutar por perfeição é desmoralizador”, afirma a psicóloga e escritora norte-americana Harriet Braiker. O perfeccionismo muitas vezes é tratado com alguma condescendência e até encarado como uma qualidade – algumas pessoas até mencionam essa característica em entrevistas de emprego. Os perfeccionistas, contudo, quase sempre acabam sendo vítimas da própria obsessão por evitar falhas e deficiências.

Quem busca o controle de cada pequeno detalhe normalmente enfrenta dificuldades para cumprir prazos, além de desenvolver sérios problemas de saúde como o estresse e a ansiedade.

Especialistas tratam o perfeccionismo como um vício psicológico, explicando que “o medo do fracasso impõe um controle rigoroso, alto nível de exigência e intolerância a erros” (UNED, 1998). Os perfeccionistas também resistem bastante a delegar tarefas e precisam se esforçar muito mais para manter seus relacionamentos interpessoais, uma vez que o excesso de trabalho afeta suas habilidades sociais.

Quando uma mulher é perfeccionista e sofre as consequências disso, buscar ajuda profissional mostra-se essencial. Ao projetar uma intervenção, o especialista se concentrará nos problemas de autoestima que geralmente motivam esse comportamento.

O indivíduo que busca sempre a perfeição e precisa estar no controle o tempo todo também costuma ter uma baixa autoestima.

  • Insegurança

Quando decidem se candidatar a uma vaga de emprego ou promoção, as mulheres geralmente precisam estar certas de que possuem 100% das atribuições pedidas; se tiverem 99%, nem concorrerão ao cargo. Os homens, por outro lado, já se candidatam mesmo tendo apenas 60% das competências. Esses dados, levantados por um estudo global da companhia de tecnologia HP sobre a participação feminina no mercado de trabalho, revelam como as mulheres costumam ser mais inseguras quanto às próprias habilidades (HBR, 2014). 

Mesmo sendo maioria nas universidades brasileiras e investindo pesado na carreira, as mulheres inconscientemente ainda sabotam o próprio desenvolvimento. Talvez essa seja uma das razões pelas quais elas ainda são exceção no alto escalão das companhias – entre as organizações que constituem o Guia VOCÊ S/A – As 150 Melhores Empresas para Você Trabalhar, somente 7% possuem presidentes do sexo feminino (ÉPOCA NEGÓCIOS, 2019).

No livro “A arte da autoconfiança”, as jornalistas norte-americanas Katty Kay e Claire Shipman analisaram a trajetória de mulheres bem-sucedidas profissionalmente em diversas áreas e descobriram que, mesmo quando estavam no auge, elas não se julgavam merecedoras do próprio sucesso, atribuindo-o à sorte – algo que os homens dificilmente fazem (KAY & SHIPMAN, 2015).  

Além do fator comportamental, existem aspectos biológicos por trás desse comportamento. Cientistas afirmam que o estrogênio, principal hormônio sexual feminino, leva as mulheres a criar laços com mais facilidade, mas também dificulta a tomada de decisões e riscos – ações essenciais para ganhar confiança. Além disso, o cérebro das mulheres possui uma amígdala – parte do sistema límbico que processa as emoções – mais ativa do que a dos homens. Por conseguinte, elas acabam perdendo muito mais tempo culpando-se por fracassos do passado e temendo erros futuros.

De acordo com o psicólogo Richard Petty, professor na Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, a confiança representa, basicamente, “a coisa que transforma pensamentos em ação” (OSU, 2009). Para se tornarem mais confiantes, portanto, as mulheres devem parar de pensar tanto e agir. “Viver numa zona de conforto pode se tornar monótono e triste. Portanto, ajam. A ação separa os tímidos dos ousados”, ensinam Katty e Claire em seu livro.

  • Falta de objetividade

Imagine alguém que quer emagrecer, mas não faz ideia de quantos quilos deseja perder até o fim da dieta. Na correria do dia a dia, muitas mulheres – funcionárias e líderes – frequentemente ficam “apagando incêndios”, ou seja, resolvendo os problemas conforme surgem, sem definir previamente seus objetivos, muito menos métodos e prazos para alcançá-los.  

Possuir uma meta de longo prazo, registrada em termos específicos e monetários, fornece um ponto focal que orientará todos os esforços individuais e coletivos. Metas monetárias são particularmente interessantes por serem fáceis de medir e administrar. Se a meta for acumular 10 milhões de reais líquidos no caixa da empresa em 10 anos, por exemplo, todas as escolhas de parceiros, prospectos e projetos serão feitas com base nesse objetivo.

Metas incrementais também são bastante úteis nesse processo, esclarecendo o que é necessário fazer em cada momento, além de ajudar a preservar o senso de propósito e progresso. Quanto a empresa precisa receber por mês no próximo ano? Qual deve ser o preço médio de seus produtos para atingir esse faturamento?

  • Emoções fake

As emoções atuam como mensageiras do self, estabelecendo uma conexão instantânea entre o que vivenciamos e o que esperávamos vivenciar, além de nos comunicar o que nos sentimos prontos para fazer a partir disso.

