A confiança em si mesmo ao planejar e tomar decisões
É o sinal de uma mente educada ser capaz de entreter
um pensamento sem aceitá-lo”.
– Aristóteles
A independência é a habilidade de ser autodirigido e autocontrolado em seus pensamentos e ações, estando isento de dependência emocional. As pessoas independentes confiam em si mesmas ao planejar e tomar decisões importantes. Conseguem se levantar com seus próprios pés. Mas podem, no entanto, buscar e considerar as opiniões de outras pessoas antes de tomarem a decisão correta para si mesmas no final; consultar os outros não é, necessariamente, um sinal de dependência. As pessoas independentes são capazes de trabalhar de forma autônoma, evitando se apegar aos outros, a fim de satisfazer suas necessidades emocionais. A habilidade de ser independente depende do grau de autoconfiança e força interior que uma pessoa possui, além do desejo de alcançar as expectativas e obrigações sem se tornar escravo destas.
Sam era uma pessoa amigável. Estava em seu segundo ano da faculdade e conhecia uma variedade de pessoas. Ele faltava as aulas e constantemente copiava as anotações dos outros. Ele poderia ser uma pessoa bem próxima dos outros, desde que esse “outro” pudesse ser usado para ajudá-lo nas matérias. Ele sequer conseguia estudar sozinho. De algum modo, ele era capaz de manipular os outros a fim de conseguir anotações, ajuda nas provas e assistência nos ensaios. Ele até fazia com que os outros o ensinassem a matéria dada.
Sam é um exemplo perfeito de um “sanguessuga” ou um aproveitador. Ele era totalmente dependente dos outros no que dizia respeito à sua vida acadêmica. Quando estava no Ensino Médio, seus pais, juntamente com vários professores particulares, faziam com que ele conseguisse cumprir suas tarefas. Ninguém nunca o ensinou a estudar, ou o permitiu ter responsabilidade sobre seu próprio desenvolvimento. Agora, ele se sente apavorado quando é deixado sozinho com suas tarefas.
Como Sam irá sobreviver no mundo real? Teria ele responsabilidade suficiente para conquistar um emprego? O que pode ser feito para ajudar Sam a ser mais independente e responsável por seu comportamento? Em uma situação desesperadora, a mudança pode ser difícil para Sam.
A Responsabilidade É Sua
Vamos redefinir a Independência como sendo a habilidade de se erguer com os próprios pés (que é o motivo de estar ligado à assertividade), e reconhecer que a responsabilidade é sua. Significa encarregar-se de sua própria vida, sendo você mesmo, buscando sua própria direção. As pessoas que têm um desejo incontrolável por aceitação a qualquer custo, ou que morrem de medo de ofender levemente, possuem graves problemas ao exercitar a independência. Você deve estar preparado para adotar um curso de ação, justificando mentalmente e lidando com a possibilidade da outra pessoa discordar de você. Que seja assim. Você também deve aprender a respeitar a necessidade de essas pessoas de serem independentes, dando corda o suficiente.
Obviamente, a ação independente envolve certo grau de risco, e às vezes você pode fazer ou dizer a coisa errada. Tire lições dessas situações, perdoe-se por eles e não deixe que eles te impeçam no futuro. Geralmente, mesmo você não acreditando no momento, você não tem tanto a perder. Faça um balanço das alternativas cuidadosamente, observando os benefícios de cada resposta possível. Depois considere os malefícios – o pior que poderia acontecer – caso tenha de seguir suas escolhas. Para a sua surpresa, você irá descobrir que são poucos os casos em que o mundo pode parar se não estiver 100% correto.
Essa é a ideia – ninguém está certo o tempo todo. Se um goleiro defende 3 pênaltis, ele é considerado um herói. Os mais honrados homens e mulheres cometeram erros imensos e, aparentemente, irreparáveis ou já entraram em diversas enrascadas em busca de um objetivo. Uma vez, Thomas Edison confessou que concebeu 3.000 modelos conceituais no que dizia respeito à luz elétrica. Apenas um modelo funcionou, o que fez valer todo seu esforço. Pense em grandes líderes e personalidades proeminentes que tiveram um problema (ou entraram em uma desgraça completa) e alcançaram coisas grandes. Cometer erros é totalmente humano, como todos sabem. Pouquíssimas pessoas se lembrarão de seus deslizes. Em vez disso, irão aplaudir suas conquistas.
