Todos nos encontramos hoje em dia trabalhando em equipe, e possivelmente todos vocês estejam já familiarizados com as vantagens e desvantagens que os diferentes Tipos Psicológicos podem criar assim como as frustrações que são pelo geral acumuladas ao longo das diferentes etapas do desenvolvimento de qualquer equipe.
Cabe esclarecer que o conceito de “equipe” está pelo geral muito mal utilizado nas organizações e, na grande maioria, as pessoas pertencem e trabalham em grupos e não equipes de acordo com a definição amplamente reconhecida como a verdadeira, aquela que os autores Katzenbach e Smith definiram na sua obra “The Wisdom of Teams” (A Inteligência das Equipes). Na definição deles, existem alguns elementos chaves como: o número pequeno de membros, as habilidades sendo complementares, que exista um propósito real, que existam metas concretas e que a equipe tenha um modus operandi claro assim como responsabilidade mútua. É justamente nesta última caraterística, a da “Responsabilidade Mútua”, que o componente humano e os diferentes Tipos Psicológicos se conjugam para entender por que as dinâmicas nas equipes podem ser às vezes de alta produtividade e outras totalmente incapazes de manter um ritmo sustentável. Há também outros ingredientes como o tempo de duração, a natureza de Liderança e a movimentação dos membros da equipe em diferentes momentos da sua vida.
Vamos ver sob a lente dos Temperamentos alguns aspectos que podem ser muito úteis para aqueles que tenham que trabalhar com equipe, já desde a sua formação original ou ao ser convidado para ajudá-la a aumentar seu rendimento.
Trabalhar em equipe oferece oportunidades de colaboração, sinergias de diferentes competências e habilidades e camaradagem. Mas, trabalho em equipe também traz questões de autonomia, e como mencionamos antes a colaboração entre colegas, que se suma a necessidade de comunicação frequente e resoluções de conflitos do grupo. Um desafio constante é conseguir que os diferentes indivíduos trabalhem juntos de forma eficiente quando cada um tem diferentes estilos de comunicação, gestão do tempo, procura da informações e tomada decisões. Essas diferenças podem ser muito extensas, mas os Tipos Psicológicos, por meio da administração da ferramenta MBTI e o Tipo de Temperamentos, com certeza podem auxiliar o facilitador de equipes (seja o próprio Líder, ou Gestor de Projetos) a navegar por sobre estas diferenças de forma efetiva.
Vamos lembrar a Teoria dos Temperamentos?
Baseado nos estudos e publicações de C.G. Jung e das norte-americanas Katherine Briggs e Isabel Myers o psicólogo norte-americano David Keirsey, se apoiando em cinco décadas de trabalho, considerou mais produtivo estudas os temperamentos (sem descartar a tipologia introduzida por aquelas pesquisadoras), enfatizando o “motor” que move a vida das pessoas, ou seja o que motiva as pessoas, sua visão de mundo (concreta e abstrata) e o que elas buscam realizar; nesses estudos ele percebeu que os tipos são movidos por aspirações e por interesses – O que são esses interesses? O Temperamento é uma configuração de inclinações naturais, enquanto o caráter é o resultado de hábitos. A Teoria do Dr. Keirsey dos quatro temperamentos põe em destaque a sensação (S) e a intuição (N), funções mentais de percepção. Sendo de forma abreviada e prática a combinação deu como resultado os NF, NT, SP e SJ. Segundo a Teoria de Temperamentos, os mesmos conduzem o comportamento como um mecanismo pelo qual conseguimos aquilo que devemos ter. Por esse motivo, os Temperamentos brindam um canal ótimo para analisar e explorar a dinâmica de equipes já que servem para entender as necessidades e contribuições dos diferentes indivíduos. Os Temperamentos também ajudam as equipes na necessidade de flexibilizar com o fim de acomodar diferentes demandas e ficar atentos e alertas aos possíveis pontos cegos. Por último, os Temperamentos permitem ver as preferências dos Tipos de forma combinada em vez de individual.
Guardiões (SJ) – São cooperadores para implementar metas. Seus dons naturais podem ser dominados logísticos, o que os impulsiona para ocupações em que possam ser supervisores, inspetores, provedores e protetores. São eficientes ao agir; respeitados. Imbuídos em um forte senso de dever, gostam de pertencer a uma família, grupos sociais, patrióticos e filantrópicos (valoram status social). Dentre os quatro temperamentos são os mais facilmente reconhecíveis pelo uso de uniformes, fardas, insígnias, comendas etc. Eles valorizam ter procedimentos. Quando trabalham em equipe eles contribuem com experiência administrativa, performance sempre em horário, são cumpridores. Ponto fraco: pode ser que sejam muito burocráticos e podem apresentar resistência à mudança, especialmente se for frequente ou dramática.
