Não mais Millennials, agora Perennials – O que isso significa para as organizações13 min de leitura

O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos.”

– Eleanor Roosevelt (1884-1962)

 

Qualquer pessoa com acesso à internet provavelmente já se deparou algumas vezes com termos como “millennial”, ou “geração Y”. Mas quem são os millennials afinal e por que é feita essa distinção de gerações?

Segundo o Centro de Pesquisa Pew, em Washington, nos Estados Unidos, são considerados millennials todos os indivíduos nascidos entre 1981 e 1996 (Pew, 2018). Essas pessoas vivenciaram a explosão da internet, substituindo a enciclopédia, utilizada na infância, por ela para fazer os trabalhos de escola durante a adolescência.

A diferenciação de gerações auxilia os pesquisadores a classificar cada período histórico de acordo com seus principais eventos e inovações tecnológicas, compreendendo como a população que cresceu em cada época pensa e age.

Figura 1.0 Baby Boomers, Geração X, Geração Y e Geração Z.

 

Por terem nascido em um período de profundas e aceleradas inovações tecnológicas, os millennials são tidos como antenados, flexíveis, confiantes e criativos. Mas será que a idade é mesmo um fator tão determinante dos traços de personalidade e comportamentais de uma pessoa?

 

Perennials: a geração ageless

Para Gina Pell, chefe de conteúdo da The What, uma “lista inteligente para pessoas curiosas” (The What, 2018), padrões geracionais não são adequados para indicar as características e qualidades de alguém. Em vez deles, Pell recomenda a análise do conceito de perennial.

O nome perennial foi cunhado pela própria Gina e citado pela primeira vez em uma matéria da revista Fast Company, no final de 2016. Desde então, o termo popularizou-se rapidamente, marcando presença nas páginas de jornais, como The Telegraph e El País.

De acordo com Gina, perennial é um indivíduo cujo estilo de vida contém gostos e hábitos de diversas faixas etárias. Esse movimento, portanto, não está fundamentado em aspectos cronológicos, mas sim em identidade social. A antropóloga carioca Hilaine Yaccoub acrescenta: “Quem puxa a fila são as mulheres acima dos 40. Quando chegam a essa idade, alcançam um grau de maturidade em que a aprovação dos outros deixa de ser imprescindível. Elas ficam mais leves, mais donas de si e bancam suas escolhas, mesmo que discordem da maioria”.

 

O conceito de Perennials – cuja tradução é literal: perenes – surgiu como um contraponto à tendência de categorizar as gerações por idade e características relacionadas ao seu tempo, mais especificamente aos Millennials, ou à Geração Y. Os perennials não pertencem a uma geração específica: são indivíduos de qualquer idade, atualizados tecnologicamente e com amigos também de qualquer idade.

Trata-se, portanto, de uma geração que representa um novo lifestyle ageless – estilo de vida sem idade ou atemporal. Em 2017, a SuperHuman, agência de marketing britânica especializada no público feminino, identificou uma tendência que já é muito presente na prática: tornou-se ultrapassada entre as mulheres a ideia de meia-idade. Mais de 500 mulheres acima de 40 anos foram ouvidas no Reino Unido, e os resultados indicaram que dois terços delas creem estar no auge da vida, enquanto 67% declararam se sentir mais confiantes do que há dez anos e 84% defendem que a idade não pode defini-las. “Ter passado dos 40, hoje, é muito diferente do que 15 anos atrás . Essas mulheres têm sede de experiências tanto quanto as millennials”, constata Sandra Peat, cofundadora da SuperHuman.

 

Figura 1.1 Perennials.

 

96% das mulheres com mais de 40 anos não se sentem de “meia idade”; 80% acreditam que os pressupostos da sociedade sobre as mulheres de meia idade não representam suas vidas; 67% se consideram em sua plenitude de vida (SuperHuman, 2018).

 

Sua empresa está preparada para os perennials?

Com a recente perda de fronteiras entre gerações, etapas de vida muito marcadas no passado tendem a se confundir cada vez mais. Em um cenário no qual as gerações se alargam e a juventude também, já cogita-se a existência de uma quarta idade para as muitas pessoas que ultrapassam idades bastante avançadas. Também parece não haver mais uma dependência clara entre beleza e juventude – as pessoas se cuidam desde cedo e não raro passam dos 50 anos com uma aparência incrivelmente bem preservada.

A curva demográfica atual aponta que vamos viver mais tempo e, em cinco anos, o mundo terá mais 200 milhões de mulheres economicamente ativas com idade superior a 60 anos (IE/UFRJ, 2012).

O combustível que move essa nova geração de perennials é a vontade de viver, ousar, desenvolver novas habilidades, assumir riscos e se reinventar. Dotadas de alma jovem, essas mulheres permanecem produtivas e possuem uma rotina leve e independente.

