Mind your emotions: agilidade emocional e agilidade organizacional11 min de leitura

Uma abordagem esclarecedora acerca dos conceitos que fortalecem as ações para uma mudança efetiva e próspera no ambiente organizacional.

As emoções não expressas nunca morrem. Elas são enterradas vivas e saem nas piores formas mais tarde…” –  Sigmund Freud

Frequentemente confundida com Inteligência Emocional, a agilidade emocional está diretamente relacionada à maleabilidade no manejo das próprias emoções. Criado por Susan David, psicóloga e professora da Harvard Medical School, e apresentado ao público na obra Emotional Agility: Get Unstuck, Embrace Change, and Thrive in Work and Life (Agilidade Emocional: Abra sua mente, aceite as mudanças e prospere no trabalho e na vida), o conceito de agilidade emocional corresponde ao relacionamento interno que cada pessoa estabelece com seus sentimentos e sensações. Trata-se, em outras palavras, da habilidade de reconhecer e utilizar as experiências pessoais – positivas e negativas – de forma mais consciente e proveitosa (DAVID, 2016).

Figura 1.0 Agilidade emocional.
Figura 1.0 Agilidade emocional.

Doutora em Psicologia pela Universidade de Melbourne, David acredita que a capacidade de aceitar e lidar com as próprias emoções, ou seja, a agilidade emocional é o que diferencia os vencedores daqueles que ficam pelo caminho.

Precisamos aprender a diferença entre fazer da vida uma luta ou uma dança”.

Para isso, propõe a aplicação de quatro premissas:

  1. As emoções devem ser encaradas:

Em vez de focar no “pensamento positivo” e tentar ignorar traumas, pensamentos e sentimentos difíceis, David propõe que todas as emoções sejam exploradas com uma boa dose de gentileza e curiosidade. O primeiro passo para descobrir como você realmente se sente é detectar as emoções que estão reprimidas através do seguinte exercício: descreva a emoção que mais te incomoda no momento em um papel, iniciando com a frase “Eu sou”. Por exemplo: “Eu sou estressado”.

Figura 1.1 A importância de visitar as próprias emoções.
Figura 1.1 A importância de visitar as próprias emoções.

Em seguida, de pé e de olhos fechados, analise sua linguagem corporal enquanto pensa nisso a fim de compreender o que está provocando a tensão. “Quando contraímos o corpo, encontramos uma forma de nos proteger. Ficar preso em pensamentos, emoções e histórias, portanto, nos impede de prosperar”, ensina David.

Pequenos ajustes mentais podem fazer uma enorme diferença ao ajudar a pessoa a desconectar-se de pensamentos e emoções e percebê-los pelo que são – simplesmente pensamentos e emoções — e não fatos consumados.

  1. Seja emocionalmente flexível:

Em um mundo onde a maioria das pessoas prefere esconder o que realmente sente, o modus operandi vigente nas empresas é o imperativo, que corresponde a acatar regras sem questionamentos. Para Susan David, reprimir as emoções e limitar-se a cumprir ordens é um paradoxo que impede a inovação e estimula a competição. “Ter agilidade organizacional demanda agilidade emocional. Assim, criamos um senso de vulnerabilidade, conseguimos nos relacionar melhor com os outros e ser mais inovadores”, afirma Susan.

  1. Desenvolva a resiliência:

No contexto emocional, ser resiliente significa assumir o controle do pensamento, ser capaz de adaptar-se a mudanças, suportar a pressão em momentos complicados e enxergar obstáculos como oportunidades. “Emoções são dados, e não direcionamentos. Quando conseguimos reconhecer o que sentimos, podemos escolher se a emoção irá tomar conta de nós ou se apenas servirá de informação para nos conduzir à mudança”, explica a psicóloga.

Figura 1.2 Resiliência e agilidade emocional.
Figura 1.2 Resiliência e agilidade emocional.
  1. Respeite quem você é:

Para David, autorrespeito corresponde a viver com mais consciência e é viável a partir da aplicação de dois princípios: o “Princípio dos minúsculos ajustes”, formando hábitos e aliando-os aos valores e metas pessoais, e o “Princípio da gangorra”, buscando viver no limite da sua capacidade, optando pela coragem em vez do conforto e fazendo o melhor que você consegue no momento. “O senso de obrigação tira a motivação e leva à tentação. Quando respeitamos quem somos, conseguimos ter agilidade emocional para experimentar, falhar e nos perdoar”, conclui David.