Seja Decisivo
Shelly sempre passou pelo Ensino Médio e a Faculdade com boas notas em todas as matérias. Mesmo assim, ela sempre pareceu necessitar de garantias, nunca expressando confiança em suas habilidades. Ela socializou com um pequeno círculo de amigos, era muito atraente, estava sempre na moda, mas a um olhar mais crítico, o seu estilo seguia o dos outros, em vez de ter o seu próprio. Com o seu diploma de graduação em mãos, Shelly fez provas e passou para uma prestigiosa faculdade de Direito. Mas antes de o curso terminar, ela começou a se sentir desencantada com a ideia de um grau acadêmico mais alto. Ela então, decidiu trabalhar por 1 ano, na esperança que isso pudesse ajudá-la a determinar uma direção em sua vida. Tendo de colocar suas finanças em dia, ela poderia decidir entre voltar ao curso de Direito ou encontrar uma nova carreira. Nesse período, ela conseguiu um emprego como representante de serviço ao cliente em uma companhia de vendas por correspondência. Dois meses depois, Shelly conhecia mais coisas sobre os produtos da firma do que alguns de seus colegas que já trabalhavam há mais de 3 anos. Ela era uma pessoa fácil de lidar e sabia se portar diante dos questionamentos e reclamações dos clientes. Entretanto, ela tinha um problema: era extremamente indecisa. Ela tinha total ciência das políticas da firma no que dizia respeito a devoluções e serviços de garantia, mas, após obter todos os fatos que ela precisava, ela não era capaz de ir em frente com uma reclamação até checar com outra pessoa. Muitas vezes, ela checava com quem estivesse à sua frente, causando tensão em todo o escritório. Seus colegas achavam que ela não confiava em seus pontos de vista e foram deixando de ajudá-la aos poucos.
Parte dessa situação lamentável se dava pela falta de confiança de Shelly. A outra parte era a sua necessidade de se proteger de culpa, caso tomasse a decisão errada. Como resultado, ela acabou com uma longa lista de clientes impacientes que fizeram queixas a seu supervisor, que teve de investigar cada queixa. Sempre que seu superior lhe confrontava, Shelly partia para a defensiva. Privadamente, confidenciava aos seus amigos que seu trabalho estava abaixo dela. A ladainha era a mesma: ela havia sido aceita por uma escola tradicional de Direito e todos os seus colegas de trabalho eram funcionários glorificados que não tinham o direito de questioná-la ou criticá-la.
O comportamento de Shelly é um exemplo de como um nível alto de QI pode produzir efeitos negativos caso o nível de IE não esteja no mesmo patamar. A habilidade de ser independente é uma habilidade que afeta tanto as nossas decisões pessoais quanto o nosso valor diante do empregador. Quanto menos supervisão um funcionário precisa, mais produtivo ele (a) é.
Busque Novos Interesses
A Independência também está associada à autoestima: quando você se sente bem consigo mesmo, os outros passam a te respeitar mais. É muito importante para o sucesso tomar decisões, agir conforme elas e lidar com suas consequências. Quanto mais praticar, melhor e mais confiante vai ficar.
Sheila, uma atraente e tímida menina de 16 anos possui vários colegas, mas poucos amigos próximos, e frequentou uma escola onde – como qualquer outra – era tomada por “grupinhos”. Havia grupos e subgrupos dedicados ao esporte e outros às últimas tendências da moda. Havia também o grupo dos valentões e o dos “perdedores”. Sheila ia de um grupo ao outro. Sua vida social, na verdade, não ia a lugar nenhum. Não que as pessoas não gostassem dela, mas elas não se sentiam hospitaleiras o suficiente para acolhê-la. Assim como a Shelly, ela odiava tomar decisões. Em uma quinta-feira à noite, ela ficaria completamente ansiosa sobre seus planos no final de semana. Ela não está em nenhuma lista de convidados, e não sabia como se incluir em uma delas.
Embora Sheila possa ser considerada tímida ou introvertida, tudo o que ela precisava era de um empurrão emocional. Ela não tinha dificuldade em manter uma conversa, tinha um bom senso de humor e mostrava preocupação por seus amigos. Mas sempre pareceu ser uma seguidora, nunca tomando a iniciativa. Até mesmo seus amigos reconheciam isso.
Havia um aspecto suplicante, quase que desesperado em suas chamadas telefônicas, que era o motivo de seu planejamento não dar em nada. Ela acabava ficando em casa sozinha, pois era relutante em ir a qualquer lugar sem ter alguém conhecido por perto.
Um dia, sua mãe, de forma persistente e gentil, começou a confrontá-la nesse assunto. Ela insistiu que Sheila parasse de se preocupar com o telefone e parasse de insistir que seus amigos a acompanhassem para onde quer que fosse. Em vez disso, sua mãe disse a ela que deveria fazer as coisas por conta própria – sem contar aos outros, a princípio, a fim de diminuir sua ansiedade. Então Sheila começou indo sozinha a um shopping. Ela se sentiu estranhamente livre por estar sozinha na multidão, sem prestar atenção no que seus amigos iriam pensar. Após algumas saídas, ela percebeu que estava reparando em coisas – novas tendências da moda, pessoas interessantes – que seus amigos, de algum modo, deixavam passar batido. Isto era devidamente relatado aos seus amigos, que começaram a se perguntar o que haviam esquecido.
Partindo desse início promissor, Sheila seguiu uma série de etapas graduais – visitar museus e galerias, ir ao cinema, ir à livraria e a lojas de departamento. Para sua surpresa, essas novas atividades também eram interessantes para seus amigos, e estes passaram a ligar para ela com mais frequência. Eles ligavam para saber onde estava e o que estava fazendo. Ela dizia o que estava fazendo e os convidava. Eles estavam interessados? Claro – pois passo a passo, ela se tornou uma pessoa mais independente e, portanto, mais interessante.
