Em tempos de controvérsia em torno das propostas de reforma trabalhista, algumas empresas estão se destacando pela tentativa de afetar positivamente a vida de funcionários e clientes, além de investir na proteção ao meio ambiente. Em outras palavras, essas organizações se dispõem a mudar o mundo. E ainda lucrar com isso.
É o chamado capitalismo consciente, modelo de gestão que visa alinhar a busca do lucro com a melhoria da qualidade de vida. “O humanismo não é oposto à competitividade”, afirma o professor Eugenio Mussak, consultor em desenvolvimento humano e organizacional (DHO).
“Dá a impressão de que empresas humanistas são menos competitivas. E isso não é verdade”, afirma Mussak.
“Empresas com uma gestão mais humana apresentam melhores resultados”, concorda José Roberto Oliveira, diretor da CIN – Capital Intelectual, empresa que promove no próximo dia 6, juntamente com a Cazulo, o seminário Prospera Experience – Pessoas, Propósito e Performance.
Qualidade de vida
A aposta de quem adota o capitalismo consciente é que, ao contrário do que se presume, as empresas ganham ainda mais quando investem na qualidade de vida. “Em alguns casos, as empresas aumentam sua lucratividade em até 10 vezes”, afirma Kiko Kinslansky, dono da marca de roupas Euzaria e sócio da Cazulo, empresa cuja missão é fomentar negócios que transformem o mundo.
Nem sempre os benefícios alcançados pelas empresas são financeiros. Classificada em uma pesquisa internacional como uma das 10 melhores companhias para se trabalhar na Bahia, a Kordsa, fabricante de fibras artificiais e sintéticas, destaca-se pela facilidade de comunicação com a liderança e a política de permitir que familiares dos funcionários visitem a unidade de Camaçari. “Eu costumo dizer que nossa empresa é a que tem os mais baixos índices de divórcio no país”, brinca Luiz França, diretor de recursos humanos e de TI para a América do Sul. Ele pondera que funcionários felizes no trabalho levam menos problemas para casa e se tornam mais produtivos.
Em todo o mundo, gigantes, como o Facebook e o Google, e empresas de menor porte, como o supermercado de alimentos orgânicos Whole Foods, usam políticas voltadas para o bem-estar dos funcionários, ou do consumidor final, como forma de reforçar suas marcas e ganhar mais.
Defensor da ideia de que há algo novo acontecendo no mundo, o consultor Gustavo Tanaka acha que parte da felicidade que a empresa pode proporcionar aos funcionários está na liberdade de agir espontaneamente e não ter que se moldar ao que chefes e colegas esperam deles.
Segundo Tanaka, isso tem a ver com não forçar um funcionário a beber no happy hour da empresa ou respeitar o lado espiritual de cada no ambiente de trabalho. “A espiritualidade não bate ponto. Não dá para deixar do lado de fora da empresa esse componente”, afirma o consultor.
Criada em 2006 e com mais de 1.700 móveis à venda no seu e-commerce, a catarinense Meu Móvel de Madeira atua em dois lados: em termos de preservação ambiental, a empresa se compromete a somente utilizar madeira de florestas plantadas. E, como medida de responsabilidade social, coloca em suas embalagens o selo de entidades beneficentes disponíveis para receber imóveis usados como doação.
Segundo o CEO da Meu Móvel de Madeira, Ronald Heinrichs, o objetivo da empresa é utilizar os recursos naturais “da melhor maneira possível” e estender o conceito de otimização a todo o processo de venda de um móvel pela internet. “Desde a concepção do móvel, buscamos fazer o design adequado ao consumo de material. Isto pode ser feito, por exemplo, respeitando medidas de madeira usadas por nossos fornecedores, pois muitas vezes uma diferença de poucos centímetros no móvel faz com que utilização de madeira bruta seja bastante otimizada”, afirma.
A empresa também adotou um conceito de embalagens que, embora recicláveis, contêm desenhos. Assim, podem ser reutilizadas como porta-lápis ou brinquedos infantis, reduzindo a quantidade de material que vai ser enviado à reciclagem.
A empresa adotou embalagens com uso mínimo de isopor, difícil de ser reciclado, por polpa de papelão reciclada.
Segundo ele, a meta é impactar o ambiente da maneira mais sustentável possível. “A principal diretriz é que temos obrigação de deixar um mundo melhor que encontramos. Tudo gira em torno dessa premissa”, afirma. “Desde 2014 somos considerados pelos nossos funcionários um dos melhores lugares para trabalhar”, orgulha-se.