Gustavo Pessoa, psicólogo e mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela USP, afirma que pessoas de todas as faixas etárias podem apresentar comportamentos adaptados ao século XXI (ou aos millennials), como o respeito à diversidade, à valorização de perfis e às diversas competências. “E podem, ainda, questionar o status quo e desejar relações mais horizontais, além de um cotidiano menos engessado por regras e costumes que inibem a individualidade. Esses são os perennials”, completa Pessoa (NaPrática.org, 2016).

Segundo Pessoa, a sociedade busca manter certos valores que guardam algum grau de funcionalidade e preservam sua produtividade. Sendo assim, sempre haverá crítica ao aparecimento de outros que possam gerar transformações sociais. “Mas essa forma de se situar no mundo, sem estar preso a uma definição geracional, chegou para ficar”, atesta.

Pessoa diz ainda que, para o mercado, faz muito sentido compreender uma série de comportamentos e valores relacionados a um grupo de pessoas que não se defina por idade, etnia, gênero ou classe social. “Alguns movimentos já existem, como o Lowsumerism e o Unclassed, que buscam entender as pessoas e as individualidades para além de pré-categorias e, portanto, desenvolver outras formas de atingi-las com produtos e propostas de trabalho.”

Os perennials demonstram baixa fidelidade a marcas, produtos e até mesmo relações interpessoais devido às contínuas e fartas chances de mobilidade. No entanto, isso não representa, na visão de Pessoa, uma ausência total de padrões:

Eles demoram mais tempo para se situar, já que as classificações são pós-estabelecidas em vez de pré. Mas é bastante estimulante viver dentro dessas condições”.

No contexto de estratégia de negócios, desenvolver essa nova cultura, abertura e interação é essencial para qualquer empresa ou grupo de pessoas que pretende sobreviver e evoluir, tendo em vista que as revoluções ocorrem em frações de tempo cada vez mais reduzidas.

 

O poderoso mercado 50+

No ano de 2025 estima-se que existirão 35 milhões de pessoas com mais de 60 anos no Brasil e, em 2050, um em cada três habitantes pertencerá a essa faixa etária. Com cada vez maior longevidade, qualidade de vida, autonomia e independência financeira, essas pessoas se tornaram uma enorme fatia do mercado consumidor, contrariando a antiga imagem brasileira de país de jovens. Esse grupo demográfico – o que mais se expande no Brasil e no mundo atualmente – parece ser menos afetado por crises econômicas e pode representar uma grande oportunidade para as organizações capazes de avaliar, entender e suprir suas demandas e desejos específicos.

 

Um recente levantamento no Rio Grande do Sul sobre a quantidade de mulheres acima dos 50 anos que tiram a primeira habilitação confirma a força dos perennials (Diário Gaúcho, 2016). Em cinco anos, o número de habilitadas nessa faixa etária subiu 40%, como demonstrado no quadro a seguir:

Esse segmento também encontra-se em expansão no âmbito profissional. Até 2020, os trabalhadores norte-americanos com 55 anos ou mais equivalerão a 25% da força de trabalho, em comparação aos 13% registrados no ano 2000, conforme pesquisa do Centro de Estudos sobre Longevidade de Stanford (Stanford Center on Longevity, 2017).

Além disso, segundo uma publicação da Easy Life Cover, vários grandes negócios nos Estados Unidos foram criados por indivíduos com mais de 50 anos de idade (Easy Life Cover, 2014). Nessa lista, temos nomes como Colonel Sanders, do KFC (Kentucky Fried Chicken), Raymond Kroc, fundador da maior rede de fast food do mundo, o McDonald’s, e John Pemberton, criador da Coca Cola, que, junto com o McDonald’s, figura no top 5 das marcas mais valiosas do planeta. Ao iniciarem seus negócios, eles tinham 65 anos, 52 anos e 55 anos, respectivamente.

 

Figura 1.2 Colonel Sanders: o fundador da rede de fast food estadunidense KFC tinha 65 anos ao abrir o negócio.

 

Mas o que torna esses “cinquentões” tão produtivos e bem-sucedidos no trabalho? Melhores cuidados com a saúde e maior escolaridade são frequentemente apontados como alguns dos principais motivos. Além disso, as profissões modernas envolvem atividades mais intelectuais e menos físicas, graças à automação e aos novos recursos tecnológicos disponíveis.

A Inteligência Emocional (IE) é outra razão importante, tendo em vista que a maioria das profissões exige, além de capacitações técnicas, um bom nível de IE.

Hoje em dia, ser emocionalmente apto passou de diferencial competitivo a pré-requisito, sendo inclusive um aspecto eliminatório em muitos processos seletivos.

Nesse sentido, uma pesquisa da Universidade de Berkeley revela mais uma vantagem para os mais velhos, indicando que o pico da nossa Inteligência Emocional se dá por volta dos 60 anos de idade (UC Berkeley. 2010).

