Você sabe o que é Segurança Psicológica?7 min de leitura

Sua empresa é psicologicamente segura?

“Nenhuma emoção rouba tão eficazmente à mente todos os seus poderes de ação e raciocínio como o medo.”

Edmund Burke
Figura 1  Insegurança psicológica.

Qual é o peso do seu trabalho? A palestrante Brené Brown descreve o perfeccionismo que tantos de nós carregamos diariamente como “um escudo de 20 toneladas”. Em ambientes laborais hostis, porém, é compreensível que tentemos nos proteger de alguma forma.

Segurança Psicológica é a vulnerabilidade premiada, não punida. A pesquisadora Amy Edmondson a define como a crença compartilhada de que o ambiente permite que riscos interpessoais sejam assumidos (Edmondson, 2023).

Ao contrário do que muitos imaginam, no entanto, segurança psicológica não é imunidade às consequências ou autoestima elevadíssima o tempo todo. De fato, mesmo em locais de trabalho psicologicamente seguros as pessoas ainda estão sujeitas a falhas, feedbacks negativos e eventuais demissões; o que diferencia a empresa com segurança psicológica é que o medo interpessoal não impede ninguém de assumir riscos e ser franco com o resto da equipe.

Segurança psicológica também não é uma diferença de personalidade – colaboradores introvertidos e extrovertidos sofrem com a insegurança psicológica -, mas sim uma característica do local de trabalho que os gestores e business partners (BPs) podem criar, estimular e aperfeiçoar (Gallo, 2023).

Segurança Psicológica & Desempenho

Como vimos, o profissional psicologicamente seguro se sente à vontade para ser ele mesmo e se expressar, relatando dúvidas, preocupações e erros sem temer represálias ou constrangimentos. Nesse sentido, uma ampla pesquisa da Gallup revelou que somente 3 em cada 10 funcionários de diversos setores concordam com a afirmação de que suas opiniões contam no trabalho – e as empresas nas quais esse índice era mais alto, a produtividade era 12% maior e os incidentes de segurança 40% menos frequentes (Gallup, 2017).

Para atingir um desempenho superior, não basta ter um excelente processo de recrutamento e seleção de talentos; é imprescindível fornecer um clima de trabalho psicologicamente seguro, em que os profissionais se sintam à vontade para dar sugestões, inovar e, sobretudo, errar.

Figura 2 Segurança psicológica e padrões de desempenho.

Quando os padrões de desempenho e a segurança psicológica são baixos (canto inferior esquerdo), o ambiente de trabalho vira uma espécie de “zona de apatia”: as pessoas estão fisicamente em seus postos, mas mentalmente em outros lugares.

Já quando os locais de trabalho têm alta segurança psicológica, mas baixos padrões de desempenho (canto superior esquerdo), as pessoas costumam ter um bom relacionamento interno, porém não se sentem suficientemente engajadas ou desafiadas em suas funções – estão na “zona de conforto”.

Um cenário cada vez mais comum atualmente é o do quadrante inferior direito: baixa segurança psicológica e alto padrão de desempenho. Nesse contexto, tanto os funcionários como a qualidade do trabalho sofrem com a incerteza e a ansiedade, e as empresas acabam perdendo ótimas oportunidades de evoluir em seus mercados. Nessa zona de ansiedade, não se trata de pressão por resultados, mas sim da angústia de ter boas ideias e sugestões e não poder compartilhá-las com a equipe por medo de desgastes e críticas.

Finalmente, quando a segurança psicológica e o padrão de desempenho são elevados, chegamos à zona de aprendizado e alta performance: aqui as pessoas se sentem livres e acolhidas para colaborar, aprender umas com as outras e entregar projetos inovadores.

Os 7 Princípios da Segurança Psicológica

“Não somos máquinas pensantes, somos máquinas sentimentais que pensam.”

Brené Brown
Figura 3 Segurança Psicológica.

1. Reação aos erros

Em empresas emocionalmente inseguras, os erros sempre se voltam contra quem os cometeu. As equipes, porém, têm um desempenho muito superior quando os colaboradores percebem que podem agir e falar abertamente, sem medo de serem constrangidos, mesmo quando estão equivocados.

2. Autonomia para apontar problemas

Os membros do time devem se sentir apoiados e seguros o suficiente para expor problemas e dilemas em reuniões. Isso exige um elevado nível de confiança mútua para que as pessoas digam o que pensam e façam críticas construtivas – geralmente é daí que surgem as ideias inovadoras.

3. Abraçar a diversidade

A cultura da diversidade não é uma mera concessão que a empresa faz a expectativas sociais, mas sim um fator indispensável para obter pontos de vista fora dos padrões preestabelecidos e prosperar em um mundo cada vez mais diverso e integrado.

4. Assumir riscos

Os membros da equipe devem estar certos de que podem assumir riscos calculados sem sofrer retaliações.

5. Buscar ajuda

Em equipes psicologicamente seguras, todos devem se mostrar abertos e acessíveis; paralelamente, cabe à gestão criar canais e ferramentas de comunicação que tornem o processo de suporte interno mais dinâmico e eficiente.

6. Respeito mútuo

O respeito recíproco é uma das bases da segurança psicológica, favorecendo a resolução de conflitos e fomentando debates produtivos.

7. Apreciação

Quando os profissionais percebem que suas habilidades são úteis e reconhecidas, eles se sentem cada vez mais motivados a aplicá-las com mais frequência e entregar resultados melhores.

Como o sociólogo canadense Erving Goffman já indicava em seu clássico The Presentation of the Self in Everyday Life (A Apresentação do Self no Cotidiano, em tradução livre), todo ser humano está continuamente buscando influenciar as percepções dos outros sobre si mesmo, regulando e controlando as informações nos relacionamentos interpessoais – e isso ocorre tanto em nível consciente como inconsciente (Goffman, 1959).

Parecer incompetente ou ignorante é um risco interpessoal que todos nós procuramos evitar, especialmente no trabalho. O temor decorrente de ter a imagem arranhada, porém, destrói valor diariamente em milhares de empresas ao redor do mundo. Isso acontece quando, em ambientes de trabalho psicologicamente inseguros, as pessoas acabam paralisadas pelo medo.
Muitos líderes, conscientemente ou não, parecem ainda acreditar no poder motivacional do medo. Eles pensam que, temendo os gestores ou as consequências do baixo rendimento, os funcionários trabalharão duro e o negócio prosperará. Essa filosofia até podia funcionar parcialmente no campo ou no chão de fábrica, onde não eram necessários tanto aprendizado ou cooperação para o sucesso. Hoje, contudo, essa abordagem é desastrosa: diversos estudos neurocientíficos já demonstraram que o medo inibe a aprendizagem e a inovação (PsychCentral, 2022), consumindo recursos fisiológicos e desviando-os de zonas cerebrais que gerenciam a memória de trabalho e processam novas informações. Ou seja, quando estão amedrontadas, as pessoas simplesmente não conseguem desenvolver o pensamento analítico, a percepção criativa e a resolução de problemas.

Seu ambiente de trabalho é um local onde novas ideias fluem livremente e são bem-vindas? Ou são desprezadas e ridicularizadas? Qual costuma ser a reação dos seus colegas e líderes quando você apresenta uma crítica ou reporta um erro?

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