Neuroleadership®: Comportamento, memória e diversidade9 min de leitura

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Por Denise Manfredi*, Consultora da Fellipelli

O termo MEMÓRIA refere-se ao processo em que adquirimos, formamos, mantemos e evocamos a informação. Ao se relacionar INTELIGÊNCA com memória, é necessário entender a fase de AQUISIÇÃO, denominada no senso comum de “APRENDIZAGEM”. Resulta que só evocamos aquilo que APRENDEMOS. Podemos afirmar que somos aquilo que recordamos. Não podemos fazer o que não sabemos e tampouco comunicar algo que não conhecemos.

O mais curioso é que o nosso cérebro é capaz de “lembrar” quais são as memórias que não queremos evocar, e esse esforço é inconsciente. Assim, também somos o que resolvemos esquecer.  O cérebro humano seleciona cuidadosamente as “más lembranças” e evita evocá-las.

A nossa memória do passado nos conta quem somos e nos diz quem poderemos vir a ser. O conjunto de nossas memórias determina o que denominamos de PERSONALIDADE. A identidade dos povos provém das memórias que são comuns a todos os seus membros. Quando nos encontramos em um meio que possui um conjunto coletivo de memórias distinto do nosso meio, descobrimos laços entre os diferentes grupos, baseados na memória coletiva de cada um deles.

Por isso, um brasileiro em Cincinnati, estado norte-americano de Ohio, é mais fácil estabelecer amizade com um latino do que com um nativo de IDAHO.

É inadequado relacionar memória com índole. Os processos são completamente diferentes. A memória humana é similar quanto aos mecanismos essênciais, quando se fala da memória de um animal. Mas, muito diferente no conteúdo.  Recordamos melodias e letras. Um rato não. Utilizamos a linguagem, para adquirir, codificar, guardar e evocar as informações.

As memórias são moduladas por emoções, pelo nível de consciência e pelo estado de humor. São codificadas por neurônios. É difícil lembrar de algo quando estamos cansados, deprimidos ou muito ansiosos.

Nas experiências que deixam memórias, os olhos que veem se somam ao cérebro que compara e ao coração que bate acelerado.  No momento de evocar a lembrança, muitas vezes é o coração que pede ao cérebro que se lembre, e muitas vezes a lembrança acelera o coração.

A nossa memória pessoal e coletiva descarta as coisas triviais e, às vezes, incorpora fatos irreais. Vamos perdendo ao longo dos anos aquilo que não nos interessa, ou aquilo que não nos marcou.

Mas, também vamos incorporando ao longo dos anos, mentiras e variações que enriquecem as nossas lembranças. Por exemplo, pessoas que foram companheiras e/ou mentoras, podem adquirir uma tonalidade heroica.  Geralmente, somos benignos e piedosos quando lembramos de pessoas já falecidas, mesmo que tenham tido comportamentos negativos em algum nível.

As nossas memórias provêm da experiência. Por isso, é mais sensato falar de “memórias” e não de “memória.”

Os mecanismos empregados pelo Sistema Nervoso Central (SNC), para diferentes qualidades de memórias, boas ou más, são diferentes. Algumas são “visuais”, outras “olfativas”, outras “motoras”. Algumas dão prazer, outras são terríveis.

Os insights, por exemplo, são frutos de memórias que consistem na súbita associação entre duas ou mais memórias preexistentes.  Outras não requerem nenhum conhecimento prévio. E outras ainda consistem em uma mescla de informações e sensações sem lógica associativa, como os sonhos, cujas memórias nos levam a lembrar melhor do que com base em fatos reais.

Os tipos e subtipos de memórias e suas principais características

Memória declarativa

Você lembra de maneira explícita. A pessoa fala sobre ela. A memória é expressada.

A memória declarativa se divide em:

Memória semântica: Fatos e eventos independentes do contexto em que foi adquirida. Codifica a informação e o conhecimento abstrato sobre o mundo que nos rodeia.

Exemplo: a moeda do Brasil é o Real.

Memória episódica: Fatos e eventos particulares de um contexto determinado. Codifica informações e são relativos a associações e eventos de caráter pessoal. Exemplo: minha filha nasceu em Londres.

Memória procedimental: Trata-se da informação inconsciente. O hábito automatizado. Foi adquirida de forma implícita.  São:

Aprendizado motor e o condicionamento

Algumas memórias podem durar mais do que outras. Memórias de longo prazo são aquelas que você pode recordar dias, meses ou anos, após terem sido armazenadas. Ela representa apenas uma fração daquilo que experimentamos diariamente. As memórias de longo prazo são formadas por um processo de consolidação de memória. A maior parte das informações é mantida no encéfalo apenas temporariamente.  Essas são as memórias de curto prazo. São vulneráveis e podem ser apagadas por um trauma na cabeça ou por eletroconvulsoterapia.

Na memória de trabalho, as informações duram segundos. Requer repetição para gravar. Por exemplo, quando alguém informa o número de telefone. O nosso SPAM de dígitos normalmente é sete, mais ou menos dois. Isso significa que processamos de cinco a sete itens de cada vez.

Vários experimentos indicam que estruturas no lobo temporal medial são especialmente importantes para a consolidação e o armazenamento de memórias declarativas.

O mais curioso é que os neurocientistas Vilayanur Ramachandran e David Brang, do Centro do Cérebro e da Cognição da Universidade da Califórnia, observaram que os sinestésicos têm resultados acima da média em testes de memória, e que o fenômeno é consideravelmente mais comum entre artistas, o que sugere possível relação com a criatividade.

