A sabedoria de desistir: quando a desistência é sinal de coragem e coerência
Por Adriana Fellipelli, para o LInkedin
“Nada em mim foi covarde, nem mesmo as desistências: desistir, ainda que não pareça, foi meu grande gesto de coragem.”
Caio Fernando Abreu
Recentemente, durante a disputa dos Jogos Olímpicos de Tóquio, a ginasta americana Simone Biles surpreendeu os outros atletas, a mídia e o público ao anunciar sua desistência de competir nas finais da ginástica artística. “Tenho que me concentrar na minha saúde mental”, afirmou Biles, quatro vezes medalhista de ouro nas Olimpíadas. “No final do dia, também somos humanos, então temos que proteger nossa mente e nosso corpo, em vez de apenas sair e fazer o que o mundo quer que façamos”. De fato, às vezes é fácil esquecer que em cada atleta Biles existe uma mulher Simone.
Apesar do choque, esse tipo de decisão não é inédito: em maio, a tenista japonesa Naomi Osaka, número dois do mundo e escolhida para acender a pira olímpica, se retirou do Aberto da França, dizendo querer preservar sua sanidade emocional.
As emoções e o “dilema da desistência” são aspectos que vão muito além do esporte de alto rendimento – eles estão presentes em todas as dimensões da existência de cada um de nós.
Sabe-se que a persistência é, indubitavelmente, uma das principais características de pessoas felizes e profissionais bem-sucedidos. Mas o que pouca gente ainda percebe é que, muitas vezes, o que chamamos de persistência não é mais do que teimosia cega com uma alta dose de medo do fracasso.
Vivemos em uma sociedade que prega e enaltece a insistência como prova de caráter. Mas como saber identificar quando estamos diante de portas trancafiadas, de locais que simplesmente não são para nós?
O filósofo ateniense Sócrates já ensinava que progresso exige adaptação de ideias, ou seja, abandonar padrões previamente estipulados, quando necessário, é evoluir. Ser determinado é ter posturas coerentes, e às vezes isso envolve saber a hora de desistir de algo (Morrison, 2016).
Nessas circunstâncias, “desistir” representa eleger outras prioridades, ações ou execuções, definindo novas rotas e adaptando-se a diferentes contextos.
Desistir, desse modo, nada tem a ver com falta de força de vontade; corresponde, em vez disso, a um desvio de velhas crenças e práticas para novas perspectivas sobre um objetivo maior.
Assim, o ideal é criar o hábito de se questionar periodicamente se o caminho escolhido é mesmo o melhor para alcançar nossas grandes metas, mantendo a mente aberta para desviar ou “desistir” quando isso for o mais inteligente a fazer. Trata-se de desistir dos meios, se preciso, para atingir os fins, a essência. A desistência, portanto, é apenas uma modificação da trajetória idealizada inicialmente.
Quando um avião é forçado a desistir do pouso e arremete, por exemplo, não julgamos o voo um fracasso, mas sim uma mudança fundamental para que o objetivo essencial – a chegada ao destino – ocorra com segurança. Na rotina pessoal e profissional, por outro lado, a simples menção de uma desistência já provoca repulsa, traumas e acusações – ao contrário do piloto de um avião, que é considerado habilidoso e prudente, a pessoa que “arremete” na vida geralmente é julgada como fraca e incapaz.
Esquecemos que toda desistência, por si mesma, abre um vasto leque de novas possibilidades. Não se desiste de um projeto, mas sim “daquele” projeto; não se larga um emprego, mas sim “aquele” emprego, não se termina um relacionamento, mas sim “aquele” relacionamento.
O caso da IBM exemplifica bem essa questão. A empresa americana figurou como a maior fabricante de computadores por várias décadas, porém decidiu vender sua divisão industrial para executivos chineses. Atualmente, segue como uma das mais bem-sucedidas organizações do planeta, porém dedicada agora a serviços. O mais curioso é que a venda ocorreu justamente no melhor momento da empresa, quando seus PCs eram tidos como os mais modernos do mercado.
Ao desistir da atividade que a havia tornado uma potência, a IBM abriu caminho para o desenvolvimento de outras potencialidades internas, gerando um novo foco e fortalecendo ainda mais a companhia como um todo.
Ainda que você discorde dessa escolha, não é razoável dizer que a IBM fracassou por ter alterado seu caminho – de fato, é necessária muita inteligência emocional para saber identificar quando uma desistência é sinônimo de fracasso ou progresso.
As adaptações às diversas condições emocionais, sociais e mercadológicas que se apresentam não são fraquezas, mas sim sinal de flexibilidade e autoconhecimento. Para prosperar em uma era tão volúvel como a atual, desenvolver uma personalidade receptiva a aprendizados e mudanças é indispensável.
Será que você precisa desistir de alguma coisa? Qualquer momento pode ser a hora certa de “desistir” no sentido de ajustar suas atitudes para novos cenários, adotando uma postura mais coerente com as suas verdades atuais. É o tal “dar um passo para trás, para dar dois para frente” – nesses casos, desistir é só para os fortes.
A FELLIPELLI reconhece o papel fundamental do autoconhecimento e da inteligência emocional para a tomada de decisões, por isso oferece dois instrumentos extremamente efetivos para desenvolvê-los: o MBTI®, sensacional ferramenta criada por Isabel Briggs Myers, e sua mãe, Katharine Briggs para identificar os tipos psicológicos a partir dos estudos de Carl Jung e o EQ-i 2.0®, assessment mais respeitado do mundo para a compreensão e o desenvolvimento da inteligência emocional.
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Referência bibliográfica
- MORRISON, Donald R.. Sócrates. Editora Ideias & Letras, 2016.
Subtemas: Desistir, um ato de coragem.
Objetivo: Autoconhecimento, Autodesenvolvimento, Inteligência Emocional, Coaching, Desenvolvimento de Liderança.