O modo consciente como as pessoas suprimem a distância entre o que estão de fato sentindo e o ideal que imaginam do que deveriam sentir é o trabalho emocional, que frequentemente mostra-se uma jornada de trabalho à parte.

As mulheres em geral são especialistas nessa atividade de expropriação das emoções “profundas” por meio do aprendizado social de como inibi-las e disfarçá-las. Nessa separação entre o “eu” e “minhas emoções”, a pessoa atua sobre si mesma para adequar os próprios sentimentos ao que considera adequado experimentar e expressar em cada situação.

Figura 1.4 As emoções fake femininas.

No entanto, de acordo com um recente estudo do Eller College of Management, escola de negócios da Universidade do Arizona (EUA), simular emoções no trabalho por questões estratégicas ou para manter uma boa aparência prejudica a progressão da carreira. A pesquisa descobriu que pessoas que são espontâneas também acabam construindo relacionamentos mais próximos e saudáveis, o que pode ajudar a formar um networking poderoso. Já quem manipula demais o lado emocional tende a sofrer efeitos negativos nas relações interpessoais e na própria saúde no longo prazo (UA NEWS, 2020).

  • Síndrome da impostora

Intimamente relacionada à baixa autoestima e à insegurança, a síndrome do impostor ou da fraude é uma desordem psicológica bastante comum no sexo feminino. A mulher em geral possui mais tato e tem um jeito diferente de lidar com os negócios, porém precisa adquirir independência emocional e acreditar no próprio senso de realização, segundo relato da ex-primeira-dama norte-americana Michelle Obama (BBC, 2018):

 “Entrar em uma faculdade de elite, quando o seu orientador vocacional no colégio disse que você não era boa o suficiente, quando a sociedade vê crianças negras ou de comunidades rurais como ‘não pertencentes’… Eu, e muitas outras crianças como eu, entramos ali carregando um estigma. Hoje em dia, crianças mais jovens chamam isso de síndrome de impostor. Sentem que não cabem ali, não pertencem. Eu tive de trabalhar duro para superar aquela pergunta que (ainda) faço a mim mesma: ‘eu sou boa o suficiente?’. É uma pergunta que me persegue por grande parte da minha vida. Estou à altura disso tudo? Estou à altura de ser a primeira-dama dos Estados Unidos?

A psicóloga britânica Rachel Buchan define a síndrome de impostor como “uma crença interior de que você não é bom o suficiente, ou não pertence”. De acordo com Buchan, as mulheres são mais propensas a sofrer desse mal por questões socioculturais, e esses sentimentos, embora mais comuns no trabalho, também podem se manifestar em outras áreas da vida, como o convívio social (RACHEL BUCHAN PSYCHOTHERAPY, 2020). 

A pesquisadora inglesa Kate Atkin dedica-se ao estudo da síndrome de impostor há vários anos e oferece oficinas sobre o assunto. Em seu emprego anterior, Atkin era a única mulher em um time de executivos do banco britânico Barclays, período em que conta ter sofrido com o problema. Para superá-lo, Atkin faz as seguintes recomendações (ATKIN, 2020):

  • Externalize: “Fale sobre o assunto. Se você fala sobre o que está sentindo, logo vai perceber que não é apenas você.”
  • Autoconhecimento: “Reconheça os seus sucessos. Não atribua suas conquistas à sorte ou ao trabalho duro – sem seu talento e suas habilidades, você não teria feito o que fez.”
  • Autoaceitação: “Lembre-se, no entanto, de que ninguém é perfeito. Aceite que há grande probabilidade de você fracassar em algum momento. Aprenda com ele (o fracasso), em vez de encará-lo como um reflexo de você.”
  • Sem comparações: “Pare de se comparar com os outros. Em vez disso, tente se comparar com quem você era no ano passado para ver como progrediu.”

O futuro do trabalho feminino

“Uma mulher sem homem é como um peixe sem bicicleta.”

Gloria Steinem

O impacto que a automação e a inteligência artificial produzirão nas diversas indústrias, setores e funções é um dos temas mais debatidos atualmente. Nesse sentido, a maioria dos especialistas concorda que, brevemente, seremos remunerados não por carga horária e esforço, mas sim por soft skills como criatividade, inteligência emocional e flexibilidade cognitiva.

  • Dê asas à imaginação

Ao pensar no futuro do trabalho, muitas vezes é difícil imaginar algo além de um cenário apocalíptico de robôs e pânico. No entanto, em vez disso, é importante reservar um momento para repensar suas opções, buscando criar novas oportunidades para si mesma.

Para isso, você pode elaborar uma lista de possibilidades que o futuro do trabalho pode reservar para você, sem se preocupar com se ou como elas funcionarão. Em seguida, escolha uma e pense em quais atitudes seriam necessárias para torná-la realidade.

Um bom desempenho laboral exige, antes de tudo, capacidade e disposição para aprender, desaprender e reaprender sempre que necessário. Os aprendizados podem ocorrer em diversas áreas, porém, os mais relevantes serão sobre si mesma, suas metas e as melhores formas de atingi-las.

