Por Denise Manfredi
Consultora da Fellipelli Consultoria Organizacional
21/06/2018
Você deve ser grato às ervas daninhas que crescem em sua mente, porque elas afinal vão enriquecer a sua prática.”
Shunryo Suzuki – Mestre Zen
Ouça em formato de podcast:
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, todos nós criticamos e somos vítimas daquilo que é criticado. O que muito se ouve nos contextos organizacionais é que, o fato de nos ressentirmos de alguns impactos nos relacionamentos, é muito ruim. Isso significa na linguagem popular: levar tudo para o pessoal.
Ora, se o cérebro é social (Lieberman, 2013), e a dor social ativa a mesma região cerebral da dor física, transforma-se num desafio enorme as pessoas não se sentirem impactadas no que é mais íntimo delas.
A mensagem é clara, segundo pesquisas: o nosso cérebro é profundamente social, com alguns dos nossos circuitos datando de mais de 100 milhões de anos.
Assim, aonde chegamos com essas constatações?
É IMPORTANTE COMPREENDER O NOSSO CÉREBRO SOCIAL PARA SATISFAZER UMA NECESSIDADE EXISTENCIAL DE ENTENDER O QUE SIGNIFICA SER COMO SOMOS. TUDO O QUE FAZEMOS NA VIDA E NO TRABALHO É AFETADO PELO ENTENDIMENTO DE “QUEM SOMOS NÓS.”.
Todos nós queremos uma boa vida, e a pergunta de um milhão de dólares é: “O que nos faz felizes? O que é necessário para termos uma vida saudável?” Temos, aqui, uma faca de dois gumes.
Todos nós precisamos de pessoas para amar e respeitar e de pessoas que nos amem e respeitem. A vida valeria a pena sem isto?
As nossas necessidades básicas colocam o sentimento de pertencer no mesmo nível da água e do alimento. O nosso sistema de prazer e dor não responde somente aos impactos sensoriais que podem provocar a dor ou a recompensa interna. Mas, admiravelmente, esse mesmo sistema é ativado nos gostos de “amargo” e “doce”, gerados no mundo social.
QUANDO EXPERIMENTAMOS DORES SOCIAIS OU SENTIMOS A ANGÚSTIA DE SENTIR A CONEXÃO SOCIAL RETIDA, TORNAMO-NOS INCAPAZES DE FOCAR EM MUITA COISA ATÉ QUE ESSA NECESSIDADE SEJA ATENDIDA. EIS AQUI UM MAQUINÁRIO NEURAL PODEROSO QUE CRIA MOTIVAÇÃO PARA MAXIMIZARMOS AO MÁXIMO NOSSAS EXPERIÊNCIAS SOCIAIS POSITIVAS E MINIMIZAR AS NEGATIVAS.
Recentes pesquisas com neuroimagem proporcionaram provas adicionais sobre a importância de sermos estimados socialmente. Essas pesquisas demonstraram que ao receber a recompensa social (feedback positivo, relevante para quem recebe), o nosso cérebro assimila da mesma maneira como se a pessoa estivesse recebendo um prêmio em dinheiro (Izuma, Saito & Sadato, 2008).
Assim como várias coisas na vida, as experiências que criam prazer, quando elas estão presentes, também tendem a causar dor, quando estão ausentes. Colocando de forma simples, a nossa necessidade de conexão pode, infelizmente, nos levar à dor e ao sofrimento quando essas necessidades não forem atendidas.
Relacionando essa dinâmica neural do nosso cérebro social com expectativas e crenças, percebemos a influência dessas instâncias em vários domínios psicológicos.
EXPECTATIVAS E CRENÇAS COLOREM A NOSSA PERCEPÇÃO, CONDUZEM O NOSSO APRENDIZADO E MEMÓRIA E, CLARO, MOLDAM AS NOSSAS EMOÇÕES.
Apesar de sua profunda influência, as pesquisas, apenas recentemente, começaram a focar nos mecanismos nos quais as expectativas, de fato, modulam as experiências subjetivas. As expectativas moldam o mundo que percebemos para o bem ou para o mal.
Sabe-se que as expectativas de pesquisadores influenciam os resultados experimentais. (Rosenthal & Rubin, 1978).
