Teste de Realidade e Inteligência Emocional9 min de leitura

Há pessoas que vivem em um mundo de sonhos, outras que enfrentam a realidade, e há outras que transformam sonhos em realidade”.

– Douglas H. Everett

O Teste de Realidade é a habilidade de avaliar a correspondência entre o que foi vivido e o que de fato existe. Envolve estar “sintonizado” com a situação imediata. A melhor frase que define o Teste de Realidade é “a capacidade de ver as coisas de modo objetivo, do jeito que são, em vez de vermos do jeito que gostaríamos de ver ou tememos ver”. Testar tal grau de correspondência envolve buscar por evidências objetivas que confirmem, justifiquem e suportem sentimentos, percepções e pensamentos.

A ênfase está no pragmatismo, na objetividade, na adequação da sua percepção e na autenticidade de suas ideias e pensamentos. Um aspecto importante deste componente envolve a habilidade de se concentrar e focar ao tentar avaliar e lidar com as situações que surgem.

O Teste de Realidade está associado com a manutenção do foco no mundo exterior, particularmente diante de situações desagradáveis, em vez de enfiar a cabeça de alguém na terra. É a habilidade de estar em sintonia com a situação imediata com lucidez e clareza nos processos perceptivos e racionais. Em termos simples, o Teste de Realidade é a habilidade de medir de forma precisa a situação presente, em vez de ficar cego e sair racionalizando por aí problemas muito reais. Também é a capacidade de reduzir a tendência de “dramatizar” os problemas reais.

É “não criar tempestade em copo d’água”, é encarar o problema sem achar que ele é esmagador e insuperável.

Ao passarem pelo corredor, Dinah sorriu para Roxanne, a nova vice-presidente. Roxanne não sorriu de volta. “Meu Deus”, pensou Dinah, “ela não gosta de mim. Era tudo o que eu precisava. Devo ter feito algo que a ofendeu. O que vou fazer? Odeio quando as pessoas não gostam de mim”.

O Teste de Realidade da Dinah foi comprometido por conta de medos infundados. Ela foi incapaz de julgar sua interação com Roxanne de forma objetiva e precisa. Em vez disso, ela interpretou o fato de forma catastrófica, confirmando o seu pior medo: ela era uma pessoa de quem os outros não gostavam. Se ela tivesse sido mais objetiva, analítica e menos sugestionada por um senso básico de insegurança, poderia compreender que Roxanne não a estava ignorando, mas talvez estivesse preocupada com seus próprios assuntos.

Figura 1 Teste de Realidade é enxergar o copo meio vazio, em vez de meio cheio temendo pelo pior.
Figura 1 Teste de Realidade é enxergar o copo meio vazio, em vez de meio cheio temendo pelo pior.

Seja objetivo

O trabalho de um policial não é fácil, por inúmeros motivos. Um dos maiores desafios é lidar com, digamos, três testemunhas de um acidente automobilístico que dão três versões diferentes do fato, deixando aos policiais a responsabilidade de descobrir o que houve.

O mesmo fenômeno acontece diariamente em nossos intercâmbios. Há um velho ditado que captura esta ideia muito bem: há três lados da mesma história – o seu, o meu e o verdadeiro. Quando vivenciamos um evento, como nós percebemos a questão da forma que ela de fato ocorreu, em vez de colori-las com nossos medos, desejos, preconceitos e mais uma coleção de emoções ofensivas e defensivas?

Discernir o que as coisas são de como nós as tememos e/ou esperamos que sejam é a essência do Teste de Realidade.

Como fazemos dessa tarefa algo necessário? Isso envolve uma busca por evidências objetivas que irão confirmar, justificar e dar suporte aos nossos pensamentos e percepções. Assim, o Teste de Realidade é a capacidade de “ler” as situações de forma precisa, a fim de avaliar o que está acontecendo. De modo mais sofisticado, ele permite explorar as correntes emocionais, as relações de poder e alianças políticas que ocorrem abaixo da superfície. O Teste de Realidade nos permite entrar em sintonia com uma situação, mantendo uma perspectiva mais ampla e correta, sem excesso de fantasias ou sonhos. Ele nos permite focar em formas de lidar com o que descobrimos, preservando nossas emoções, livres de ilusão.

As pessoas que possuem uma forte habilidade com o Teste de Realidade veem o mundo à sua volta de maneira clara e objetiva. São rápidas ao reconhecerem onde o problema existe, e podem perceber as oportunidades quando surgem. Aquelas pessoas cujo Teste de Realidade é baixo omitem-se diante dos problemas ou podem ver (e ampliar) os riscos, e, como resultado, são incapazes de tirar vantagem das oportunidades.

