Consciência Emocional12 min de leitura

A compreensão da motivação que leva e o impacto que causa determinado sentimento

Aquele que conhece o universo e não se conhece, não conhece nada”

– Jean de La Fontaine, 1679

A Consciência Emocional é a habilidade de reconhecer seus sentimentos, diferenciá-los, entender por que esses sentimentos ocorrem e discernir sobre o impacto daquele sentimento nas pessoas que estão à sua volta.

O autor nos apresenta duas situações distintas, mas que apresentam um ponto em comum, que é a raiva. No primeiro caso, conta-se a história de um passageiro que perdeu seu voo e que, totalmente enfurecido, não se dá conta de que sua raiva influencia negativamente a atendente, dificultando suas chances de conseguir um novo voo. A outra situação remete a um pai de família que chega em casa enfurecido, após não ter recebido um bônus que esperava, descarregando sua raiva em sua filha e sua esposa. O que o autor nos diz é que, se tivéssemos esta consciência, o cenário, sem dúvida, seria diferente. Em vez de esbravejar aos quatro cantos, esta pessoa poderia chegar e dizer, em um tom de voz mais calmo, que teve um problema no trabalho e que gostaria de ficar um tempo sozinho, de receber o carinho da família, entre outras coisas. Ou seja, tendo esta consciência de mudar de um sentimento a outro, estaremos aptos a ter o suporte necessário das outras pessoas ao nosso redor.

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Conheça a Ti Mesmo

A Consciência Emocional é a base na qual a maioria dos elementos da Inteligência Emocional se sustenta, é o primeiro passo em busca da sua própria compreensão e da mudança. Obviamente, não se pode administrar o que não se pode perceber. Se não sabe o que está fazendo, por que está fazendo e o modo que isso afeta os outros, você não poderá mudar. Se você acredita, em sua própria visão, que não há nada de errado, então não há motivo para mudar. Por isso que essa consciência é primordial. Dominar essa habilidade lhe dará condições para trabalhar em cima da melhoria em todas as outras áreas da Inteligência Emocional. Sem ela, ficaríamos rodando em círculos ao tentar resolver problemas. Não receberíamos feedback, não monitoraríamos o nosso progresso, e nossas chances de alcançar metas seriam bem pequenas.

As pessoas que têm um senso de Consciência Emocional forte percebem quando estão tristes, irritadas, e sabem o quanto esses sentimentos podem alterar o seu comportamento, além de afetar os outros em volta. Geralmente, elas também podem descobrir qual incidente contribuiu para aquele sentimento, e essa capacidade permite controlar o seu comportamento.

O Chefe Enquanto Déspota

O que acontece quando falta Consciência Emocional? Eis um exemplo de como as coisas podem sair dos trilhos.

Em um escritório, havia um chefe que sempre “bancava o valentão”, dando ordens de todas as formas, achando que estava fazendo o seu trabalho e, o pior de tudo, que este era seu dever. Suas respostas, sempre em um tom de voz muito alto, podiam causar estranhamento em qualquer um desavisado, mas esse tipo de resposta era dado com toda a sinceridade pelo chefe, que não percebia como estava se sentindo ou se comportando. É um cenário extremo, porém único.

A RAIVA PODE SER O OFENSOR PRINCIPAL DO ESPECTRO DAS EMOÇÕES. ALTERA O NOSSO JULGAMENTO, FAZENDO COM QUE NOS ESQUEÇAMOS DE ONDE ESTAMOS E COM QUEM ESTAMOS LIDANDO.

Com isso, somos os últimos a notar o impacto que nossos sentimentos causam nas pessoas, e estar atento a isso é o primeiro passo para controlá-los.

As emoções que estão fora do controle nunca funcionam a nosso favor. Se estiver nervoso, sarcástico e menosprezado, e nem se dá conta disso, duas coisas podem acontecer. Primeiro: – fisiologicamente falando – você pode estar no risco de ter um aumento de pressão e desenvolver uma úlcera. Segundo: você poderá desanimar as pessoas sem saber o porquê. Elas podem fugir de você ou, na “melhor” das hipóteses, elas podem te ver de uma forma muito negativa – não importando quais outras habilidades você tenha de melhor – você não terá a menor chance de demonstrá-las. As relações-chave podem “azedar” antes mesmo de serem criadas. Você enfraquecerá sua capacidade de empatia e diminuirá a sua habilidade em lidar de modo sensato e eficiente com outros, em qualquer tipo de situação.

Há algum tempo, esse tipo de comportamento “tirano” por parte dos chefes era aceitável, e até mesmo desejado. Várias gerações de executivos galgaram posições no grito, pois suas táticas eram consideradas essenciais para os lucros da empresa. Tais chefes não tinham remorso algum em fazer com que seus funcionários trabalhassem demais. Há 30 anos, isso poderia funcionar bem; a economia era bem mais tradicional, e os empregados se apegavam ao que tinham, permanecendo leais à empresa, na alegria e na tristeza. Hoje, a maioria dos indivíduos não atura isso, pois sabem que isso colabora para um ambiente de trabalho estressante e pouco saudável. E sabem que, se são bons em alguma coisa, eles irão em busca de um lugar mais agradável para trabalhar, mesmo se houver uma grande diferença no salário. Os acionistas também perceberam que um chefe mandão pouco contribui para os valores das ações de uma empresa. O custo de contratação e treinamento em um círculo infinito de recolocação de funcionários eventualmente tem o seu efeito no final. Mais importante ainda, o nível baixo de moral engendrado por um tirano nas posições de cima afeta consideravelmente a produtividade. Os líderes verdadeiramente competentes sabem disso, mais do que gritar ou usar sua força para chegar ao sucesso.

Um dos autores presenciou uma situação mais recente, ao aplicar um exercício de liderança em um grupo, que incluía vários ex-funcionários da Enron. Um dos participantes, um executivo sênior que foi vítima da queda da Enron, visualizou as tabelas que foram criadas pelos participantes, que descreviam as características do melhor e do pior chefe com o qual já trabalharam. Ele achou interessante ver quantas dessas características foram valorizadas pela equipe sênior da Enron. Ao achar que ele estava se referindo a um dos “melhores chefes”, o autor perguntou quais eram. Ele foi até o quadro dos “piores chefes” e selecionou as características a seguir. São elas: é explosivo, tem o ego elevado, sempre acha que está certo, é direcionado a resultados, sempre diminui as questões éticas, é rígido, não possui controle emocional e sempre possui uma atitude séria. Está claro que estas características são indicativos de liderança, pois ajudam a estabelecer uma dominância no grupo. Ao ser explosivo – ou assustador – você pode criar um ambiente de medo. Sendo assim, as pessoas mais fracas, em sua maioria, podem evitar o confronto. Ou seja, você usou emoções negativas para manter um papel de liderança dominante. Muitas dessas características citadas ajudam a definir o conceito de liderança de uma forma patriarcal.

Os líderes de hoje operam em prol do time, da organização e da sociedade como um todo. Descobriu-se que as habilidades emocionais, como responsabilidade social e Consciência Emocional são melhores para se mensurar o sucesso do líder do que qualquer outra habilidade técnica ou cognitiva.

HOJE, OS LÍDERES, ALÉM DE PRECISAREM TER UMA HABILIDADE COGNITIVA E UM PENSAMENTO CRÍTICO, TAMBÉM NECESSITAM DE INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PARA SE TORNAREM BEM-SUCEDIDOS.

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Dirigindo-se ao Chefe “Déspota”

O autor nesse trecho nos ensina a usar Inteligência Emocional ao nos dirigirmos a um chefe mandão. Primeiramente, deve-se verificar a realidade. Veja com os seus sócios ou amigos do trabalho, a visão do chefe que eles têm. Caso o feedback seja o mesmo que o seu – que acredita que seja mandão – então sua visão estará bem precisa. Nos casos raros em que ninguém parece concordar conosco, deve-se então fazer uso da Consciência Emocional e da autopercepção se há algo na relação entre chefe e empregado que o faz agir de forma depreciativa. Pergunte-se se há como conviver com essa atitude sem se deixar levar pelo estresse. Se não, procure por um meio de comunicar esta questão a seu chefe. Diga que gostaria de falar com seu ele por uns 20/30 minutos. Diga o quão preocupado está em fazer um bom trabalho, que espera dar suporte a ele, e que deseja um feedback claro e honesto da sua parte. Depois, fale de suas preocupações: “Sinto que muitas vezes você fala comigo de maneira sarcástica e depreciativa. Isso afeta muito nosso relacionamento e meu desempenho.” Caso haja interesse, por parte do seu chefe, naquilo que você está dizendo, ótimo. Mas e se o cenário for o contrário? E se ele responder algo do tipo: “Não estou nervoso! É você que está sensível demais!” Mostre a ele que seu tom de voz mudou ficou mais alto, que teve uma postura mais agressiva, entre outras características. E diga também que você está interessado em criar uma relação ganha-ganha entre vocês, dando o seu máximo para que tal relação seja alcançada. Caso ele tenha uma postura defensiva, pode significar que ele é limitado no que diz respeito à sua Consciência Emocional. Se for assim, considere falar com seus colegas a fim de saber se eles se interessam em ter o mesmo tipo de conversa com o chefe. Se não, há apenas três opções: ou você tolera, ou muda de emprego ou fala com seu superior, juntamente com dois ou três dos seus colegas que compartilham a sua mesma visão de “chefe-déspota”.