Um estudo da empresa norte-americana de Recursos Humanos Manpower em 31 países também confirma o papel de destaque dos 50+ no mercado de trabalho. Entre os 30 mil empregadores entrevistados, 13% pretendiam contratar profissionais mais experientes, enquanto 20% planejavam ainda contar com eles após a idade de aposentadoria (Wharton University of Pennsylvania, 2010). Esses números estão crescendo, porém ainda estão distantes do cenário encontrado no Japão, onde até 83% das organizações adotam estratégias para manutenção dos funcionários em idade de aposentadoria que, diferentemente daqui, ocorre apenas após os 61 anos.

Diversas empresas brasileiras já perceberam o nicho dos perennials e vem disponibilizando vagas para esse público. A Gol Linhas Aéreas Inteligentes, por exemplo, lançou em 2017 o Programa “Experiência na Bagagem”, que integra a frente de inclusão e diversidade da empresa, chamada “Braços abertos para todos” (Voe Gol, 2017).

De acordo com Jean Nogueira, diretor-executivo de gente e cultura da Gol, mesmo antes do surgimento desse programa, a Gol já apresentava em seu quadro de funcionários vários colaboradores com idade superior a 50 anos. “Isso surgiu quando, por meio de estudos internos, constatamos que esses profissionais possuem alto grau de comprometimento, amplo conhecimento e motivação, além de muita experiência na bagagem, trazendo mais equilíbrio, empatia e vantagem competitiva para a empresa”, afirma. Nogueira observa que esse perfil de profissional está em busca de reconhecimento de seu potencial, qualidade de vida e visibilidade.

 

Reinvente-se em qualquer idade

Partindo da premissa de que nunca é tarde para promover mudanças pessoais, a geração sem idade ou perennial vem anulando estereótipos relativos ao peso dos anos através do enfrentamento de novos desafios na vida e da habilidade de empreendedorismo multigeracional.

Quem disse que não podemos abraçar uma nova carreira aos 50 anos? Ou criar uma startup aos 70? Esse foi justamente o tema central do painel: Age of ageless: cultivate a life of reinvention (“Era sem idade: cultive uma vida de reinvenção”), prestigiado por grandes nomes do universo corporativo como Karen Chong, diretora de audiência e engajamento de influenciadores da AARP The Magazine, Chip Conley, conselheiro de estratégia do AirBnB, Margit Detweiler, fundadora da Tuenight e Gyrate Media, além de Gina Pell, content chief officer da the What.

Para esses debatedores, a ideia de aposentadoria total em um mercado repleto de oportunidades parece obsoleta e desconectada da realidade. “Devemos nos reinventar em qualquer idade”, afirma Margit Detweiler. “Eu fui produtora musical e estive aqui no SXSW (South by Southwest Music Festival, 2018) em 1992, trabalhei com bandas legais e então, em 1999 descobri a internet. Foi um exemplo de como podemos criar disrupções para nós mesmos. Hoje, cuido de uma plataforma para mulheres com mais de 40 anos”, concluiu. Já Chip Conley encara a vida como um contínuo aprendizado e defende veementemente a capacidade de adquirir novos conhecimentos para seguir evoluindo a qualquer tempo.

Karen Chong, por sua vez, diz que devemos sempre avaliar a possibilidade de novas carreiras, evitando desempenhar apenas uma atividade ao longo de toda a vida. Gina Pell corrobora essa ideia e sustenta a importância de exercitar a curiosidade. Ela atuou na indústria do cinema de Hollywood e rapidamente descobriu que precisamos estar sempre prontos para transformar nossas carreiras, ideias e conceitos.

Para Pell, “saúde e doença estão enraizadas em nossa mente e coração e a maneira pela qual experimentamos o mundo à nossa volta condiciona a nossa maneira de viver”. Devemos valorizar mais a sabedoria, a experiência e o “casco”, elementos importantíssimos em ambientes de trabalho nos quais predominam pessoas mais novas. A maturidade moderna, portanto, deve ser um tipo de mentoria para os jovens, aliada à disposição para aprender e se integrar a diversas equipes.

A Inteligência Emocional é uma das maiores habilidades dos perennials. Sabendo disso, a FELLIPELLI disponibiliza uma ferramenta fundamental para medi-la e desenvolvê-la ainda mais: o EQ-i 2.0®. Conheça!

Para saber mais:

  • Managing the Older Worker: How to Prepare for the New Organizational Order. Peter Cappelli e Bill Novelli. Harvard Business Review Press, 2010.
  • The Future For Older Workers. New Perspectives. Research On Emotion in Organizations. Policy Press, 2009.
  • Aging and Work in the 21st Century. Kenneth S. Shultz e Gary A. Adams. Applied Psychology Series. Psychology Press, 2007.

 

Referências bibliográficas

 

Tema principal:  EQ-i 2.0®, Programa de Desenvolvimento da Inteligência Emocional.

Subtemas: A importância dos perennials no novo ambiente organizacional.

Objetivo:  Desenvolvimento de Competências, Inteligência Emocional, Desenvolvimento Profissional, Coaching nas Empresas, Cultura Organizacional.

 

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Vídeo: Perennials: a nova geração atemporal – Entrevista com Gina Pell

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