Uma breve análise dos jovens líderes4 min de leitura

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O mito é uma linguagem que organiza a vida, embora muitas vezes não saibamos o significado de suas origens. Identificamo-nos com eles de forma quase intuitiva, desprovida de racionalizações. Por isso, o mito é uma imagem esclarecedora, irrenunciável do autodesenvolvimento.

O mito de Faetonte à era da liderança prematura clarifica o poder das imagens mitológicas ao entendimento dos cenários atuais.

Faetonte era filho do deus Hélio com a ninfa Climene. Ao nascer, o Deus Sol prometeu à mãe da criança que jamais negaria a realização de um desejo ao filho. Na adolescência, depois de exaustivos questionamentos do jovem, foi revelada essa parte importantíssima de sua narrativa. Quando descobre a identificação paterna, Faetonte resolve ir conhecê-lo, para provar a sua ascendência divina.

Ao chegar no suntuoso palácio, onde jamais existia a escuridão, Faetonte se pôs a imaginar como seria dirigir a carruagem de seu pai, composta por imponentes corcéis, que levava a luz, os dias e as noites a todas as regiões do planeta. A fascinação de estar à frente daquele veículo o consome por inteiro. Ele, então, pede ao pai que o permita pilotar, apenas por uma vez.

Hélio não pode lhe negar o desejo, pela promessa feita à sua mãe. Todavia, ele alerta o jovem dos perigos da vertiginosa trajetória, explicitando suas próprias dificuldades e medos. Hélio, preocupado, diz que ele não terá maturidade para dirigi-lo. O jovem insiste. Nenhum conselho o impediria de navegar pelo céu magnífico que se abria no horizonte.

A tragédia estava anunciada. Ao subir na carruagem, os cavalos já pressentiam a diferença de peso do seu condutor. Poucos foram os momentos de glória para Faetonte. Alguns instantes de completo êxtase, ínfimos, perto do desastre. Ele perdia, a cada segundo, o controle sobre os poderosos corcéis, desequilibrando-se nas alturas. Cada lugar pelo qual passava sofria as consequências de seu voo irresponsável.

Após quase destruir toda a uniformidade da Terra, Zeus é impelido a matá-lo, com um de seus desconcertantes raios. Seu corpo foi, como um meteoro, até o fundo do rio Erídano. Lá, diz o mito, suas irmãs erigiram um túmulo, em homenagem à sua ousadia juvenil.

No contexto do século XXI, quais ensinamentos este mito pode nos trazer? Como podemos nos apropriar dessa história, na busca pelo autoconhecimento? Onde vemos Faetontes e Hélios, transformados em pessoas de carne e osso?

Uma consideração fundamental acerca desse mito diz respeito à figura paterna que percebemos atualmente. O pai – culpado pelo excesso de trabalho e pelo contato reduzido com seus filhos – escolhe não impor limites como parte da educação. O medo ao desamor de seus descendentes o torna escravo de caprichos desajuizados. Permite deixá-los passar por experiências para as quais não estão preparados.

A impossibilidade do não é terrível na construção psicológica de uma criança. O sentimento de onipotência será cruelmente aniquilado no futuro, caso não seja “alertado” desde a tenra infância. Conhecer a insuficiência e deparar-se com os próprios defeitos é imprescindível para degustar alguma sabedoria, ao longo da vida.

Não houve, para os jovens líderes, uma educação que reivindicasse o limite como aprendizagem. Os pais, apavorados com o fantasma do desamor, delegaram às escolas a transmissão de valores e a construção da cidadania. Mas, ao livrarem-se da culpa, esqueceram-se de que o papel do ensino formal não supriria a orientação parental, no que concerne à vivência da restrição.

O medo de não ser amado pelos filhos, traz-nos, agora, um nítido retrato da geração que chega à liderança nas organizações. Estes jovens não se defrontaram com as sábias frustrações limitadoras. Na ausência do limite o jovem se sente capaz de conduzir o carro do Sol, produzindo catástrofes inimagináveis.

As empresas, portanto, tornaram-se o lugar onde os jovens recebem, pela primeira vez, a percepção de impossibilidades. São obrigados a se deparar, subitamente, com a própria falibilidade. Isto tem sido um dos maiores desafios para as organizações. Como é possível ensinar tardiamente a necessidade de impotência? Como a carreira desses jovens será traçada, em suas expectativas insustentáveis de grandeza?

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