A chave da capacidade de vendas não está na venda de coisas, mas na venda de soluções.”
– John H. Patterson
Talento e paixão por vender são habilidades importantes para um vendedor, porém não determinam sozinhos o sucesso de uma venda. Com a revolução digital e o acesso cada vez mais rápido à informação, torna-se quase impossível fechar um negócio sem que o cliente acredite que aquela solução irá de fato melhorar a sua vida. Nesse cenário, desenvolver técnicas avançadas para estimular as vendas é uma estratégia essencial para qualquer empresa.
Durante o processo de venda, coletar informações sobre o potencial cliente é extremamente necessário por duas principais razões: assegurar a efetividade da venda – a partir de uma clara compreensão do problema, solução e etapas que serão percorridas -, e verificar se a transação realmente é viável ou não.
Seguir esse protocolo é especialmente indicado para vendas complexas, as quais exigem maiores expertise, empenho e paciência do vendedor. Enquanto a venda simples é uma transação geralmente realizada em lojas e shoppings e caracterizada por sua fluidez – já que grande parte dos clientes que visitam esses estabelecimentos já está interessada em algum produto, cabendo ao vendedor apenas convencê-lo a fechar a compra -, a chamada venda complexa envolve vários métodos e processos para ocorrer, ou seja, vai muito além do simples fechamento (HINKELMAN, 2010).
Tratando-se de vendas complexas, uma das metodologias mais famosas é o SPIN Selling, criada na década de 80 pelo consultor norte-americano Neil Rackham. Baseia-se no acrônimo SPIN, que estabelece 4 tipos de perguntas para conhecer as dores do cliente e apresentar o valor da solução oferecida: Situação, Problema, Implicação, Necessidade (RACKHAM, 1988).
- Perguntas de Situação:
Fase inicial da venda, em que é estabelecido o diálogo com o possível cliente. Nesse primeiro momento é fundamental criar uma atmosfera de empatia e confiança, além de reunir informações sobre a situação do consumidor.
A ideia é tentar entender o contexto que o levou a procurar a empresa como possível solução e analisar os detalhes específicos do problema. É interessante também antecipar-se e pesquisar o segmento de atuação e interesses desse potencial comprador antes de marcar uma reunião com ele. Afinal, o cliente geralmente espera que o vendedor demonstre interesse e conhecimento sobre as circunstâncias que o levaram até ali.
- Perguntas de problema:
Descobrir e analisar profundamente o problema do consumidor são passos essenciais para o processo de venda. Aqui, o cliente deve ser estimulado a refletir sobre as dificuldades atualmente enfrentadas e o impacto delas em sua vida, pensamentos que provavelmente o deixarão mais receptivo à solução de venda proposta.
São exemplos de perguntas de problema:
- Quais são os principais empecilhos encarados atualmente?
- Por que essas complicações surgiram agora?
- Como essa situação é contornada hoje?
- Perguntas de implicação:
Uma vez descoberto e estudado o problema, é hora de incentivar o cliente a reagir a ele. Para isso é importante apontar, através de perguntas, eventuais impactos negativos caso o problema atual não seja resolvido. Ao reforçar a gravidade da situação, pode ser útil também citar exemplos de pessoas que tiveram que lidar com grandes adversidades por não terem solucionado problemas parecidos a tempo.
São exemplos de questionamentos eficientes nessa fase:
- Você já considerou as consequências pessoais e globais desse problema no médio/longo prazo?
- O que você/seu negócio estão perdendo por não mudar logo? Qual é o custo de oportunidade dessa situação?
Custo de oportunidade ou Opportunity Cost (OC) é um conceito teórico originado da economia que representa o custo daquilo que se deixa de fazer quando é necessário decidir entre algumas opções. O custo de oportunidade corresponde ao benefício perdido por causa de uma determinada escolha, ou seja, uma oportunidade que deixa de ser utilizada.
O conflito de escolha envolvido nesse processo é conhecido como trade-off e corresponde a uma situação de escolha, quando se ganha algo e se perde outra coisa, sendo aquilo que se perde o chamado custo de oportunidade (BUSINESS DICTIONARY, 2019).
- Perguntas de necessidade:
Na última etapa de perguntas spin selling são feitos os questionamentos de necessidade, nos quais o objetivo é fazer o cliente reconhecer o alto valor da solução oferecida. Essa abordagem deve ser capaz de gerar emoções e efeitos positivos, deixando claro que a compra pode sanar completamente o problema e trazer a harmonia e o sucesso esperados.
Os tipos mais comuns de perguntas de necessidade são:
- Você acredita que é possível solucionar essa questão?
- Como você acha que esse processo deve ocorrer?
- Como seria a sua vida sem esse problema?
Relacionamento com o cliente e fluência situacional
Pare de vender. Comece a ajudar”.
– Zig Ziglar
Hoje em dia, construir uma relação de parceria e cumplicidade com o cliente é um dos principais ingredientes da receita do sucesso em vendas.
Organizações e profissionais de vendas que agem como meros fornecedores estão fadados a perder espaço para aqueles dotados de inteligência emocional e capacidade de interagir de modo mais produtivo e saudável com os consumidores.
Essa é a teoria defendida por Keith Eades, autor do best-seller The Collaborative Sale (“A venda colaborativa”, em tradução livre. EADES & SULLIVAN, 2014), além de fundador e CEO da consultoria Sales Performance International (SPI), baseada em Charlotte, na Carolina do Norte (EUA) (SPI, 2019).
Segundo Eades, organizações e profissionais que atuam apenas como fornecedores não são considerados relevantes pelos consumidores, que não hesitam em substituí-los por concorrentes com preços mais baixos. Para evitar isso, é necessário aperfeiçoar a relação com o cliente, tornando-se um autêntico parceiro e ganhando a confiança do cliente. Os principais meios para isso são ajudá-lo a solucionar seus problemas e agregar valor à sua vida.
Não há dúvida de que um nível mais elevado de relacionamento entre o vendedor e o comprador é excelente para ambos. No entanto, isso requer mais confiança, abertura e compartilhamento de informações úteis. É o que chamamos de transparência. Os vendedores precisam pensar primeiro nos interesses dos clientes, não nos próprios”.
(EADES & SULLIVAN, 2014).
Atingir um maior nível de confiança na relação com o consumidor, porém, geralmente leva tempo e demanda consistência no atendimento, além de entrega de valor e soluções inovadoras e criativas ao cliente. Eades ilustra esse processo como uma escada de relacionamento, na qual o valor para o cliente cresce juntamente com a profundidade dessa interação (EADES & SULLIVAN, 2014):
Fonte: EADES & SULLIVAN, 2014.
Para subir os degraus dessa escada, os profissionais de venda devem estar aptos a transmitir o valor que o produto ou serviço entrega, o que exige investimentos na chamada fluência situacional. Trata-se de um conceito-chave composto pelas cinco maiores qualidades dos melhores vendedores do mercado:
Fonte: Autoria própria.
- Habilidades pessoais:
Também conhecidas como soft skills, as habilidades pessoais são informais e evoluem ao longo da vida do indivíduo. Dizem respeito à aptidão para se envolver positivamente com outras pessoas, criar relacionamentos de longo prazo e formar redes de benefício mútuo, além da capacidade de planejamento e trabalho em equipe.
- Habilidades de vendas:
As hard skills correspondem a capacitações técnicas e formais adquiridas em instituições de ensino, seminários, ambiente de trabalho e treinamentos. Estão relacionadas, entre outras coisas, ao domínio adequado dos atributos do produto ou serviço comercializado, ao conhecimento das práticas de comunicação empresarial e à capacidade de gestão e resolução de conflitos.
- Conhecimento situacional:
Um vendedor familiarizado com os processos organizacionais e o funcionamento do seu mercado de atuação sabe reconhecer padrões e ideias que podem ser úteis para seus clientes.
Jill Konrath, especialista em vendas e autora do livro “Agile Selling” (“Venda Ágil”, em tradução livre), explica que o conhecimento situacional possibilita abordagens de vendas mais seguras e assertivas, uma vez que o vendedor entende o contexto dos clientes e consegue fazer perguntas pertinentes (KONRATH, 2015).
- Conhecimento de capacidade:
As capacidades de um profissional de vendas são determinantes para o seu comportamento e performance. O conceito de capacidade inclui tanto as habilidades naturais quanto as aprendidas e origina as chamadas competências, características de um funcionário que levam a um desempenho acima da média.
- Atitude de colaboração:
A cultura de colaboração é uma tendência dominante no universo corporativo que preconiza a cooperação entre vendedores e consumidores e dentro da própria empresa. Baseia-se na ideia de que é possível crescer juntos, tanto no mercado quanto no quadro interno.
Contribuir para o desempenho do outro é enriquecedor para todos.
A colaboração é uma construção coletiva e incentivá-la traz importantes benefícios, como um ambiente de trabalho saudável e integrado. Além disso, fomentar a cooperação dentro da empresa permite que pontos de vista diferentes criem uma solução conjunta ou atuem no mesmo projeto, testando novas estratégias e compartilhando feedbacks.