Agilidade organizacional

A mudança é a lei da vida. Aqueles que olham apenas para o passado ou para o presente serão esquecidos no futuro.” – John F. Kennedy

“A beleza da vida é inseparável da sua fragilidade”. Com essa frase, Susan David defende que…

Ter agilidade emocional não significa acabar com todos os pensamentos e sentimentos negativos, mas sim ser capaz de aceitá-los e combater os padrões comportamentais inúteis, reforçando hábitos que despertem o que temos de melhor.

Ela explica que cada pessoa possui seu próprio “sistema de alarme emocional” e, embora alguns fatos da vida sejam inevitáveis, sempre podemos escolher como reagir a eles.

David cita a teoria de Viktor Frankl, psiquiatra sobrevivente de um campo de concentração nazista que escreveu o livro “Man’s Search for Meaning (Um Sentido para a Vida). Em sua obra (FRANKL, 2006), Frankl argumenta que “existe um espaço entre o estímulo e a resposta. Nesse espaço reside nosso poder de escolher nossa resposta. Na nossa resposta residem nosso crescimento e nossa liberdade”.

A agilidade emocional não é benéfica apenas para lidar com dificuldades pessoais; no contexto empresarial, sua aplicação é imprescindível e reúne conceitos de disciplinas da psicologia para enfrentar diversos problemas: conflitos interpessoais, inflexibilidade, falta de transparência nas decisões, gestão excessivamente centralizadora, planejamento estratégico deficiente, funcionários pouco engajados, etc. Atualmente, as organizações estão exigindo cada vez mais agilidade diante das aceleradas transformações tecnológicas e da complexidade, porém na realidade o ritmo de mudanças ultrapassou a habilidade psicológica humana para suportá-las.

Todo ser humano possui habilidades psicológicas que devem ser exercitadas. Deseja ter mais foco, mas a correria do dia a dia frequentemente o impede de fazê-lo. Se a empresa não tem pessoas abertas a emoções, dificilmente poderá inovar e se desenvolver.

Consumidores cada vez mais exigentes, ambiente de negócios em mudanças frenéticas e concorrência exacerbada. Diante desse cenário, só sobrevivem as organizações capazes de responder prontamente às necessidades do mercado e se adaptar à velocidade do progresso da tecnologia.

A chamada agilidade organizacional envolve uma série de práticas em gerenciamento de pessoas e processos, comunicação interna e externa, além de uma contínua e dinâmica mensuração dos resultados.

Agilidade organizacional é a capacidade de uma empresa de perceber prematuramente as mudanças em curso em seu ambiente (comportamento do cliente, marcos regulatórios, fornecedores e contexto econômico) e reagir rapidamente a elas, através de alterações no produto e/ou no processo produtivo, por exemplo. Agilidade está relacionada principalmente a dois elementos interdependentes da organização: gestão apta a combinar e recombinar tecnologias, e estruturas flexíveis que podem ser facilmente modificadas (Teece, 2006).

Para ser bem-sucedida, a empresa precisa aceitar a mudança e incluir processos de adaptação e inspeção, grandes diferenciais atualmente. Assim, uma organização que pretende seguir com agilidade organizacional de forma segura e planejada deve adotar as seguintes práticas:

  • Interação permanente com o consumidor:

Para conhecer melhor o cliente e atender – e superar – suas expectativas, é necessário antes de tudo ouvir a sua voz, o que pode ser feito através de pesquisas e avaliações de produtos e atendimento.

A partir desse feedback é possível criar, sempre de modo colaborativo com o consumidor uma lista de prioridades com entregas orientadas a valor – aquelas que são mais relevantes para o negócio. Nesta etapa, pode ser preciso redefinir suas necessidades para que a empresa mantenha o foco e a velocidade das ações.

Se o seu público alvo são mulheres entre 30 e 50 anos, por exemplo, devem ser utilizadas ações de marketing diferentes daquelas voltadas para rapazes entre 20 e 30 anos ou crianças. Conhecer o perfil do cliente é fundamental para descobrir a melhor forma de trabalhar com sua audiência e aperfeiçoar suas campanhas.

