O ser humano ontem e hoje: suas reações aos processos de mudança na história7 min de leitura

Eu amo a Ciência, e me dói pensar que tantas pessoas temem o assunto ou sentem que escolhê-la significa que você não pode escolher a compaixão, ou as artes, ou se maravilhar com a natureza. A Ciência não foi feita para nos curar do mistério, mas para reinventá-lo e revigorá-lo.”

Robert Sapolsky, The Trouble With Testosterone (1997)

O ser humano é produto de incontáveis gerações que geraram proles ligeiramente diferentes a cada passo. Essas ligeiras diferenças, com o passar dos milênios, se acumularam formando profundas mudanças em relação aos nossos ancestrais humanos e outros primatas.

Os seres vivos são verdadeiras máquinas homeostáticas, ou seja, aperfeiçoados pela seleção natural para manter o equilíbrio interno, possibilitando a sobrevivência e reprodução dos mais adaptados.

Nos últimos milênios, primeiramente com a Revolução Cognitiva (surgimento da cultura), seguida da Revolução Agrícola e, por fim, com as Revoluções Industriais, o Homem atingiu patamares antes inimagináveis, passando de simples caçador-coletor para a espécie dominante do planeta, até mesmo aventurando-se a planejar viagens interplanetárias.

Todo esse processo foi muito rápido em termos evolutivos, em que as mudanças significativas ocorreram no decorrer de centenas de milênios.

É de se esperar, portanto, que nossa biologia não tenha conseguido se adaptar às transformações do mundo moderno, já que mecanismos selecionados para a sobrevivência, como medo, estresse e respostas emocionais possam hoje nos causar mal.

Voltando ao passado…

Homo sapiensO ano é 80.000 a.C., um grupo de Homo sapiens com cerca de 20 indivíduos se instala em algum canto da Eurásia. Os homens se organizam para confeccionar lanças, preparando-se para a caçada. As mulheres se dividem entre cuidar das crianças e coletar frutos e ervas. Mas, aquele não era um bom dia: ao anoitecer, uma alcateia se aproxima do local. Uma das mulheres percebe e, tomada pelo medo, anuncia o perigo para todos do grupo. Os adultos primeiramente protegem as crianças e, então, preparam suas lanças para enfrentar os lobos. Durante o enfrentamento, o chefe da alcateia encara os homens, que se encontram com a musculatura enrijecida, semblante ameaçador, respiração ofegante e suor no rosto.

O momento é de tensão para ambas as partes: quem deve atacar primeiro? Após um tempo de hesitação, os homens resolvem agir, avançando em direção aos lobos, apontando suas lanças e gritando seus mantras de guerra. Os lobos tentam revidar e conseguem ferir alguns homens, mas também são feridos, se veem em desvantagem e decidem recuar. Mais uma vitória para aquele grupo, mas nunca se sabe quando um novo ataque poderá surgir — muito menos quem serão os agressores.

Este é apenas um exemplo dos perigos do dia a dia que nossos ancestrais provavelmente enfrentavam. Na situação descrita, uma série de processos fisiológicos e cognitivos ocorre, gerando toda a ação dos seres humanos e lobos.

A confecção de ferramentas é uma das principais habilidades que diferenciam o ser humano dos demais animais: embora existam alguns primatas que utilizam ferramentas rudimentares, como pedras para quebrar nozes, os humanos ancestrais eram capazes de confeccionar objetos elaborados, indo desde a pedra lascada até lanças, martelos e instrumentos musicais.

Essa capacidade existe por conta do complexo encéfalo humano e suas estruturas que permitem processos de alto nível, como planejamento futuro, memória, atenção, coordenação motora, entre outros. Sem as ferramentas, o ser humano não seria capaz de produzir vestimentas, perpetuar o conhecimento através de artesanato e desenhos, consumir alimentos cozidos que fornecem maior quantidade de energia (inclusive para o cérebro) e nem mesmo haveria agricultura.

O cuidado parental também é fruto da nossa biologia: surge da influência da genética e hormônios como a ocitocina, produzida na neurohipófise.

