No aeroporto: os ABCDEs
Voo Cancelado
[member_first_name]Imagine a cena: um típico aeroporto de uma cidade grande. Mais de 100 passageiros estão esperando a última chamada para embarcar no voo 107, que já está meia hora atrasado. Finalmente a atendente – vamos chamá-la de Sally – anuncia que o voo foi cancelado devido a problemas mecânicos. Ela agradece os passageiros pela paciência e pede para que se aproximem, a fim de discutir algumas soluções alternativas. Uma raiva coletiva se instaura entre os viajantes frustrados, pois seus planos tão bem pensados haviam entrado em desordem. John se entristece. Ele planejou durante uma noite inteira essa viagem, precisa estar preparado para uma importante apresentação na manhã seguinte, e o voo 107 é a última conexão do dia. Eis um desastre em letras garrafais. Um homem bem na frente dele – vamos chamá-lo de Sam – está furioso. Ao chegar ao guichê, ele aparenta estar fora de controle, xingando alto e ameaçando processar a empresa aérea. Ele está se esforçando muito para fazer com que todos saibam o quanto ele é importante:
– Sabe quem sou eu? – ele diz aos prantos – Eu sou o diretor de vendas da Diversified Widgets International! (Por ser uma história real, foi omitido o nome de uma empresa bastante conhecida, que consta na lista das 500 melhores empresas da Fortune). Preciso fechar um negócio no qual trabalhei por seis meses. Você não tem ideia do quanto isso pode me custar caso eu perca esse voo. E você vai pagar por isso! Você é incompetente! Vou denunciá-la e farei com que você seja demitida, nem que seja a última coisa que eu faça!
Logo após o fato, ele se retira, ainda reclamando algumas coisas. A única pessoa que possivelmente poderia ajudar Sam a chegar a seu destino é Sally, a atendente a quem ele se dirige de forma intimidadora e insultante. Mas na mente de Sam, Sally é apenas um alvo conveniente, alguém para ser usada em seu momento de raiva incontrolável. Ele já estava estressado desde o momento em que viu na tela seu voo marcado como atrasado, pensando em várias hipóteses ruins. Assim que uma dessas se concretizou, ele liberou esse sentimento.
Sam não está acostumado a prestar atenção em seu estado interior. Ele não tem noção do quanto está com raiva, mesmo quando as pessoas que estão ao seu redor sabem que ele está prestes a explodir. Ele é incapaz de perceber seus sentimentos, muito menos controlá-los.
Seu descontrole o impossibilita de pensar claramente e de agir em prol dos seus interesses. Em vez disso, ele humilhou Sally, a única pessoa que poderia ajudá-lo naquele momento. Como esse encontro poderia ser tratado de forma diferente? O problema de John não é muito diferente do de Sam. Ele está viajando não apenas para se encontrar às 9h da manhã seguinte com o gerentes sênior. Eles querem que John justifique o custo dos seus serviços, pois esses gerentes receberam uma proposta igual, por um preço bem mais em conta. Se ele não chegar a tempo – e é o que provavelmente vai acontecer – os gerentes poderão interpretar sua ausência como um sinal de que não valoriza seus negócios. Se ele perder este negócio, seu bônus anual ou até mesmo seu emprego pode estar em risco. John havia planejado que terminaria sua apresentação durante a noite, já hospedado em um hotel. Agora, ele não está hospedado em hotel nenhum, e o voo de amanhã cedo não o lavará a tempo. Este é um bom motivo para se entrar em pânico.
Mas John sabe que de alguma forma precisa manter a calma. Em meio à agitação e ao nervosismo crescentes e Sam gritando com a atendente, ele começa a refletir em outras situações parecidas. Ele saiu vivo em todas elas e busca conforto nesse fato, mesmo sabendo que dessa vez não há nada que se possa fazer. Ao mesmo tempo, ele reage ao rompante do Sam:
– Não acredito nisso. – ele diz – Ele está colocando tudo pra fora justamente em cima da única pessoa que pode ajudá-lo. Eu compreendo que ele esteja com raiva, todos nós estamos. Mas não é assim que ele vai conseguir o que quer, e também não vai me dar o que eu quero.
John fica por 1 ou 2 minutos analisando sua situação, sempre ciente de como está se sentindo. Ele diz a si mesmo para ficar calmo, que deve haver uma solução, mas somente se mantiver a calma. Ele não consegue, de fato, frear sua ansiedade, mas ele fica atento e compreende os pensamentos depressivos e desconfortáveis que habitam sua consciência.
Ele já chega preparado no balcão:
– Deve ser difícil lidar com esse tipo de gente – diz ele a Sally.
– Você não tem ideia – ela responde, mas seu sorriso indica que ele talvez saiba. Ele sorri de volta e diz:
– A empresa tem problemas, e as pessoas acham que a culpa é sua? Não faz sentido ele te culpar. Sério, eu me sinto mal pelo o que você tem de passar.
Nesse momento, Sally já esboça um sorriso maior e recupera sua confiança:
– É do trabalho – ela diz – agora, como posso ajudar?
John explica sua situação brevemente, e deixa claro que ficaria muito grato se ela pudesse fazer algo por ele. Ele diz que andaria até de camelo para chegar a tempo. Sally dá uma gargalhada e se volta ao seu teclado. Após o que parecia ser uma eternidade, ela apresenta uma rota que o deixará a mais de 1.000km de distância de onde deveria estar, mas que pelo menos, estará hospedado em um hotel assim que chegar. Ele fica muito agradecido e ainda diz que irá escrever uma carta de recomendação à empresa. Afinal, ele salienta, as pessoas adoram reclamar quando as coisas dão errado, mas raramente reconhecem alguém que se oferece para ajudar.
O resultado? John chega ao seu destino, um pouco cansado da viagem, mas preparado, pois ele utilizou bem seu tempo durante a viagem. Sam, no entanto, está atolado, cheio problemas, forçado a correr em busca de um hotel perto do aeroporto, sentindo-se deprimido porque não chegará a tempo para sua reunião e gritando com a pessoa responsável pelo seu serviço de quarto.
Por que contamos essa história? Porque a vivência desses dois homens cobre quase todos os componentes da Inteligência Emocional, desde a Consciência Emocional e Empatia até o Controle dos Impulsos e o Otimismo. Note que seus êxitos e fracassos, respectivamente, não têm nada a ver com posição do IQ. As aventuras de John tiveram um final feliz em longo prazo, pois ele fez bom uso de sua habilidade com pessoas, enquanto Sam falhou, pois não tinha habilidade nenhuma com as pessoas.
Os ABCDEs
A seguir, iremos olhar um dos principais quadros que sustentam muitos dos exercícios que já sugerimos praticar de forma intuitiva, sem especificar o método – o ABCDE – um sistema que altera suas percepções, atitudes e comportamentos, que foi criado pelo Dr. Albert Ellis, reconhecido internacionalmente como o pai da Teoria/Terapia Racional Emotiva. A grande contribuição de Ellis para a Psicologia do Século XX foi insistir no fato de que você pode mudar suas emoções ABCDE por meio do raciocínio lógico e dedutivo, em vez de seguir suas emoções. Para ilustrar como isso funciona, vejamos outra situação, neste caso, envolvendo um casal de jovens namorados.
- Bobby e Brenda namoram há mais ou menos um ano, desde que a família de Brenda mudou-se para a vizinhança. Há três meses, no entanto, Brenda saiu do Estado para estudar em uma faculdade. Eles se falavam por telefone e e-mail, mas se encontraram apenas uma vez nesse período, quando ela voltou para o aniversário da irmã. Então, Bobby estava muito ansioso para reencontrá-la para o Natal. Imagine a surpresa de Bobby quando viu o carro dela parado em frente à sua casa no dia 20 de dezembro. “Nossa, ela já chegou” – pensou.
“Estou surpreso por ela não ter dado as caras”. Ele sentou e esperou o telefone tocar, mas não valeu de nada. Mais tarde, naquela noite, durante o jantar, o pai de Bobby percebeu que ele estava, estranhamente, muito silencioso:
– Você parece preocupado, parece que está em outro mundo – ele disse.
– Estou um pouco triste – Bobby respondeu. Brenda já chegou há horas e ainda não ligou. Acho que ela perdeu o interesse por mim. Provavelmente encontrou outro cara, alguém na faculdade. Não me sinto bem para comer, vou para o meu quarto. Com essas palavras, ele se levantou e saiu da mesa.
De que forma podemos compreender o desânimo repentino de Bobby? Num primeiro olhar, a resposta parece ser óbvia: ele estava triste simplesmente porque Brenda não ligou.
Ellis poderia rotular essa falha de Brenda como um efeito Ativador (A) e a reação de Bobby à Consequência (C). Nesta situação, a Consequência se desdobrou de dois modos: Bobby se sentiu desmoralizado, triste e pessimista, e deixou a mesa de jantar, buscando abrigo em seu quarto. A – o fato de Brenda não ter ligado – leva diretamente à C. No entanto, essa leitura do fato omite um passo intermediário crucial, que muitas vezes passa despercebido: Crenças (B, de Beliefs) – neste caso, as crenças de Bobby, ativadas ao ter contato visual com o carro de Brenda. Estes sentimentos morosos e insubstanciais, que preencheram a mente de Bobby foram causados por sua depressão e seu afastamento (C).
A lição importante é: se A leva a B, e B leva a C, as consequências podem ser modificadas identificando e neutralizando essas crenças pessimistas e adaptando-as a pensamentos mais realistas. E o que funciona para uma pessoa pode funcionar para você.
Antes de explicarmos a tabela ABCDE, que auxiliará na identificação e na neutralização das suas crenças, precisamos definir o que se entende sobre crenças. A crença é um atalho para a “autoconversa” silenciosa que temos durante o dia. Nosso diálogo interno é contínuo, mas geralmente não temos ciência deste fato. São frases do tipo “Nossa, tá frio lá fora” que resmungamos em nossas cabeças sempre que nos deparamos com um dia frio; “Espero que o sinal continue aberto”, sempre que nos aproximamos do mesmo quando estamos dirigindo, ou “Droga, odeio quando isso acontece”, quando tentamos colocar a chave errada na fechadura.
Algumas dessas “autoconversas” podem ser causadas por conta das “fitas datadas”: um replay automático de constatações duras dadas a você quando era uma criança. Muitas vezes, eles podem tomar a forma de frases como “Você não consegue fazer nada direito?” ou “Você nunca chegará na frente”. Identificar essas “fitas datadas” ajuda a neutralizar a força que elas têm.
A habilidade de estar em sintonia com este diálogo interior é fundamental para a conclusão da tabela ABCDE, esse sistema de crenças que é responsável por nossos sentimentos e comportamentos. Com isso em mente, siga esses passos – baseados em pesquisas – a seguir. Através deles, você pode dar suporte à sua Inteligência Emocional modificando as crenças que a enfraquecem e substituindo estas crenças por outras que vão melhorá-la.
Nós sabemos que algumas pessoas ficam desinteressadas com exercícios escritos – o que deve lembrar de todo o fardo e tédio que eles tinham ao fazer seus deveres de casa durante o Ensino Médio ou a Universidade. Quando pedimos para que realizassem a “autoconversa” – seus Bs (crenças) ao encarar esse A (evento ativador) de exercícios – eles relataram, na maioria dos casos que diziam a si mesmas coisas do tipo: “Odeio escrever essas coisas, fazer tabelas… isso parece um dever de casa… é muito difícil… eu vou falhar. Tentem provar que posso mudar! Eu nunca vou mudar”.
Se você já teve esse tipo de crença, a tabela ABCDE e os exercícios a seguir irão lhe mostrar como você pode mudar esses pensamentos autodestrutivos. Se olhar em outras áreas da vida, provavelmente irá descobrir que faz os mesmos exercícios sem vê-los como “chatos” ou “muito difíceis” ou “a prova de que sou uma falha”. Se um dos seus hobbies é jogar golfe, esquiar, costurar, cozinhar ou degustar vinhos, você está bem mais proficiente agora do que era antes. Por quê? Porque você trabalhou em cima disso, teve aulas, aprendeu por meio de vídeos, livros, seminários ou professores. Aqui, você fará o mesmo: exercícios de passo a passo que vão melhorar a sua consciência de como fortalecer essas habilidades que elevam a sua consciência emocional e amplificam suas habilidades em ser mais bem-sucedido em sua vida pessoal e profissional. Vamos começar.