Figura 1.3 Relacionamento com o cliente.
Figura 1.3 Relacionamento com o cliente.
  • Prioridade para o que faz mais sentido e agrega mais valor ao negócio:

Uma vez estudadas as principais características dos clientes, é hora de implementar pequenas melhorias em menor tempo e com mais frequência. Nesse processo, devem ser priorizados os ajustes que enfatizam o desenvolvimento de recursos e funções com o maior retorno de investimento para o cliente, que deve ser o principal colaborador para informar os próximos requisitos do projeto.

Os aplicativos de GPS, por exemplo, tiveram como primeira função implementada a indicação do caminho mais rápido para o destino desejado. Gradualmente os sistemas evoluíram para mostrar o tempo de chegada, e logo depois o melhor caminho. Atualmente, é possível até compartilhar uma viagem com outro usuário através da plataforma, ou seja, o aperfeiçoamento do serviço fez sentido tanto para os clientes quanto para o aplicativo.

  • Reuniões avaliativas periódicas:

Encontros regulares são importantes para avaliar o que foi satisfatório e deve continuar, assim como o que não vai bem e precisa mudar. Estas reuniões retrospectivas são extremamente úteis no ciclo de melhoria contínua, pois atua como balizadores do desempenho organizacional.

Nelas, os funcionários devem ser estimulados a falar sobre seus impedimentos e iniciativas consideradas certas e erradas. A retrospectiva, além de nos auxiliar a fazer um balanço do que passou e de aumentar a percepção da equipe, nos ajuda a planejar de modo mais eficiente o próximo ciclo.

Figura 1.4 Reuniões retrospectivas regulares são essenciais para otimizar a performance organizacional.
Figura 1.4 Reuniões retrospectivas regulares são essenciais para otimizar a performance organizacional.

Ciclos curtos permitem que as falhas sejam revertidas em aprendizagem e sirvam para aprimorar o processo. Ao errar – e reconhecer o erro – cedo, mais cedo irá aprender e mais cedo irá acertar.

Para isso, todos os colaboradores devem ser treinados para enxergar as falhas como oportunidades de melhoria na adaptabilidade das equipes.

  • Equipes multifuncionais:

Distribua as responsabilidades de modo a gerar enriquecimento das atividades e empoderamento dos colaboradores. Empoderar equipes envolve proporcionar aos funcionários dados e ferramentas suficientes para que eles possam assumir responsabilidades, elaborar projetos e soluções inovadores e ter mais autonomia. Esse tipo de ação tem como resultado natural um maior engajamento de cada funcionário com a empresa, elevando seus resultados e sua motivação.

Desenvolver as agilidades emocional e organizacional significa tornar-se capaz de transformar emoções em um modo mais produtivo de ser e de viver, e erros, em oportunidades de aprendizagem e crescimento.

A FELLIPELLI acredita que o caminho para o sucesso tanto na vida pessoal quanto na profissional é reconhecer a própria vulnerabilidade e optar por uma forma mais perspicaz de lidar com ela.

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Para saber mais:

  • Emotional Agility: How to Increase Self-Esteem and Master Your Emotions (Book 1). Anne Gilmore. eBook Kindle.
  • Emotional Agility: How to Develop Communication Skills Without Stress (Improving Relationships in The Family and at Work, Influencing People and Managing Emotions) (Book 2). Anne Gilmore. eBook Kindle.
  • A Liberated Mind: The essential guide to ACT. Steven C. Hayes. eBook Kindle. Ebury Digital, 2019.
  • The Leader’s Guide to Emotional Agility (Emotional Intelligence): How to Use Soft Skills to Get Hard Results. Kerrie Fleming. FT Press, 2015.

Referências bibliográficas

Tema: Inteligência Emocional, EQ-I 2.0®

Subtemas: Como transformar as emoções para contribuir com sua organização de forma mais efetiva.

Objetivo: Autoconhecimento, Autodesenvolvimento, Desenvolvimento Organizacional, Desenvolvimento de Liderança, Team Building, Coaching, Coaching nas Empresas.

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