Não tema pelo pior…

Vamos ver como o Teste de Realidade funciona em um ou dois casos. Primeiro, vamos prestar atenção a uma conversa entre Bob e Neil, durante a pausa do café nas Indústrias Acme. Bob está prestes a falar mal do novo CEO: “Esse cara não é um dos nossos, ele não entende o que se passa aqui. Veio da Filadélfia e caiu de paraquedas aqui. Não sei o que pensar dele, só sei que está indo rápido demais. Ele está aqui há 2 meses e já deixou esse lugar de pernas pro ar. Todas estas mudanças estão me afetando. Já fiz meu currículo e estou vendo outros lugares, mas não gosto disso. Eu gosto desse trabalho e só Deus sabe o quanto preciso dele. Eu tenho uma hipoteca monstruosa para pagar e não sei quem mais vai cuidar do frete. E você?”

Neil, tendo ouvido todas as suas reclamações, responde: “Eu não conheço muito o novo CEO, mas tenho alguns amigos na Filadélfia e eles disseram que ele parece ser bem justo. Não estou tão preocupado. Por que eu ficaria? Minha divisão traz dinheiro e o moral está bom, então por que ele deveria separá-la? Não acho que há um problema com minhas avaliações de performance, então por que ele me demitiria? Tudo pode acontecer… talvez ele queira trazer seu próprio pessoal. Mas estou aqui há algum tempo, e eles teriam que me dar um suporte. Isso me daria tempo para olhar outro emprego por aí. Eu estive na Frontier por 10 anos, então sei que há uma vida depois da Acme. Acho que há um futuro aqui para mim. Não vou vacilar gastando meu tempo me preocupando com isso. Sei lidar com esse tipo de mudança. Isso não me ameaça, na verdade isso é uma oportunidade. Aliás, me sinto bem melhor e estabelecido nesses dias.”

Como você avaliaria a capacidade de Neil para testar a realidade? Suas visões são bem pensadas, bem argumentadas, e baseadas em uma avaliação pragmática que parece ter suporte em evidências – nem sua divisão e nem seu trabalho estão em risco. Ele deseja trabalhar com a nova administração, e pretende permanecer como sendo um empregado de valor, mas está confiante de que vai prosperar em outro lugar, se necessário. Ele não se deixou abater pela possibilidade de mudança, e provavelmente continuará a operar tão bem como antes.

Bob, por outro lado, deu espaço para pensamentos temerosos, “dramatizou” sem nenhum motivo aparente, e irá aumentar seu nível de estresse, o que poderá interferir na eficiência e desempenho do seu trabalho – e o que pode resultar até em uma demissão.

… Mas tire esses óculos cor-de-rosa

No caso de Bob, seu medo infundado interferiu em sua capacidade de avaliar, de forma lúcida, a sua situação. Mas outras pessoas, que têm essa deficiência em testar sua realidade, vão diretamente para o extremo oposto, adotando uma atitude ingênua, idealista, apesar das evidências crescentes que dizem que nada é tão promissor assim.

Figura 1.1 Extremo oposto de quem falha no Teste de Realidade, momento de grande paixão.
Figura 1.1 Extremo oposto de quem falha no Teste de Realidade, momento de grande paixão.

Esta reação não predomina em nenhum outro lugar, a não ser no campo do romance. O amor é cego, e em muitos relacionamentos (especialmente no início) vemos ambos os indivíduos idealizando seus parceiros – como nesse monólogo feito por Anna, ao falar do seu novo namorado: “Eu sei que você me acha louca, mas eu o amo. Ele mudou, de verdade. Tudo bem que ele costumava andar com uma galera errada, mas o que esperar dele, quando morou em todos aqueles orfanatos e se meteu com drogas? Ele estava preso a um pacote, que não sabia o que tinha dentro. E agora ele está mais velho. E eu sei tudo sobre as outras mulheres – muito esquisitonas, tipo aquela que engravidou, mas isso faz muito, muito tempo, e…”. Por que continuar? As habilidades de Anna concernentes ao Teste de Realidade precisam ser trabalhadas; ela está com a cabeça enfiada na terra e está negando evidências reais de que seu novo namorado é sinônimo de problema.

Estando você construindo um relacionamento (ou tentando “consertar” um), avaliando a magnitude de um problema, ou avaliando os benefícios de uma oportunidade que surgiu, ver a situação da forma como ela realmente existe é crucial para o sucesso – mas, caso interprete mal as informações que recebe do ambiente, você estará em desvantagem desde o início.

Clique abaixo e faça atividades de autoavaliação e autoatribuições relacionadas a Teste de Realidade e Inteligência Emocional:

DOWNLOAD

Referência: Capítulo 12 do livro The EQ Edge: Emotional Intelligence and Your Success, Steven J. Stein, Howard E. Book.

Traduzido e revisado por Fellipelli Consultoria Organizacional.

 

Tema: Inteligência Emocional, EQ-i® 2.0.

Subtema: Teste de Realidade em desequilíbrio nos impede de enxergar e aproveitar grandes oportunidades.

Objetivo: Autoconhecimento, Autodesenvolvimento, Coaching, Coaching nas Empresas, Assessment.

Este conteúdo é de propriedade da Fellipelli Consultoria Organizacional. Sua reprodução; a criação e reprodução de obras derivadas – a transformação e a adequação da obra original a um novo contexto de uso; a distribuição de cópias ou gravações da obra, na íntegra ou derivada -, sendo sempre obrigatória a menção ao seu autor/criador original.


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