Artesãos (SP) – São utilitaristas para implementar metas. Seus talentos inatos são táticos, o que os torna excelentes promotores de vendas, profissionais de marketing, lobistas, etc. Os Artesãos são espontâneos e gostam de estar sempre em ação fazendo algo. São audaciosos, determinados e autoconfiante; gostam de estar no centro de um “palco”, seja este real ou imaginário. São bons companheiros para quem aprecia os prazeres da vida e hábeis negociadores. Quando trabalham em equipes, suas contribuições sempre demonstram a capacidade deles para encontrar recursos e a vontade de tomar riscos. Eles lidam como os temas importantes do dia. Assim como os Artesãos podem estar sempre prontos para apagar qualquer fogo que aparecer, eles podem ser demasiado expeditivos e só se concentrar nas ações táticas imediatas e abandonar as estratégias de longo prazo.
Idealistas (NF) – Como os SJ, são cooperadores para implementar metas. A diferença é que eles oferecem o apoio material, e os NF, apoio psicológico e moral. Seus talentos naturais podem ser rotulados como diplomáticos (uso eficiente das inteligências interpessoal e linguística), o que os torna excelentes professores, conselheiros diplomatas e terapeutas.
São imaginativos e empáticos e valorizam as relações pessoais no ambiente de trabalho. Eles sempre promovem harmonia e o desenvolvimento potencial dos colegas, servem como ponte para que as diferentes pessoas possam trabalhar juntos. Cofiam na intuição, são altruístas, acreditam em um futuro melhor. A fraqueza é que podem ser demasiado idealistas.
Racionais (NT) – Embora prefiram o mundo da abstração, os racionais são utilitaristas para implementar metas, ou seja, suas teorias e invenções visam à utilização no mundo empírico. São céticos e precisos valoram a ingenuidade e a lógica. Eles lidam bem com a planificação para o futuro. Quando trabalham com outros podem facilitar análises estratégicas de temas complexos e ajudar a estabelecer metas de longo prazo. Sentem-se atraídos em especial pelas ciências, gostam de trabalhos que envolvam sistemas e são muito interessados em invenção e tecnologia. Como líderes, tendem a ser individualistas e visionários. Podem ter problemas de relacionamento por ser muito competitivos.
As equipes formadas com pessoas do mesmo estilo têm algumas vantagens: elas elaboram as tarefas mais rápidos, encontram menos conflitos de relacionamento e pelo geral gostam uns dos outros mais. Não entanto, esses grupos similares têm maior possibilidades de cometer erros devido à escassa representação de pontos de vista contrapostos.
As equipes “uni-estilo” podem não perceber aspectos de problemas que pessoas de diferentes estilos poderiam detectar com rapidez. As equipes formadas com estilos diferentes pelo geral levam mais tempo para completar as tarefas, mas tendem a ser mais efetivas e produzir melhores resultados.
Seguem algumas dicas para questionar aspectos de uma equipe ao facilitar ou fazer uma intervenção de construção de equipe (team building) seja em ambiente corporativo, acadêmico ou de qualquer tipo de disciplina.
Podemos usar estas perguntas para promover maior efetividade de equipe:
- O que falta no seu time? Racionais? Guardiões? Artesãos? Idealistas? Se seu time está concentrado em planificação do future, tem alguém cuidando das tarefas do dia a dia? Se sua equipe tem foco em Sistemas operativos, tem alguém responsável pelo desenvolvimento das pessoas?
- Seu time está formado na maior parte por indivíduos de caraterísticas similares (estilos – preferências), como pode ter certeza que outros pontos de vista sejam considerados? Sua equipe reconhece os próprios “pontos cegos”? Vocês tomam tempo para considerar outros pontos de vistas? Fazem isso de forma regular ou frequente? Vocês procuram outras opiniões?
- Se sua equipe tem muita diversidade representada por indivíduos muito diferentes, o que você pode fazer para ajudá-los a trabalhar juntos de forma eficiente? Eles apreciam e reconhecem as diferentes habilidades nos colegas?
Às vezes, o simples conhecimento ou divulgação das diferenças individuais pode ajudar as equipes a identificar aqueles talentos e caraterísticas que cada membro traz como um presente para poder levar a cabo as tarefas. Este conhecimento compartilhado pode reduzir significativamente conflitos, aprendendo juntos a redistribuir as causas de desentendimentos como algo natural, aceitando as essas diferencias individuais. A Teoria dos Temperamentos oferece um canal para ajudar os membros das equipes a reconhecerem e apreciarem essas diferenças.
Referências:
- Keirsely, D., & Bates, M. (1978) Please understand me: Character and temperament types (3rd Ed.) Del Mar, CA: Prometheus Nemessis Books
- Da Luz Calegari, & Orlando H. Gemignani. (2006) Temperamento e Carreira: Desvendando o enigma do sucesso (4ta Ed.) São Paulo; Summus
- Katzenbach, J. R, & Smith Douglas K. (1993) The wisdom of Teams (1st Ed.) McKinsey & Co, Inc.