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A habilidade de se respeitar e de se aceitar, de gostar de si mesmo do jeito que é
Ninguém pode fazer com que você se sinta inferior sem o seu consentimento”.
– Eleanor Roosevelt, This is My Story, 1937
Ter uma autoestima saudável é apreciar as possibilidades e os aspectos positivos percebidos, assim como aceitar os próprios aspectos negativos e limitações, e ainda assim se sentir bem consigo mesmo. É conhecer suas forças e fraquezas, e gostar de si mesmo com todos os defeitos. Este componente conceitual da inteligência emocional está relacionado com sentimentos genéricos de segurança, força interior, autoconfiança e autossuficiência. Os indivíduos com uma autoestima sadia não têm problemas ao reconhecer abertamente e apropriadamente quando cometem erros, quando estão errados ou quando não sabem das respostas, pois sabem de suas fraquezas e forças e se sentem bem consigo mesmas. Sentir-se bem consigo mesmo depende da apreciação e respeito próprios, os quais são baseados em um senso de identidade bem desenvolvido. No outro lado deste contínuo estão os sentimentos de inadequação pessoal e inferioridade.
Por exemplo, Marcie frequentemente se preocupava em não causar uma boa impressão nas reuniões: “Não acho que me vesti bem” ou “Talvez tenha falado demais e monopolizei a conversa”. Um observador objetivo poderia discordar de ambas as falas, mas Marcie colocou suas interações sociais diárias em um patamar tão alto, que agora não consegue alcançar sua própria expectativa. Ela foi incapaz de reconhecer suas forças – de que estava bem apresentável e engajada nas interações.
Ishmail, por outro lado, não conseguia se perdoar por qualquer erro que percebia: “Tirei 85 na prova, deveria ter tirado 95. O que há de errado comigo? Perdi 10 pontos por causa de erros bobos. Céus, como eu sou burro”. O monólogo de Ishmail reflete a crítica severa que faz de si mesmo por não ser perfeito e da sua falta de tolerância ao cometer erros. Ele não consegue assumir seus defeitos.
Você quer gostar de si e pensar coisas positivas sobre si mesmo, mas o que realmente importa são os “mais” e “menos” que estão envolvidos. A autoestima (escrita nesta ocasião como self-esteem), como nós conhecemos, se tornou um chavão tanto na sala de aula como no local de trabalho, sem mencionar na indústria multimilionária. Há uma variedade de livros, registros em áudio e vídeo, programas de computador e sites da Internet dedicados exclusivamente a aumentá-la. Alguns desses, aliás, estão bem fora do rumo.
Nós, certamente, não estamos minimizando a ideia de sentir-se bem consigo mesmo. O problema é que uma ênfase indevida à autoestima leva a uma hipervalorização cega. Dizer o quanto você é bom em algo pode ser, como pode não ser, uma parte válida de uma abordagem de reparo ao ego danificado, mas não é um fim em si mesmo. É por isso que educadores e psicólogos começaram, recentemente, a reexaminar a proposta de autoestima de 3 décadas em crianças, a qual deveria servir como um tipo de proposta contra tendências agressivas e outras dificuldades emocionais.
A baixa autoestima pode ser de fato disfuncional, mas a autoestima artificial pode ser tão problemática quanto. A criança que aprende o mantra do “Eu sou especial” sem construir, simultaneamente, habilidades necessárias para a vida está prestando um tremendo desserviço. Elogiar demais, sem ter a certeza de que está ajudando a criança a realmente conquistar algo que seja digno de aprovação, pode levar a devastação quando o mundo falhar em dar aquele tapinha nas costas dele (a) por um sucesso que não foi merecido. A autoestima verdadeira é construída gradativamente, camada por camada, através do orgulho justificado em conquistas reais, não por outra pessoa tecendo um casulo de falsa positividade.
Já que a ideia de autoestima necessariamente amortece a agressividade e outras desordens, destacamos que o Dr. Robert Hare, o maior expert em psicopatas, avaliou um grande número de assassinos em série, entre outros criminosos que estão em prisões em todo o mundo. Muitos deles acreditam ter uma autoestima extremamente alta (um exemplo do que Hare diz como sendo o comportamento “grandioso”), se enquadrando como pessoas absolutamente maravilhosas. Suas mães os amam, suas namoradas os adoram. Claramente, algo bom demais pra ser verdade.
Goste de si mesmo, com todos os defeitos
É claro que você não quer fixar apenas em suas fraquezas, em que cada pedaço seja tão desequilibrado quanto negar as deficiências (por medo de que elas, de algum modo, anulem suas forças, não importando o quanto elas sejam demonstráveis). E nem quer soprar suas habilidades desproporcionalmente ou cair na armadilha de entrar com receio de que suas habilidades não sejam tão boas assim. A ideia é gostar de si mesmo como um todo, ainda que isto seja contraditório.
A autoapreciação (ou autoestima) significa você se sentir confortável consigo mesmo (a) o bastante para que não tenha a necessidade de tentar (e geralmente falhar) demolir as pessoas com títulos extravagantes ou outras armadilhas de egos inflados. Se você realmente tem autoapreciação, não precisa de ostentação.
Não dê o passo maior do que a perna
Pense nos milhares de aspirantes a empresários que traçaram metas irrealistas, declarando que seriam “os novos Bill Gates”. Com isso, eles não querem dizer apenas que farão do seu jeito, mas que farão do seu jeito e por conta própria. Eles falham, inevitavelmente, por não reconhecerem suas fraquezas e erros em áreas onde poderiam pedir ajuda. Caso consigam tocar um negócio, eles com frequência não irão delegar ou colaborar de modo eficaz, pois são, essencialmente, inseguros.