Embora envolvam múltiplas técnicas e competências, Keith Eades ressalta que todos os componentes da fluência situacional podem ser desenvolvidos pelos profissionais de vendas, sempre com o auxílio da gestão organizacional. O processo de capacitação dos funcionários passa por mecanismos de avaliação comportamental, autoconhecimento e aprimoramento da inteligência emocional.
Características de vendas
Não encontre clientes para os seus produtos. Encontre produtos para os seus clientes”.
– Seth Godin
Neil Rackham, o pai do SPIN Selling, foi responsável também pela maior e mais conhecida pesquisa sobre vendas já feita em todo o mundo. A investigação, que estudou mais de 35 mil casos de vendas em 20 países, inspirou Rackham a publicar os best-sellers “SPIN Selling” e “Major Account Sales Strategy” (Estratégia de Grandes Vendas, em tradução livre).
Rackham lançou também “Managing Major Sales” (“Gestão de Grandes Vendas”, em tradução livre), obra na qual defende que o produto é um dos elementos menos importantes em uma venda. Para ele, o êxito do varejo está diretamente relacionado à capacidade de conhecer os diferentes tipos de consumidor (RACKHAM & RUFF, 1991).
Antes, vendedores iam até os clientes para falar sobre os produtos. O consumidor não tinha opção a não ser ouvir esses “folhetos falantes” para informar-se. Agora, o consumidor vai para a internet e, em cinco minutos, vê seis opções
. O novo papel do vendedor é criar valor para resolver problemas de clientes. Muitos vendedores sabem apenas como falar sobre produtos”.
(Neil Rackham – Folha de São Paulo Negócios – 24/06/2007)
Independente do mercado de atuação da empresa, sempre será mais fácil vender um produto ou serviço para alguém ajustando a estratégia comercial a cada categoria de consumidor e transação específica.
As vendas são classificadas por características e tipos próprios. Quanto às características, uma venda pode ser:
- Venda transacional:
A chamada venda transacional significa que a relação entre vendedor e consumidor resume-se a uma pura transação comercial, Nela, quem vende disponibiliza um produto padrão, define seu valor comercial e o coloca no mercado, enquanto o cliente precisa dele e está disposto a desembolsar a quantia pedida.
A venda ocorre através do pagamento pelo comprador do valor estipulado pelo vendedor, que entrega o produto ou serviço e conclui a transação. Vendas transacionais também são conhecidas como vendas simples ou diretas.
- Venda consultiva:
Uma venda consultiva implica na necessidade de um processo de aconselhamento do cliente junto ao vendedor para a efetivação do negócio. Assim como acontece nas vendas transacionais, o vendedor possui um produto ou serviço, mas sua oferta ao mercado o descreve como personalizável. O consumidor, por sua vez, procura pelo produto ou serviço anunciado e está disposto a pagar um determinado valor por ele.
Para que a transação comercial se concretize, é necessário um ajuste dos critérios de personalização do produto/serviço, ou seja, o vendedor deverá proporcionar as particularidades exigidas pelo comprador, fato que poderá elevar ou diminuir o valor final do produto.
O fator consultivo frequentemente relaciona-se também à entrega do produto, abrangendo serviços de implantação, configuração e instalação, além da personalização do produto em si.
Essa definição de critérios de personalização é conhecida como levantamento de requisitos e é feita por meio de projetos, reuniões, entrevistas e amostras do produto/serviço.
- Vendas por intermediação:
Na venda por intermediação – também chamada de venda por representação -, o contato entre cliente e vendedor é possibilitado por um terceiro. Normalmente a empresa possui um produto/serviço/conceito próprio mas permite que profissionais autônomos ou franquias o negociem no mercado e recebam comissões por suas vendas.
Tipos de vendas
A vida é sobre criar impacto, não uma renda.”
– Kevin Kruse
Um dos maiores desafios para qualquer empresa hoje em dia é encontrar profissionais que saibam vender. Até mesmo grandes organizações, quando saem em busca de pessoas para compor suas forças de vendas, partem do princípio de que a capacidade de persuasão é algo que cada um já deve possuir previamente.
A habilidade de negociação e a experiência certamente valem muito para trabalhar na área comercial, porém contar somente com o talento individual é um erro primário. Ao fazer isso, a empresa torna-se dependente de processos seletivos intricados, que nem sempre são bem-sucedidos em contratar profissionais qualificados. Ademais, apostar somente em grandes contratações para conquistar clientes e alavancar as vendas é um claro sinal de que a empresa não sabe exatamente o que busca.
Para assumir as rédeas de seu destino e o controle de seus processos e resultados, cabe à organização definir previamente seu perfil de profissional, capacitando-se plenamente a treiná-lo para aplicar técnicas de venda específicas. Assim, vendedores bons tornam-se ainda melhores, enquanto profissionais menos talentosos são ajustados aos padrões e expectativas da marca e seus valores.