Apesar da ação fisiológica, influências culturais consolidam costumes de cuidado parental, isto só é possível graças à capacidade cognitiva humana.

Nosso cérebro também possui estruturas que agem na produção de comportamentos de defesa e agressão: diante de um estímulo ameaçador como a presença de um lobo, a amígdala entra em ação, produzindo em conjunto com as estruturas límbicas, frontais e periféricas o comportamento de medo.

Essa ativação gera um desconforto no indivíduo, que entra em estado de alerta e deve tomar uma rápida decisão para a sobrevivência. Essa decisão irá variar através das espécies, desde a total imobilidade (freezing) até o ataque. Seres sociais como os humanos, quando em grupo, adotam a estratégia de comunicar aos demais a ameaça, de forma que a luta pela sobrevivência ocorra em conjunto, aumentando as chances de se sair vivo.

É chegada a hora do enfrentamento: os níveis de cortisol estão em seu pico, gerando o estresse necessário para deixar o organismo em alerta e preparado para o conflito. Todos os sistemas antes descritos agem em conjunto para que uma decisão seja tomada e comece o ataque. Aqui também se diferencia o ser humano: suas estruturas corticais bem desenvolvidas permitem a criação de estratégias elaboradas e um maior controle das emoções, de forma que a ação escolhida tenha um baixo custo energético e altas chances de sucesso.

Toda essa experiência cria uma forte memória do momento, fazendo com que os indivíduos tenham maior chance de sobrevivência em situações futuras semelhantes. Além disso, o ser humano também perpetua suas vitórias através de histórias, desenhos e rituais, fazendo com que suas memórias e experiências transcendam seu tempo de vida.

Voltemos para o presente…

DemissãoQuantas vezes na sua vida você passou por essa situação? Se você vive em qualquer lugar que não seja uma tribo de caçadores- coletores, provavelmente a resposta é “nenhuma”. Porém, quantas vezes você foi rejeitado em uma vaga de emprego, se deparou com uma enorme aranha na sua sala, foi demitido ou recebeu um feedback negativo no trabalho?

Essas situações são apenas algumas que passamos nos dias de hoje e nos provocam grande desconforto, mesmo que nossas vidas não sofram tanto risco quanto às de nossos ancestrais num ataque de lobos.

O que acontece é que as situações mudaram, mas nosso sistema nervoso está alinhado com as situações primitivas de perigo, então coisas “pequenas” podem provocar malefícios às nossas vidas, como o estresse, a ansiedade e traumas.

O estresse e ansiedade eram úteis para os nossos ancestrais porque garantiam a sua reação diante das citadas ameaças, mas, hoje, eles podem produzir doenças psicossomáticas, compulsões, síndrome do pânico e outros traumas.

O que é possível fazer para evitar esses problemas?

Hoje existem muitos métodos sendo pesquisados, e, além disso, existem estudiosos — os chamados futuristas — que preveem até mesmo substâncias químicas que possam aprimorar nosso desempenho cognitivo e sejam uma forma de prevenir transtornos psíquicos, neurológicos e ampliar a qualidade de vida.

Enquanto esse futuro não chega, outros pesquisadores e neurocientistas estudam extensivamente meios de melhorar o nosso agora.

Porém, o ponto de partida para a prevenção e cuidados que nos levam ao bem-estar e a uma melhor qualidade de vida é o autoconhecimento, que que está diretamente relacionado à Inteligência Emocional e ao relacionamento interpessoal.

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Para saber mais:

  • Harari, Y. N. (2015). Sapiens: uma breve história da humanidade. L&PM.
  • Kandel, E., Schwartz, J., Jessell, T., Siegelbaum, S., & Hudspeth, A. J. (2014). Princípios de Neurociências-5. AMGH Editora.

Tema: NLI®, Inteligência Emocional.

Subtema: A importância da Ciência na reinvenção da nossa história.

Objetivo: Autoconhecimento, Autodesenvolvimento, Coaching, NeuroCoaching, Coaching nas Empresas, Relacionamento Interpessoal, Team Building.

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