Existem duas grandes classes de expectativa: expectativas de estímulo e expectativas de resposta. A primeira foca em crenças do estímulo externo e, a segunda, em crenças sobre as suas próprias respostas ao mundo externo.
AS EXPECTATIVAS E CRENÇAS TÊM UM PAPEL PENETRANTE NO FUNCIONAMENTO CEREBRAL. ESSAS SÃO CENTRAIS PARA O APRENDIZADO, AFETO E EMOÇÕES, E TAMBÉM PARA A COORDENAÇÃO DO COMPORTAMENTO ADAPTATIVO.
Devido à importância fundamental das expectativas no bem-estar social e físico, essas têm muito peso nas emoções e estão presentes das nossas experiências de diferentes formas. Podem extrair respostas afetivas básicas e fortes emoções, e também podem influenciar a forma como percebemos os eventos esperados.
Então… a provocação aqui é:
É POSSÍVEL NÃO SER IMPACTADO PESSOALMENTE?
Não, não é! No entanto, há saídas. Nós humanos temos habilidades para refletir sobre nós mesmos, pensar sobre as nossas características, crenças e valores em relação às outras pessoas, e então usar a nossa capacidade de autocontrole para frear impulsos indesejáveis, para que possamos continuar perseguindo os nossos objetivos de longo prazo. Essa é a jornada do autoconhecimento, nem sempre confortável!
O nosso sistema pessoal funciona, muitas vezes, como um cavalo de Troia, esgueirando-se nos valores e crenças daqueles ao nosso redor, sob a capa da noite sem nunca ter sido o mais sábio. Quando usamos a nossa capacidade de autocontrole para perseguir os nossos objetivos e valores, geralmente, se tornam valores e objetivos que vão beneficiar a sociedade, tanto quanto ou até mais, do que beneficiariam a nós mesmos.
Quando nos tornamos conscientes de que somos entidades sociais que podem ser julgados por outros, o nosso autocontrole nos ajuda a assegurar de que as nossas ações estejam alinhadas com os valores daqueles ao nosso redor.
Estes mecanismos são a cola que nos mantém harmonizados uns com os outros mais facilmente do que o contrário.
O MAIS IMPORTANTE AO CHEGAR ATÉ AQUI, É PERCEBER QUE VOCÊ É HUMANO, E QUE VAI SIM SER IMPACTADO PESSOALMENTE, MAS, QUE POSSUI RECURSOS INTERNOS PARA REFLETIR, ENTENDER, RESSIGNIFICAR OU DIALOGAR E ESCLARECER O QUE ESTÁ GERANDO DESCONFORTO. JÁ, O QUE RECEBEU A REAÇÃO DO OUTRO, COM ESTE ENTENDIMENTO, BUSCARÁ HABILIDADES PARA ENTENDER, RESSIGNIFICAR, DESENVOLVER OU DIALOGAR COM O OUTRO COM MUITO MAIOR COMPREENSÃO.
Não é um caminho onde só há gramados e areia macia, mas, sim um caminho onde há o que nos recompensa e também o que nos desafia a mudar. Eu diria que vale a pena; porque assim o ambiente organizacional poderá ser, de fato, transparente.
Ser transparente é poder ter a liberdade de expressar o que se sente sem ser julgado. Ao contrário, quando essa expressão não for produtiva, que haja diálogo aberto para que haja consciência dos impactos no momento e a ressignificação necessária para a produtividade e positividade no time. Só que, para isso, é necessária a confiança. Confiança em si e no outro.
E como conquistar essa confiança tão sonhada? Bem…esse é um tema para outro artigo.
Referências Bibliográficas:
- LIEBERMAN, Matthew D., Social – Why Our Brains Are Wired to Connect, New York: Penguin Random House Company, 2013
- IZUMA, K. Saito, D.N., & SODATO, N. Processing of Social and Monetary Rewards in the Human Stratium. Neuron, 58, 284-294
- ROSENTHAL, R. & RUBIN, D. Interpersonal Expectancy Effects: The first 345 studies. Behavioral and Brain Sciences, 1(3), 377-415, 1978.
Tema principal: Neurociência
Subtemas: Uma reflexão sobre o comportamento humano diante de críticas no ambiente organizacional. A tomada de consciência de nossas crenças e valores.
Objetivo: NLI, Neurocoaching, autodesenvolvimento, cultura organizacional