Estudos mostram que o instrumento motivacional mais importante em transações complexas é o supervisor de vendas. Passamos muito tempo treinando vendedores quando deveríamos treinar gerentes”.
(Neil Rackham – Folha de São Paulo Negócios – 24/06/2007)
Desenvolver uma abordagem padronizada, criar identificação e uniformizar práticas são Nesse contexto, conhecer todas as formas de negociação e saber qual adotar em cada ocasião é extremamente importante e estratégico.
Tratando-se de tipos de vendas, os mais comuns são:
- Vendas corporativas ou B2B:
Também conhecidas como vendas B2B (Business to Business), as vendas corporativas correspondem à negociação de produtos/serviços entre duas organizações. A jornada de compra das vendas B2B geralmente é extensa e dura, exigindo múltiplas habilidades e apresentando vários desafios para o vendedor, tais como:
- Dominar o segmento de atuação da empresa em que atua e da empresa cliente;
- Conhecer técnicas adequadas de apresentação do produto/serviço e negociação;
- Interagir com as peculiaridades do relacionamento com o cliente e seu mercado.
Uma venda B2B costuma demorar mais para se concretizar, além de possuir um ticket médio maior e mais pessoas envolvidas no processo de negociação e fechamento. Esse tipo de venda geralmente apresenta características transacionais, consultivas e de representação.
Ticket médio é um indicador de performance de vendas. O termo “ticket” diz respeito ao valor consumido em um compra e deve ser calculado dividindo-se o valor monetário das vendas totais pela quantidade de vendas. Outra forma de calcular o ticket médio considera o número de consumidores e o valor médio de suas compras em um determinado período.
É possível também calcular o ticket médio de diversos canais de venda, vendedores e linhas de produtos, entre vários outros casos. O ticket médio é uma importante ferramenta para auxiliar a estabelecer um plano de vendas ou um planejamento estratégico de metas.
- Venda direta ou B2C:
A venda direta ou B2C (Business to Consumer) funciona como um canal de distribuição focado no consumidor final. Nela, a transação ocorre diretamente entre o vendedor e o indivíduo que utilizará o produto ou serviço.
Vendas diretas ou B2C se dão de várias formas, através de lojas físicas ou online.
Os clientes devem ser vistos como parceiros, e não apenas clientes. Um contrato de venda representa uma troca, na qual sua empresa e o consumidor se ajudam mutuamente, ou seja, o sucesso de um está atrelado ao do outro. A FELLIPELLI oferece assessments e cursos exclusivos para tirar o máximo da relação entre vendedores e compradores: EQ-I 2.0® INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, TEAM MANAGEMENT PROFILE® – Desenvolvimento de Equipes, TKI™ – Gestão de Conflitos, entre outros. Consulte-nos!
Para saber mais:
- Inteligência Emocional em Vendas: como os supervendedores utilizam a inteligência emocional para fechar mais negócios. Jeb Blount. Autêntica Business, 2018.
- Alta Performance em Vendas: como fazer amigos e influenciar clientes para aumentar suas vendas. Dale Carnegie and Associates, Inc., J. Oliver Crom e Michael Crom. BestSeller, 2005.
- Sales Management. Simplified: The Straight Truth About Getting Exceptional Results from Your Sales Team. Mike Weinberg. Amacom, 2015.
Referências bibliográficas
-
HINKELMAN, Edward G., 2010. Glossary of International Trade. World Trade Press.
-
RACKHAM, Neil, 1988. Spin Selling. McGraw-Hill.
-
BUSINESS DICTIONARY, 2019. Acesso em: 25/02/2019.
-
EADES, Keith M. & SULLIVAN, Timothy T., 2014. The Collaborative Sale: Solution Selling in a Buyer Driven World.
-
SPI, 2019. Sales Performance International – Outperform.Acesso em: 25/02/2019.
-
KONRATH, Jill, 2015. Agile Selling: Get Up to Speed Quickly in Today’s Ever-Changing Sales World.
-
RACKHAM, Neil & RUFF, Richard, 1991. Managing Major Sales.
-
FOLHA DE SÃO PAULO Negócios, 24 de junho de 2007. Entrevista: Neil Rackham. Vendedor deve mirar o cliente moderno. Acesso em: 25/02/2019.
Tema principal: EQ-I 2.0® INTELIGÊNCIA EMOCIONAL e TEAM MANAGEMENT PROFILE®
Subtemas: SPIN Selling, relacionamento com o cliente, fluência situacional.
Objetivo: Autodesenvolvimento, Desenvolvimento de Competências, Coaching, Coaching nas Empresas, Team Building.