“Há evidências de que a sinestesia é hereditária. Ela pode ser evolutiva, pois está relacionada ao melhor desempenho de algumas faculdades”, dizem os neurocientistas. Outro estudo, divulgado pelo Current Biology, mostra que pessoas com um tipo específico de sinestesia, a de cor grafema – isto é, letras ou números são associados a tonalidades –, apresentam hipersensibilidade do córtex visual primário. Através de um experimento de estimulação magnética transcraniana, pesquisadores da Universidade de Oxford verificaram que elas percebem estímulos visuais, como flashes ou pontos luminosos, três vezes mais facilmente que voluntários não sinestésicos. Mas os autores deixam claro que ainda são necessários mais estudos para comprovar se o fenômeno é realmente uma “vantagem” cognitiva.

Memória – Jornada da aprendizagem e inteligência

A região CA1 do HIPOCAMPO desempenha um papel fundamental na formação de MEMÓRIAS DECLARATIVAS, porém, essa região não atua isoladamente. Ela envolve o Neocórtex Temporal Vizinho, o Giro Dentado e a região CA3.  A região CA1 se comunica com todas as regiões do cérebro que registram e modulam o caráter emocional das experiências e com as regiões que determinam se essas experiências são novas ou não. Também está conectada com regiões encarregadas de processar informações referentes aos estados de consciência, alerta e ansiedade.

As memórias extintas permanecem latentes e não são evocadas. Por exemplo, você pode não se lembrar de como aprender a andar de bicicleta, mas, nunca mais se esquece de como pedalar. Se passar algum tempo sem o fazer, logo se lembra e sai pedalando após pequeno retreino.  É importante lembrar que extinção não significa esquecimento.

As memórias extintas podem reaparecer, desde que se apresente um estímulo adequado. As memórias esquecidas não reaparecem.  A quantidade de memórias que esquecemos é muito maior do que a daquelas que permanecem conosco tempo suficiente para merecerem o nome de memória de longo prazo.

AS MEMÓRIAS LATENTES, OU SEJA, AS EXTINTAS, MAS NÃO ESQUECIDAS, IMPACTAM O NOSSO COMPORTAMENTO HOJE. E MUITAS VEZES NÃO PERCEBEMOS. POR ISSO, A IMPORTÂNCIA DO CONSTANTE PROCESSO DE AUTOCONHECIMENTO. AS MEMÓRIAS EPISÓDICAS SÃO MENOS ESQUECIDAS. POR ISSO, O APRENDER PRECISA DO FAZER, DO VIVENCIAR, O QUE AUMENTA O NÍVEL DA NOSSA INTELIGÊNCIA.

Uma memória extraordinária

Algumas pessoas tem uma capacidade mnemônica notável. E são caracterizadas como muito inteligentes. No entanto, a inteligência pode se expressar de diferentes formas e características. É necessário cuidado e prevenção dos rótulos. Os mais auditivos podem ser virtuosos na música, os mais visuais e abstratos, na arte; os que apresentam uma memória motora excepcional, nas atividades do corpo, e assim por diante.

Muitas vezes, encontramos pessoas com uma memória excepcional com números (spam de dígitos), mas, com limitações em reconhecimento facial, acompanhamento de uma narração por causa de reconhecimento contextual. Em vez de ignorar as palavras exatas, não se fixa nas ideias importantes e significados.

Não se conhece as bases neurais de memórias extraordinárias. Pode acontecer de não separar sensações oriundas de diferentes sistemas sensoriais, ou talvez as sinapses não sejam tão maleáveis. Nunca saberemos.

Conclusões possíveis

Sabemos que a memória difere de qualidade a partir da genética, impactos das emoções, dos ambientes e relações, e da motivação pessoal.

Varia também se a pessoa é mais sensorial ou intuitiva. O que precisa ficar no radar é a nossa percepção e abertura para lidar com as diferenças. Precisamos olhar para o potencial do outro e para o nosso, ter cuidado com o impacto psicológico e emocional ao desenvolver o outro.

Outro fator importante é o gerenciamento do nosso julgamento. Deparamo-nos, muitas vezes, com pessoas que foram menos estimuladas ou vítimas de dores sociais fortes, independentemente de classes sociais. Por isso, foram impactadas no seu processo cognitivo, ou seja, percepção, aprendizagem e retenção do que foi aprendido em que a memória tem papel fundamental. Uma vez entendendo os processos neurais e químicos do nosso cérebro, fica muito mais fácil respeitar as pessoas e a nós mesmos.

Temos a liberdade de escolhas nos nossos relacionamentos, mas, respeito é essencial.

Outro ponto é que a inteligência é múltipla. Assim, cuidado quando diz que alguém é inteligente. A pergunta é: “Inteligente em que especialidade?”

E mais, o treinamento adaptativo cognitivo, embasado no aumento da capacidade para gerenciar uma maior quantidade de informação durante determinado tempo, eleva significativamente o rendimento nos testes que valorizam a inteligência fluida.
Curiosamente, capacidades intelectuais superficialmente muito diferentes parecem encontrar-se fortemente ligadas por alguma classe de limitação compartilhada.

Quando pudermos superar essa dificuldade, talvez estejamos mais perto de atingir um objetivo que fascina tanto cientistas quanto leigos: encontrar formas de nos tornarmos mais inteligentes.

*Inspirada pelo conteúdo do livro: NEUROCIÊNCIA DA MENTE E DO COMPORTAMENTO – LENT, R. et al., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018

Tema: Neurociência, NLI

Subtema: Os tipos de memória e seus mecanismos interferindo no processo de aprendizagem e formação do individuo.

Objetivo: Autoconhecimento, Autodesenvolvimento, Coaching, Neurocoaching, Inteligência Emocional.


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