- Desenhe uma tabela como mostrado abaixo:
Pense em alguma situação que te fez ficar chateado na última semana. Na coluna C (consequências), escreva quais foram seus sentimentos e comportamentos. O exemplo de Bobby está logo abaixo:
2. Escreva o incidente – o evento ativador – que pareceu acionar essa situação delicada na coluna A, como Bobby fez abaixo:
3. O aspecto chave dessa abordagem ABCDE agora é de capturar seus Bs (crenças): aquele monólogo feito que facilmente passa despercebido, acionado por um evento ativador. Veja se pode dizer com precisão o que se passou pela sua mente logo após tal evento. Veja o que Bobby fez abaixo:
4. Sua próxima tarefa é debater, discordar e descartar (D) esses pensamentos ruins que alimentam seus Cs. Coloque cada item do seu monólogo interno sob uma inspeção rigorosa, fazendo para si mesmo os questionamentos abaixo e escrevendo as respostas na coluna D, como o Bobby fez:
- Qual é a prova? Faça uma lista de evidências objetivas e verificáveis que suportam cada crença, ou a falta delas. Bobby não tinha provas de que Brenda perdeu o interesse nele. Teriam eles brigado recentemente? Não. Estaria ela ligando com menos frequência? Não. Quando ela ligava, parecia ser menos amável? Não.
- Há explicações mais lógicas e alternativas para explicar o evento ativador? Bobby escreveu cada explicação alternativa concebível para o motivo de Brenda não ter ligado: ela estava cansada após a longa viagem que fez e pegou no sono; ela e seus pais saíram para visitar sua irmã; ela havia chegado momentos antes e estava ocupada falando com seus pais; eles pediram a ela que ficasse um pouco mais de tempo com ele; ela ainda estava com uma gripe que ela havia mencionado a ele uns dias atrás; ela queria desfazer as malas e descansar um pouco antes de se encontrar com ele.
- Se alguém me pedisse um conselho nessa situação, o que eu poderia dizer para alterar a perspectiva dele(a)? Para Bobby, foi de grande valia imaginar como ele poderia responder a uma situação dessas se Jake, seu amigo, se dirigisse até ele após ver o carro de sua namorada, Kathy, parado na calçada, dizendo em um tom preocupado de que sua namorada não o ama mais e que provavelmente encontrou outro rapaz. Bobby se pegou pensando da seguinte forma: “Calma, Jake, você e Kathy estão juntos há muito tempo”. Vocês têm um bom relacionamento, e ela é muito franca com as preocupações dela. Acho que está exagerando. Não existe evidência alguma, baseada no que você me contou, de que ela não quer mais ficar com você. E Jake, acho que é pior para você ficar sentado aqui nessa aflição. Por que não liga para ela? Talvez descubra que ela não esteja em casa ou que esteja só dormindo ou que estava prestes a te ligar. Faça alguma coisa, não fique parado!”
- Por acaso já estive em uma situação parecida, com os mesmos pensamentos para descobrir momentos depois que eu estava errado? Bobby se lembra que cria tempestades em copo d’água com muita frequência, logo assim que começa um novo relacionamento. Quando Carmine – uma garota que namorou há dois anos – se atrasava 10 ou 20 minutos, ele reagia de modo exagerado. E isso nunca foi motivo para mostrar que ela havia perdido o interesse por ele. Foi apenas mais um exemplo de falta de atenção a um detalhe. Aliás, foi ele quem terminou o namoro.
- Se sim, aprendi alguma coisa daquele resultado, e eu posso aplicar este conhecimento a essa situação? Bobby se deu conta de uma coisa: “Eu tenho tendência a pensar no pior quando se trata de novas namoradas. Eu imagino o pior resultado possível – elas perderam o interesse e estão com outra pessoa. Essa crença negativa se reflete na minha falta de confiança”.
5. Finalmente, na coluna E, escreva os Efeitos ao preencher a coluna D – como o debater, o discordar e o descartar mudaram seu entendimento e suas crenças em cima do evento ativador e, consequentemente, seus sentimentos e comportamentos.
O poder da abordagem ABCDE tem que neutralizar esses pensamentos ilógicos e negativos e permitir que crenças mais racionais apareçam, o que muda seus Cs para comportamentos e crenças mais eficientes e adaptativas.
Trocando os sentimentos “quentes” pelos sentimentos “frios”
Outro meio de tratar suas crenças autodestrutivas é identificar e se afastar dos sentimentos “quentes” e se aproximar dos “frios”. Os sentimentos “quentes” têm um efeito em espiral sobre o humor e os pensamentos, enquanto os “frios” tendem a ser menos intensos. Ainda que os sentimentos “frios” sejam desagradáveis, eles são bem menos incapacitantes. Eles são respostas a situações adversas, como perda do emprego ou problemas matrimoniais que são menos dolorosos e mais fáceis de lidar do que com os sentimentos “quentes”. A tabela a seguir demonstra a diferença entre os sentimentos “quentes” e “frios”.