Na verdade, eles não prestaram atenção no que fez Bill Gates ser tão bem-sucedido. Ele talvez seja um dos homens mais ricos do mundo por esforço próprio. Ele surge forte e nem sempre com reações positivas, mas ninguém nega que ele construiu uma empresa excepcionalmente bem-sucedida do zero, servindo ao mesmo tempo como o pioneiro na transição para os computadores pessoais. Sua enorme contribuição na era da informação e comunicação pode não ser totalmente apreciada durante os anos que se seguem, mas ele pode ser ainda classificado, juntamente com Henry Ford, como um dos ícones dos negócios no Século XX.
Certamente, alguém tão inteligente e talentoso como Gates deve ser extremamente egocêntrico, vaidoso e dono de si mesmo. Qualquer pessoa que conseguisse ganhar tanto dinheiro em um espaço de tempo tão curto teria totais justificativas de se achar uma pessoa excepcional. O ego de Gates deve ser ilimitado, tão grande quanto a Lua.
Pelo contrário. Gates, como a maioria das pessoas verdadeiramente bem-sucedidas, não é nem um pouco assim. Todos que convivem com ele revelam que ele sempre anda de classe econômica, em vez de primeira classe ou executiva – em parte por conta de que não sente a necessidade de fazer propaganda de si mesmo. Aliás, como ele mesmo vê, ele é bem magro e não precisa da cadeira mais larga do avião.
Mike Sax, um conhecido de Gates, disse uma vez a um jornal que ele “pode aparentar ser convencido de vez em quando. Mas ele não tem um ego suficiente para reconhecer que há pessoas que sabem de determinados assuntos melhor do que ele. Ele é esperto o bastante para se cercar de pessoas que conhecem tecnologia, negócios e marketing”. Nós achamos que Gates, se realizasse o EQ-i, teria uma pontuação alta no que diz respeito à autoestima.
Muita importância – talvez até demais – é dada à necessidade de projetar um ar de total confiança no local de trabalho. Mas há uma linha tênue nessa questão. As pessoas que agem como “sabe-tudo” estão mais propensos a uma aterrissagem difícil. Ao pensar que podem lidar com qualquer situação, elas extrapolam. Quanto mais se aventuram em áreas desconhecidas, mais vulneráveis se tornam. É o “ter ciência” de que não sabe, descobrir quem sabe e capitalizar em cima daquele conhecimento que separa o “sucesso” do “poderia ter sido”, do “deveria ter sido” e do “quase”.
No mundo dos negócios, vemos, com frequência, muitos líderes que falham por conta da sua dificuldade com a autoestima, a qual é tumultuada – ou seja, não consegue tolerar defeitos e certamente não consegue tolerá-los publicamente. Eles encobertam sua autoestima frágil ao nunca admitirem que estão errados, culpando os outros pelos próprios erros, e enfatizando suas “habilidades” excessivamente, para que os outros não percebam seus defeitos. Eles se apresentam como sendo os “sabichões”, que necessitam estar cercados de pessoas obedientes, que não podem tolerar qualquer sugestão ou crítica, que nunca se permitem ser responsáveis por um erro, mas que em vez disso lidam com o erro achando outra pessoa para culpar.
Exercícios
O que faz da autoestima ser importante para o sucesso na vida? Em nossas pesquisas, descobrimos que muitas pessoas que estão satisfeitas com sua vida e suas conquistas têm pontuações maiores nesta subescala. Novamente, não é a intenção dizer que elas inflam seu ego. Em vez disso, elas são precisas ao medir e apreciar suas forças e fraquezas. Um modo de validarmos isso é através do instrumento EQ-i 2.0 360°. Ele compara uma pessoa com como as outras que a conhecem bem – gerentes, pares, subordinados, cônjuges – completariam as mesmas pontuações acerca daquela pessoa.
Quanto mais você sabe e capitaliza suas forças, mais confiante você será no curto e longo prazos. Ter domínio de suas forças ajuda a construí-las ainda mais. Vamos supor que você descobriu ser muito bom em matemática. Manipular números é fácil para você, e você gosta de resolver problemas matemáticos. Ao fazer mais trabalhos nessa área, praticando com exercícios cada vez mais difíceis, você irá melhorar muito mais. Muitas pessoas que são proficientes em matemática gostam de trabalhar com números. Elas também têm um apurado senso em saber em quais problemas são boas. O mesmo acontece com nossas habilidades emocionais. Conhecer suas forças e desenvolvê-las pode levá-lo à excelência. Por outro lado, vemos muitas pessoas falharem em algo, pois pensam que podem fazer de tudo. Elas superestimam suas capacidades. As pessoas que são de fato bem-sucedidas sabem onde não são boas. Elas decidem trabalhar para melhorar uma determinada habilidade por conta própria ou se cercam de pessoas que podem compensar suas fraquezas. Pense nas pessoas mais felizes em seus casamentos. Ao mesmo tempo em que têm gostos e interesses similares, elas têm habilidades complementares? Por acaso uma delas é mais fria e comedida sob estresse e a outra melhor em gerenciar as finanças da casa? Por acaso uma educa melhor os filhos enquanto a outra é mais extrovertida socialmente com os amigos? Uma importante chave para o sucesso é estar consciente de suas limitações e saber como irá lidar com elas. E isso requer um grau de autoconhecimento.
Referência: