Solução de Problemas e Inteligência Emocional11 min de leitura

A habilidade de transformar a dificuldade em desafio

Um problema é uma chance para você fazer o seu melhor”.

―Duke Ellington

A solução de problema se dá, de fato, quando somos capazes de resolvê-lo em situações em que as emoções estão envolvidas, e compreender como as emoções impactam na tomada de decisão. Está associada a ser consciente, disciplinado, metódico e sistemático em perseverar e abordar problemas. Essa habilidade também está ligada ao desejo de dar o seu melhor em confrontar problemas, em vez de evitá-los.

evitar problemas

Conta-se a história de Susan, uma jovem advogada que tem dificuldades ao ter de lidar com uma quantidade imensa de documentos que lhe são dados à medida que novos casos vão aparecendo. Ela poderia juntar tudo e observar o “grande quadro”, mas frequentemente ela pensava em desistir após 2 ou 3 tentativas. Por outro lado, sua colega Liz, quieta e com menos autoconfiança, foi bem mais persistente. Enquanto ela revia os documentos de Susan, ela determinava a questão e formulava uma estratégia, tentando outra estratégia caso os fatos e os documentos não lhe dessem suporte, e assim por diante.

Ela optou por não desistir, enxergando seu trabalho como um desafio. Se ela desse com a “cara na parede” e ficasse frustrada, ela partiria para a outra opção – pedir ajuda a alguém. Liz possuía uma lista de colegas, incluindo parceiros seniores, com os quais poderia contar para orientá-la por meio da discussão do caso, o que a ajudaria a “abrir caminho na multidão” e determinar os aspectos chave, de modo a tornar a compreensão fácil para que ela seguisse em frente.

Em cinco anos, é muito provável que Liz prove ser mais bem-sucedida, graças à sua aproximação da solução do problema. Note que uma de suas habilidades, comum em pessoas com alto nível de EQ, é sua habilidade em manter-se motivada, mesmo quando os obstáculos aparecem. Usar a emoção para se motivar, independente da natureza do desafio, é uma característica de pessoas com habilidades emocionais bem desenvolvidas.

A tendência de Susan de desistir das coisas está conectada à sua propensão a responder a situações difíceis sentindo-se desinteressada e desmotivada. Então, ela diz a si mesma: “Ah, isso é demais! Olhem só pra mim, que burra eu sou! Já tentei duas vezes e não consigo acertar. Eu sempre ponho tudo a perder.”

Se Susan “disputasse e contestasse” suas emoções, ela não seria tão dura e desmotivada consigo mesma, e estaria bem mais motivada a retornar às suas tarefas. Outra habilidade emocional importante é saber quando pedir conselho e a opinião dos outros. A chave é não se render e pedir que resolvam seus problemas imediatamente, o que te levaria a ser dependente (ou até mesmo levaria a uma demissão), mas procurar ajuda de diversas fontes para que você mesmo chegue a uma conclusão.

Seis etapas para a solução de problemas

Foco na solução de problemas nunca foi tão importante, e em diversos locais de trabalho o que não pedem de seus empregados são as dificuldades, mas as soluções que podem ser implementadas. Uma economia competitiva exige que sejamos solucionadores, e não colecionadores de problemas. Alcançando essa demanda, seremos mais independentes.

Entre os pioneiros da solução de problemas enquanto intervenção estão os psicólogos Thomas D’Zurilla e Arthur Nezu. Eles já publicaram dezenas de estudos que demonstram que treinar as pessoas para uma melhor resolução de problemas pode influenciar drasticamente as suas habilidades para lidar com problemas na área profissional ou pessoal. Eles definiram o problema como sendo: um simples evento de tempo limitado (estar atrasado para um voo ou estar com uma doença aguda); como uma série de eventos relacionados ou similares (lidar com um chefe “mandão”, ou com uma filha que não respeita o toque de recolher); ou como questões de longo prazo (lidar com dores crônicas, solidão e tédio). Repare que estes problemas caem na categoria “interpessoal”, enquanto os outros tendem a ser de natureza mais “técnica”. No entanto, mesmo em problemas técnicos, há geralmente um componente interpessoal.

Também tem a história de Ed, que recebeu um novo papel no trabalho na área de TI, mas que ainda não domina todo o conteúdo. Por não ter esse domínio, a sua produtividade se torna lenta, os erros são mais frequentes e sua competência fica bem abaixo do esperado. Com isso, seus colegas de trabalho começam a se frustrar e se irritar com o seu baixo desempenho. A impaciência cresce, e a pressão em cima dele também, porém, quando está sob pressão, sua ansiedade aumenta, e interfere diretamente em suas habilidades, não importando quais elas sejam, o que piora ainda mais sua produtividade. Ou seja, o que começou como um problema “técnico” tornou-se uma dificuldade “interpessoal”.

Recomenda-se, neste caso, que, ao se deparar com um problema, que ele seja visto como um desafio a ser superado, e, cada vez que isso acontecer, aproveitar a oportunidade de enfrentar o problema. Pode-se melhorar com o tempo se estes passos forem seguidos:

Apresente suas razões. Examine o problema, descrevendo da forma mais precisa e realística possível. Tente observá-lo através do ponto de vista dos outros, para ter certeza de que sua perspectiva não é indevidamente restrita. Ser objetivo envolve, em parte, estar atento ao impacto das suas emoções. Nossas emoções, muitas vezes, embaçam nossa visão em relação aos problemas com os quais nos deparamos. Isso não quer dizer que não se deva ser emotivo; em vez disso, você deve estar atento às suas emoções e às tendências que suas emoções expõem.

  • Gere alternativas. Pense no máximo de soluções e abordagens que puder. Esta é uma sessão de brainstorming, e algumas de suas ideias não levarão a lugar algum. Não se preocupe. Neste estágio não avalie suas ideias, apenas deixe que elas apareçam. Novamente, pense em maneiras com as quais outras pessoas possam superar o mesmo dilema.
  • Avalie cada alternativa. Quando tiver todas as opções firmes em sua mente, melhor ainda, anotadas em um papel, olhe para cada uma e considere o provável resultado. Priorize-as, da mais favorável a menos favorável. Analise também a sua intuição. Fique atento em como você se comporta diante de uma solução em potencial. Há vezes em que rejeitamos certas soluções apenas porque não nos soa bem. Não é necessário explicar o motivo, essa informação sozinha já é de grande importância. Preste atenção também no inverso; algumas soluções soam bem para nós. Se soar bem, pode ser que você esteja indo na direção correta.
  • Escolha a melhor opção. Agora é a hora de mergulhar de cabeça, reconhecendo o risco envolvido. Ninguém pode prever com 100% de certeza o sucesso ou não de um curso determinado de ação. Ganhe confiança através do reconhecimento de que assumiu esse risco e agiu de acordo com um processo analítico das informações.
  • Implemente a sua solução. Vá em frente sem se atolar em pensamentos do tipo: “e se…” ou “talvez devêssemos…”. Pode ser que você tenha de fazer alguns ajustes ao longo do tempo, mas resista à tentação de “voltar à primeira casa”. Dê à sua estratégia escolhida uma chance de funcionar. Lembre-se: se opor às outras escolhas foi a pior parte. Então, dê uma recompensa a si mesmo, dê um tapinha nas próprias costas por ter ido além do “lamaçal da indecisão”.
  • Avalie o resultado. Reflita se sua solução resolveu o problema ou não. Se sim, ótimo. Se não, comece o processo novamente. Se o problema parecer ser de natureza técnica, não deixe passar nenhuma dificuldade interpessoal que possa ter emergido como um resultado desta questão técnica.

Veja como os passos descritos funcionam, através da história de Linda, uma mulher jovem, bem apessoada e agradável que, prestes a terminar a sua formação em Enfermagem, decide entrar para o Exército como médica. Ciente de sua formação acadêmica ser um tanto deficitária, ela possui uma mente curiosa e perspicaz. Por ser uma pessoa prática, ela desafiava a rotina rígida do Exército com sugestões simples, mas consideradas pelos seus superiores como insubordinação. Com isso, ela foi transferida para a Marinha, onde não havia uma disciplina tão restrita. Um tempo depois, Linda casou-se com Jack, que servia ao Corpo de Fuzileiros. Ela o considerava bem mais “mente aberta” do que o resto das pessoas, e ele apreciava a facilidade de Linda em apresentar soluções para problemas diários, o que dessa forma fazia com que ele se concentrasse em atualizar seu conhecimento em computadores e sistemas de radar. Após sair da Marinha, Linda passou a se preocupar com o orçamento da casa, mas não dizia nada a seu esposo, o qual gostava muito da rotina militar em que estava inserido. Ela cogitou convencê-lo a mudar para um emprego como civil, e acreditou que essa mudança fosse plausível, já que moravam no Vale do Silício, na Califórnia. Após o nascimento de seu segundo filho, Linda passou a trabalhar meio-expediente na Cruz Vermelha, organizando as clínicas de doação de sangue para grandes corporações.

