Mudar pode não ser tão fácil, mas e se for desafiador?5 min de leitura

Sair da zona de conforto dói, mas quando o gestor  conhece a sua equipe e a desafia de acordo com as suas competências  individuais, a mudança acontece com todos engajados.

Seja a mudança que você quer ver no mundo.”

– Mahatma Gandhi

No 3º Congresso sobre Gestão de Pessoas no Setor Público Paulista, em sua palestra Desafio à gestão de pessoas: por que é tão difícil mudar?, Pedro Calabrez, conceituado neurocientista, afirmou que cada cérebro humano possui cerca de 100 bilhões de neurônios. O número de conexões entre eles é maior do que a quantidade de átomos no universo. Isso em um único cérebro, dando uma boa noção da magnitude da complexidade do cérebro humano.

Ele explica que o cérebro tem uma dificuldade enorme para a mudança de comportamento. O que ele costuma fazer é um processo de autoengano. “Imagine que a mente tem várias pastas, como um computador. Ela rejeita tudo o que incomode, o que contrarie o conteúdo da pasta. Nosso comportamento é muito mais irracional do que se pensa.

Figura 1 Zona de conforto: a justificativa para os nossos hábitos rotineiros.
Figura 1 Zona de conforto: a justificativa para os nossos hábitos rotineiros.

A esse comportamento irracional, automático, damos o nome de hábito. Isso faz com que a gente adote ações padronizadas, que gastem pouca energia, e sem perder muito tempo.

O hábito é muito conveniente, agradável, e mudar significa quebrar a rotina. Isso é difícil porque, quando se quer mudar uma prática usual, vem o autoengano, e você, em vez de mudar, procrastina.

Essas promessas de futuro nos impedem de mudar agora, trazendo consequências seríssimas para a gestão de pessoas nas empresas, já que todo mundo tem seus próprios hábitos. Elas estão há muito tempo fazendo a mesma coisa porque é confortável, automático e poupa energia.

Mudar acaba sendo complexo, demanda energia e gera desconforto levando à enorme tendência que temos de nos enganar. Quanto mais desafiadora for a mudança, mais poderoso será o autoengano. mas o ser humano adora apontar o dedo para fora. A culpa então é do chefe, do governo, a culpa é sempre dos outros. “Quando você aponta um culpado, você se livra da culpa”, esclarece ele.

Como mudar o hábito, então? Todo hábito tem três grandes dimensões. A mais óbvia é a do comportamento automático que se repete sem gasto de energia. Isso sempre gera uma recompensa, mas antes sempre há um gatilho, algo que detona o comportamento. “Se você quiser mudar um hábito, preste atenção naquilo que leva ao hábito”, explica.

Sempre há uma situação que nos leva a repetir o comportamento.

A segunda dica é mudar uma coisa de cada vez. Antes de concluir, ele lembra que o mundo está sempre mudando. “Então, em vez de ficar apontando o dedo para o mundo, pare de se preocupar tanto com o que está fora do seu controle e comece a mudar aquilo que você pode: o seu comportamento de fato. O mundo não muda com crenças, o mundo muda com ações, recomendou a todos.

Calabrez observou que o conhecimento neurocientífico não considera o cérebro humano de forma isolada. “A gente sabe que a maior prioridade do cérebro hoje é pensar sobre outras pessoas, basta observarmos”.

Figura 1.1 Cérebro social.
Figura 1.1 Cérebro social.

Nosso cérebro é social, ele está o tempo todo integrado com outros indivíduos. Ele não está diretamente conectado com outros, o que gera certo egocentrismo agravado pelo individualismo que temos hoje.

Segundo Calabrez, vivemos em uma sociedade, especialmente a ocidental, em que as pessoas agem cada vez mais como indivíduos, e menos em grupos. Esse processo histórico, e até econômico, faz com que as pessoas percam o respaldo do outro, e essa perda é perigosa, pois o suporte é uma das principais garantias de conforto e alegria.

A principal variável para a felicidade é a qualidade das relações. Essa deve ser a nossa preocupação, pois podemos ter controle somente sobre elas.

Outra pergunta apresentada foi “como mudar o coletivo apenas mudando a si mesmo”? A gente tem que ter objetivo, tem que ter desafio.

Figura 1.3 Somos responsáveis pela qualidade das nossas relações.
Figura 1.3 Somos responsáveis pela qualidade das nossas relações.

O estresse é uma coisa que faz mal, todo mundo sabe. Existe um tipo de estresse que, na medida correta nos motiva. Isso é o que a gente chama de desafio. O desafio é necessário ao engajamento. O engajamento é uma atividade que oferece um desafio que esteja em linha com as suas competências. Se o desafio for muito grande em relação a elas, você estressa. Se for pequeno, você fica entediado, fica desmotivado. Então os gestores precisam oferecer desafios adequados às competências dos seus colaboradores.

Essa é uma boa forma de promover as mudanças no nível individual. O que acontece na maioria das vezes é uma distribuição errada dos desafios.

Como romper hábitos acima dos 50? Tem gente que acha que a partir de uma determinada idade não precisa mais mudar. “A mudança é benéfica em qualquer idade. O tempero da vida é a mudança, é o desenvolvimento, é a aprendizagem. Quanto mais você mantiver seu cérebro ativo mais isso vai te fazer viver melhor”, conclui.

Pedro Calabrez
Pesquisador do Laboratório de Neurociências Clínicas (LiNC) da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP.

Fonte: http://www.cqh.org.br/portal/pag/doc.php?p_ndoc=1103

 

Tema: Neurociência

Subtema: Por que é tão difícil mudar?

Objetivo: Autoconhecimento, Autodesenvolvimento, NeuroCoaching, Coaching, NeuroLeadership, Coaching nas Empresas, Desenvolvimento de Liderança, Desenvolvimento de Equipe, Team Building.

 


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