Apenas se substituirmos esses sentimentos pouco saudáveis por outros menos voláteis é que poderemos gerenciar melhor nossos sentimentos e abordá-los no mundo exterior. Assim como no nosso caso, Bobby não tinha esperança em mudar seu estado mental até reconhecer e chegar em um acordo consigo mesmo, a fim de mudar seu humor depressivo e seu comportamento irritadiço.
Os grandes e absolutos “devo” e “deveria”
Muitos fatores conspiram a favor da criação dos indesejados sentimentos “quentes”, mas os ofensores principais são os grandes e absolutos “devo” e “deveria”. Cada um deles pode ser dividido naquilo que nós cobramos de nós mesmos e dos outros, e do que esperamos do mundo que nos cerca.
Eis aqui os “devos”…
Eu devo __________________________ (para que eu me sinta bem).
Você (ele/ela/eles) deve(em) _______________________ (para que eu me sinta bem).
O mundo e minhas condições de vida devem ___________________ (para que eu me sinta bem).
… e os “deverias”:
Eu absolutamente deveria ________________ (para que eu me sentisse bem).
Você (ele/ela/eles) deveria(am) ___________________ (para que eu me sentisse bem).
O mundo e minhas condições de vida deveria(am) ____________________ (para que eu me sentisse bem).
Essas demandas não fazem sentido. Não há nenhuma lei declarando que nenhum de nós deva se comportar de certo modo ou atingir determinados objetivos. E nem que os outros devam se comportar de acordo com nossos desejos. No que diz respeito ao mundo, é notoriamente injusto. Estas expectativas indiscriminadas e irreais, se não forem atendidas, levam diretamente a um prato cheio de sentimentos “ferventes”.
Em nossa situação, a ideia de que Brenda deveria ter ligado para Bobby assim que chegasse em casa é irracional. Pode haver várias razões válidas para ela não ter ligado, mas de qualquer maneira, por que ela deveria ligar? Bobby certamente preferiria que ela o fizesse, mas Brenda poderia preferir que ele tivesse ligado para confirmar se ela havia chegado.
Se Bobby fosse capaz de trocar os seus “devos” e “deverias” pelos “preferirias”, que são bem mais apropriados e que dão maior margem de negociação e acordo, ele estaria no caminho certo para atingir sentimentos mais “frios” e sensíveis.
Como você deve imaginar, todos estes “devos” e “deverias” levam, inescapavelmente, a conclusões mais errôneas e irracionais ainda. Essas conclusões são o que chamamos de hot links para as emoções “quentes”, pois eles, inevitavelmente pioram a situação. Felizmente, eles podem ser “resfriados” através de técnicas muito simples. As 5 conclusões principais – ou “erros de pensamento” – e seus substitutos desejados são os seguintes:
“Isso é terrível” – Em vez de nadar em desespero e dizer para si mesmo “Isso é irremediavelmente terrível, 100% de certeza”, tente usar termos mais moderados e que mitiguem o senso de catástrofe. Por mais que algo, seja lá o que for, seja inconveniente, um aborrecimento real, um “pé no saco” ou como queira chamar. Isso não é o fim do mundo, provavelmente.
“Não aguento mais” – Em vez de cair nessa armadilha, lembre-se de que se manteve de pé – e continuará se mantendo – independente da dificuldade. Elas fazem parte da vida, e a vida tem o hábito de continuar.
Condenação e reprovação – Empilhar coisas em sua cabeça e lançar outras pessoas a fatos terríveis só leva à raiva e fúria. Essa raiva aponta em duas direções, que ferem igualmente. Culpar-se por tudo que dá errado ou enxergar que o que aconteceu é digno de punição ou castigo, seja ele real ou imaginário, não irá melhorar sua situação. No que diz respeito a culpar os outros, pode ser que isso aumente seu vocabulário, mas dificilmente isso irá te tirar do buraco que você mesmo cavou. Lembre-se de que a culpa não é construtiva; em vez disso, procure soluções que resolvam o problema.
“Sou desprezível” – Se isso fosse verdade, não faria sentido algum você ou alguém lutar por uma coisa perdida. Todos nós carregamos coisas boas sem dizer coisas do tipo “Eu não sirvo pra nada, sou um total e completo fracasso. Por isso que eu sempre falho. Não mereço nada de bom”. Pensamentos e frases assim levam diretamente à depressão e desespero.
Lembre-se de que, mesmo que tenha feito algo de errado, você tem mais qualidades do que defeitos, que na maioria das vezes faz o certo, que pode aprender com os erros e que ainda é uma boa pessoa que merece coisas boas.
Entre em sintonia com aquilo que seu corpo quer dizer
Uma pessoa cética pode dizer: “Por que não chafurdar na pior das hipóteses e se conformar com isso, atingindo algum tipo de catarse?” Não faz muito tempo que esse pensamento predominava em certos círculos. “Deixar tudo como está” era considerado a atitude preferida para suprimir emoções; ventilar a raiva ou o desespero era considerado ser mais saudável que guardar tudo para si mesmo.
Há um grau de verdade nesse ponto de vista, mas as verdades psicológicas, em muitas das vezes, vêm com mais mudanças sutis do que com frases de efeito. Pesquisas mais recentes mostram que, paradoxalmente, “ventilar” amplia ainda mais o sentimento de raiva, em vez de diminuí-lo. O momento de detectar e eliminar suas crenças irracionais é quando as emoções estão “quentes” – quando se está triste, chateado, irado, na defensiva, deprimido ou estressado. Sendo os sentimentos e as expressões corporais tão ligados um ao outro, que quando você está incerto do que está sentindo – em vez de algo que é de fato desagradável – você pode começar a obter uma visão mais precisa daquele sentimento de acordo com o comportamento do seu corpo. Há vários exemplos na tabela abaixo.
Focar nas manifestações do corpo em relação a esse e a outros sentimentos nos permite classificar estes sentimentos como sendo pertencentes a um dos quatro grupos emocionais básicos: ansiedade, raiva, depressão e contentamento. O contentamento não apresenta problemas. Quanto ao resto, identificar e rotular estes sentimentos nos dá um grau de controle sobre eles. Nós podemos começar a nos livrar deles, detectando e debatendo as crenças irracionais que os colocaram em ação, alcançando novos e mais desejáveis efeitos.
Um final feliz
O preenchimento da tabela ajudou Bobby a dominar a arte dos ABCDEs em vez de sucumbir à melancolia, de acordo com seu novo e melhorado monólogo: “Nossa, estou para baixo mesmo. Também, não é pra menos! Olha o que eu andei dizendo a mim mesmo. Isso não é jeito de se comportar. Quem disse que Brenda tem que fazer alguma coisa senão ligar para mim assim que chegar? Tudo bem, ela não ligou. Há várias explicações lógicas. O que não é lógico é esse meu comportamento, pensando que ela me largou por causa de um cara qualquer. Isso não faz sentido – não há evidências disso mesmo. Ela sempre foi aberta e franca comigo. E como eu a agradeço por agir assim? Saio pela tangente e me tranco no quarto. Vou fazer algo para mudar isso. Na verdade, vou ligar para ela e dar as boas-vindas”.
Como pode ver, a habilidade de Bobby em identificar e superar suas crenças irracionais o permitiram mudar para sentimentos mais “frios”, descobrindo razões mais plausíveis e alternativas para as atitudes de Brenda, admitindo e confrontando seu sentimento de rejeição, e agindo de modo mais positivo e lógico. E mesmo se, apesar dos seus esforços, os eventos de fato fossem os piores possíveis – ou seja, se Brenda realmente quisesse terminar com ele, e está esperando para dar a notícia – ele estaria preparado para lidar com a situação de modo honesto, realista e verdadeiro.
(Aliás, quando Bobby ligou, ele descobriu que ela estava de fato dormindo, por conta do cansaço da viagem. Ele deixou recado para assim que ela acordasse, ligasse para ele. Duas horas se passaram e a campainha tocou, e Brenda correu para seus braços dizendo o quanto ela sentia a sua falta).
Referência:
Tradução livre do capítulo 2 do livro The EQ Edge: Emotional Intelligence and Your Success, Steven J. Stein, Howard E. Book
Tema: Inteligência Emocional, EQi 2.0
Subtemas: Como identificar e neutralizar crenças irracionais, na maioria das vezes negativas, adaptando-as para pensamentos mais realistas e otimistas utilizando tabela ABCDE, um sistema de crenças que é responsável por nossos sentimentos e comportamentos.
Objetivo: Autoconhecimento, Autodesenvolvimento, Coaching,