Durante seu expediente, ela observava o ambiente e conversava com as pessoas sobre suas firmas, e as pessoas se encantavam em conversar com uma visitante tão interessante. Ela começou, então, a pesquisar várias firmas de computação e TI, a fim de investigar seus problemas e compilar essas empresas, com o intuito de apresentar essa proposta a Jack. Um dia, sem saber de nada, Jack resolveu chamá-la para jantar, e nesse jantar, Linda disse que seria interessante que ele buscasse uma mudança de carreira. Sem perder o fio da meada, Linda sacou seu notebook e mostrou a Jack tudo o que ela pesquisou. Ela conseguiu fazer com que Jack pensasse acerca dessa ideia sem que isso machucasse seu ego. Em pouco tempo, eles estreitaram suas opções de acordo com o que Linda encontrou. Posteriormente, Jack realizou entrevistas nas três empresas escolhidas pelos dois e conseguiu o trabalho dos sonhos do casal.

Externalize, visualize e simplifique

Há três regras para Solução de Problemas, de acordo com Marvin Levine, em seu livro Effective Problem Solving (Solução Efetiva de Problemas), que são a Externalização, a Visualização e a Simplificação.

A Externalização envolve simplesmente o “apresentar” dos problemas, sejam eles escritos em um papel ou em um gráfico. Desta forma, podemos ver melhor os problemas que nos cercam. A Visualização envolve imaginar-se passando por vários estágios até chegar à solução do problema, ou imaginar um possível resultado de uma determinada solução. Agindo dessa forma, poderemos estar mais bem preparados para enfrentar os obstáculos que possam surgir. A Simplificação significa que devemos “quebrar” o problema em mínimos denominadores comuns. Se focarmos na informação mais relevante, mantendo as coisas simples e concretas, até o problema mais difícil torna-se fácil de resolver.

A seguir, mais uma história em que alguns desses conceitos se aplicam: Darlene, uma mulher de 32 anos, deseja ter um emprego desafiador e agradável, mas o que ela pesquisou nos classificados não foi de grande valia. Com isso, ela escreveu em um papel o tipo de trabalho que ela desejava, do que ela gostava/desgostava nos empregos anteriores, do que os seus amigos/familiares gostavam ou não em seus empregos, etc. (Externalização)

Depois ela passou a se Visualizar em todos os tipos de trabalho (empregos que usavam muita parte técnica ou muita criatividade, empregos solitários ou que envolviam várias pessoas no mesmo local, empregos que exigiam um toque artístico, etc.) prestando muita atenção em como ela se sentia enquanto pesquisava. Após essa etapa, ela descobriu que se sentiria mais à vontade em ambientes criativos e com pessoas a sua volta. Porém, mais tarde, ela descobriu que o que mais a deixava feliz era cozinhar. Com isso, passou a procurar por restaurantes, indústrias alimentícias, serviços de buffet, entre outros. Em tempo, realizou entrevistas e foi contratada por um restaurante.

Assim, devemos levar em conta as experiências de Darlene descritas com ânimo. Os problemas são normais e fazem parte da nossa vivência. Todos nós passamos por isso, então não devemos levar nossos problemas para o lado pessoal ou imaginar que eles foram direcionados a nós somente. Os “resolvedores de problema” bem-sucedidos observam este desafio como uma oportunidade de superação ou de aprendizado, que os levam a um crescimento ou fortalecimento. Ao iniciar este processo com uma atitude positiva, com ênfase na solução, o restante do processo torna-se mais simples, mais fácil e mais eficaz.

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Referência:

Tradução livre do capítulo 13 do livro The EQ Edge: Emotional Intelligence and Your Success, Steven J. Stein, Howard E. Book

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