Networking hoje é um aspecto essencial para garantir a sua próxima posição profissional – interna ou externa. Esse conceito significa encontrar mentores e admiradores, detectar potenciais oportunidades e se conectar com pessoas influentes que podem auxiliar você a chegar aonde deseja. Tratando-se de sororidade, também quer dizer fazer tudo que for possível para ajudar, defender e interagir com outras mulheres ao longo da jornada.

Apesar de todos os problemas, o futuro do mercado de trabalho feminino parece promissor. Kevin O ‘Leary, empresário norte-americano co-fundador da O’Leary Funds e da SoftKey, recentemente disse que prefere investir em empresas com  mulheres no comando, por conta de sua maior produtividade. De fato, das mais de 40 empresas nas quais O’Leary investe, 95% daquelas com liderança feminina alcançaram suas metas financeiras, enquanto as dos líderes do sexo masculino foram 65% (THE SAN DIEGO UNION-TRIBUNE, 2019).

Paralelamente, 50% dos norte-americanos dizem que preferem trabalhar em empresas lideradas por mulheres, uma vez que elas são mais orientadas a propósito e propensas a oferecer igualdade salarial (GALLUP, 2017).

A gestão feminina também está mais alinhada às preferências da geração dos millenials, ou seja, uma empresa que promove a paixão, o trabalho em equipe e a diversidade.

Os 7 princípios de empoderamento das mulheres  

“Eu não estou aceitando as coisas que eu não posso mudar, estou mudando as coisas que eu não posso aceitar.”

Angela Davis

O empoderamento feminino é uma expressão-chave na luta pela igualdade de gênero e vem sendo utilizada pela ONU Mulheres para representar as premissas fundamentais de que as mulheres e meninas ao redor do planeta merecem uma vida livre de violência, discriminação e pobreza. Nesse sentido, a entidade  dedica-se a cinco áreas prioritárias: (1) aumentar a liderança e a participação das mulheres; (2) eliminar a violência contra as mulheres e meninas; (3) engajar as mulheres em todos os aspectos dos processos de paz e segurança; (4) aprimorar o empoderamento econômico das mulheres; (5) colocar a igualdade de gênero no centro do planejamento e dos orçamentos de desenvolvimento nacional

Cientes da relevância do papel corporativo para o feminismo, a ONU Mulheres e o Pacto Global criaram os Princípios de Empoderamento das Mulheres, um conjunto de considerações que auxiliam a comunidade empresarial a incorporar em seus negócios valores e práticas alinhados à equidade de gênero e ao empoderamento de mulheres (ONU Mulheres, 2020):

  1. Estabelecer liderança corporativa sensível à igualdade de gênero, no mais alto nível.
  2. Tratar todas as mulheres e homens de forma justa no trabalho, respeitando e apoiando os direitos humanos e a não discriminação.
  3. Garantir a saúde, segurança e bem-estar de todas as mulheres e homens que trabalham na empresa.
  4. Promover educação, capacitação e desenvolvimento profissional para as mulheres.
  5. Apoiar empreendedorismo de mulheres e promover políticas de empoderamento das mulheres por meio das cadeias de suprimentos e marketing.
  6. Promover a igualdade de gênero por meio de iniciativas voltadas à comunidade e ao ativismo social.
  7. Medir, documentar e publicar os progressos da empresa na promoção da igualdade de gênero.

A ONU Mulheres realiza também o Prêmio WEPS Brasil – Empresas Empoderando Mulheres para incentivar e reconhecer práticas, programas e ações de promoção da cultura da equidade de gênero e empoderamento feminino no país.

A FELLIPELLI  reconhece a importância do papel feminino no mundo e por isso oferece cursos e assessments exclusivos em temas fundamentais como inteligência emocional, desenvolvimento pessoal, desenvolvimento de equipes, liderança e diversos outros.

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Para saber mais:

  • WOMENOMICS: A tendência econômica por trás do sucesso pessoal e profissional das mulheres. Claire Shipman & Katty Kay. Editora Elsevier, 2009.
  • O momento de voar: Como o empoderamento feminino muda o mundo. Melinda Gates. Editora Sextante, 2019.
  • O sexo mais rico: Como a nova geração de mulheres está transformando trabalho, amor e família. Liza Mundy. Editora Paralela, 2013.
  • Clube da luta feminista: Um manual de sobrevivência (para um ambiente de trabalho machista). Editora Fábrica231, 2018.
  • Mulheres e poder: Um manifesto. Mary Beard. Editora Crítica, 2018.
  • Os homens explicam tudo para mim. Rebecca Solnit. Editora Cultrix, 2017.

Referências bibliográficas

Tema: EQ-i® 2.0, MBTI®, BIRKMAN®, TMP®

Subtemas: feminismo, igualdade de gênero, empreendedorismo, carreira, trabalho emocional, maternidade, inteligência emocional.

Objetivo: aprender que, a despeito das dificuldades, o movimento feminista vem ganhando força, abrangendo cada vez mais campos da existência: relações interpessoais, profissionais, políticas, econômicas e afins. Compreender como essa agenda tão viva e urgente influencia o comportamento de homens e mulheres, transformando a sociedade como um todo.

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