Consciência Emocional Desaparecida

Tem também a história de Rick, um homem de 60 anos, dono de uma companhia de artigos para esportes radicais, que acaba de contratar Luke, como seu COO. Rick quer mostrar a Luke a importância de se manter um contato próximo com seus funcionários. Com isso, vai até uma das lojas e é recebido por uma das atendentes, a qual tinha 20 anos de idade, aproximadamente. A atitude sugestiva de Rick perante ela incomoda muito Luke e Brenda, a atendente, pois Rick age como se estivesse flertando com Brenda, sem que ele percebesse. Em outras palavras, Rick esqueceu-se completamente de como suas atitudes poderiam refletir no outro, já que estava mais preocupado em mostrar que ainda tinha vitalidade para o recém-contratado Luke, mesmo se aproximado de sua aposentadoria.

Fique Atento às Reações dos Outros Quanto ao Seu Comportamento

Um pouco de Consciência Emocional pode ter efeitos significativos para si e para os outros. Trata-se da história de um homem, que, por trabalhar na parte administrativa de uma empresa, participa de várias reuniões e, muitas vezes, chega em cima da hora. Ele percebeu que os outros participantes da reunião ficavam inquietos e um pouco desconfortáveis até com a sua chegada. Logo, parou para reparar no que fazia com que eles se sentissem tão desconfortáveis assim: ele chegava correndo, suado, sem fôlego, passando uma mensagem de pessoa desorganizada e afobada. Agora, ele faz um esforço consciente antes de adentrar em uma reunião. Antes de chegar, diminui o seu ritmo e dá alguns passos mais lentos até a porta, a fim de transmitir uma mensagem de confiança. Ao chegar, pede desculpas pelo atraso e se senta, pegando seus materiais, mantendo uma postura organizada e confiante. Através dessa pequena mudança de atitude, ele percebeu que ninguém mais o encarava de forma estranha, o que de fato contribuiu para que eles tivessem um senso de estima acerca desse homem. Essa mudança de atitude não envolveu processos complexos de pensamento, mas sim uma pequena reflexão e consciência, que fez com as consequências fossem as melhores possíveis.

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Conheça seus “Pontos de Dor”

O objetivo da Consciência Emocional não é analisar as emoções a cabo, mas de suprimi-las ou acabar com elas todas de uma vez. Algumas vezes, nos comportamos de modo inapropriado e nunca nos livraremos desses sentimentos desagradáveis; eles são completamente normais após uma frustração, uma crítica ou uma perda. Mas devemos lutar para sermos conscientes acerca daquilo que sentimos e do motivo pelo qual temos esses sentimentos, para que não sejamos levados por comportamentos impensados.

Ter Consciência Emocional também é um benefício preventivo. A técnica ABCDE, a ser descrita posteriormente, e o papel que a “autoconversa” irracional e debilitante tem ajudam muito. Se conseguirmos interpretar corretamente os eventos que estimulam essa “autoconversa”, poderemos, com a prática, aprender a alterar o que dizemos a nós mesmos na ocorrência desse evento. Digamos que você está ciente dos seus “pontos de dor” – aqueles mínimos pontos em que as pessoas podem, sem querer, alfinetar. Por exemplo, se você está prestes a fazer uma entrevista de emprego (quando pode ocorrer muita crítica), você poderá se preparar para procurar por crenças irracionais. Digamos, que em tempos passados, sua “autoconversa” era extremamente defensiva e que você usava falas do tipo “Quem o entrevistador pensa que é? Ele deveria falar dos meus pontos fortes em vez de ficar me detonando!”. O autor sugere repensar esse monólogo, através de nossas experiências passadas. Com isso, podemos alterar nossa visão pessimista para uma mais otimista e mais produtiva. Após essa mudança, a frase que antes era “Quem ele pensa que é para me detonar?”, se torna “Como assim? Que evidências ele tem para agir dessa forma comigo? Seria apenas seu estilo? Há alguma outra explicação? Minha resposta ao sentimento de me sentir detonado pode não ser a intenção do outro. Há uma diferença. É bem mais provável que ele deseje meu bem. Pode ser que ele queira apenas me ajudar e que eu tenha dificuldade em ouvir um feedback negativo. Devo lembrar de diferenciar a minha reação da intenção da pessoa.”

DOWNLOAD DA ATIVIDADE

Referência:

Tradução livre do capítulo 3 do livro The EQ Edge: Emotional Intelligence and Your Success, Steven J. Stein, Howard E. Book

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