Lembre-se, no entanto que a verdadeira independência não significa ignorar os outros e seguir seu próprio caminho. Não pedir ajuda aos outros é tão ruim quanto pedir sempre. Se você tem de provar sua independência rejeitando um conselho por orgulho, você está encrencado. A ideia é ser esperto o bastante para consultar uma variedade de fontes para equilibrar o resultado e alcançar uma decisão que seja a satisfatória.
Fazendo com que Suas Decisões Funcionem
Como chefe da divisão de Marketing, Alex parecia ter uma grande capacidade em resolver problemas de forma independente. Ele entendia as dificuldades, desenvolvia e implementava soluções e ficava atento aos resultados. Ele tinha uma relação de trabalho muito forte e com Sally, a VP com a qual ele se reportava e que, após 5 anos nesse cargo, sabia como Sally queria que os problemas fossem identificados, resolvidos e a soluções, implementadas. Embora pedisse direções a Sally frequentemente em seus 2 primeiros anos, em seu 3° ano ele já operava de forma bastante independente. Quando Sally foi promovida a VP Sênior de outra divisão, Alex se tornou o candidato perfeito para preencher a vaga da VP. E ele conseguiu essa vaga de forma bem fácil até. No entanto, uma vez nesta posição, ele parecia estar um pouco incerto sobre tomadas de decisão – especialmente quando surgiam obstáculos diante dos objetivos da divisão. Ele vacilou. Ele não conseguia ter uma posição ou ser decisivo. Ele se dirigia aos outros pedindo ajuda, mas o que realmente parecia é que ele queria que os outros tomassem a decisão por dele. Apesar do seu mentoring em como priorizar problemas e tomar um curso de ação, Alex se tornou mais e mais incerto e inseguro. Finalmente, ele deixou o cargo.
O que houve? O que aconteceu de errado foi que os supervisores de Alex não visualizaram de perto a sua habilidade de operar independentemente. Eles minimizaram a realidade na qual ele levou 2 anos para se tornar independente e parar de procurar pela Sally em busca de orientações. Eles também deixaram passar despercebido os sinais sutis durante os outros 3 anos que ele ainda dependia, implicitamente, de Sally. Ou seja, ele era bom no seu trabalho não porque era verdadeiramente independente – embora parecesse assim superficialmente – mas porque “memorizava” o modo com o qual Sally solucionava problemas. A realização de um brainstorming, a busca e a implementação de soluções não eram autenticamente dele, mas dela. Ele imitava sua abordagem passo a passo. De fato, não era a sua própria abordagem. Não era baseada em ponderar questões, selecionando o que ele havia pensado como solução ou implementando-a de modo flexível. Era apenas um modelo memorizado que ele seguia à risca.
Uma vez nessa posição de VP, com seus novos desafios, diferentes obstáculos, soluções incomuns, e caminhos alternativos de implementação – e sem a Sally para fornecer um modelo – a dependência oculta de Alex emergiu com força total. Incapaz de se manter em pé por conta própria, preocupado com erros e inseguro sobre suas habilidades, Alex tornou-se ansioso e paralisado. Os cursos de mentoring que ele participou deixaram de levar em conta um aspecto: eles não reconheciam ou ajudavam a lidar com essa dependência oculta.
Essa história ilustra como algumas pessoas se parecem quando se sentem independentes – desde que tenham alguém do lado delas oferecendo segurança, mas assim que estiverem por conta própria, sabendo que a responsabilidade é deles e que a tomada de decisão final depende unicamente desta pessoa, a oculta e poderosa dependência aparece. Essa história também fala da importância da gestão sênior prestar atenção e buscar por provas de que um funcionário é de fato independente ou se age dessa forma em situações especiais. Se os executivos sêniores de Alex tivessem prestado mais atenção à quantidade de tempo que ele precisou para estabelecer-se em sua posição do marketing, à relação próxima – ou talvez até próxima demais – que tinha com Sally, e se tivessem explorado se sua aparente independência era mais um reflexo de sua memorização e inflexibilidade ao aplicar os modos que Sally utilizava, eles não teriam sido tão rápidos ao promoverem Alex a uma posição que pedia por independência que ele não possuía.
Exercícios
A capacidade de ser independente – de ser autodirigido e autocontrolado no seu pensar e agir – é outro componente vital para o sucesso. Em seu núcleo, a independência reflete um senso de autonomia generalizado: a habilidade de perseguir seu próprio pensamento e correr atrás de seus objetivos determinados. Se não consegue definir o que quer, não consegue imaginar como “chegar lá” ou não consegue ser definitivo, você se sentirá impedido em sua busca pelo sucesso. As pessoas que não têm independência tendem a ser pegajosas e carentes. Elas buscam proteção e apoio dos outros de modo crônico, os quais enfraquecem suas habilidades em determinar o que elas querem e de serem confiantes o bastante para buscar o que desejam.
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Referência:
Tradução livre do capítulo 7 do livro The EQ Edge: Emotional Intelligence and Your Success, Steven J. Stein, Howard E. Book