Neurociência e Psicologia Aplicada3 min de leitura

Por Denise A Manfredi

Henri Laborit (1979) disse:

As emoções são a consciência de certas atividades ditas ‘vegetativas’, ou seja, resultam da atividade do sistema límbico estimulada pelo exterior ou por nossas representações internas”.

Por mais descobertas que surgiram na década de 90, o cérebro ainda é um oceano a ser explorado e entendido em sua complexidade. Ideia disso foi constatada que os componentes de mil grandes computadores poderiam caber em um cm3 do nosso córtex. É difícil imaginar a quantidade de informações armazenadas em nosso organismo. Segundo Serne e Anee Ginger (1995), se todas as informações codificadas num vírus fossem paginadas, uma bactéria representaria uma enciclopédia de 1.000 páginas.

conexoes do cerebro

Sabe-se que a estrutura da inteligência é sedimentada antes de nosso nascimento, mas, depois, as ramificações vão surgindo sem cessar, formando um emaranhado de conexões dinâmicas e sistêmicas. Esse sprouting permite o fenômeno da plasticidade.

Imaginando-se todo o poder cerebral, vamos refletir sobre a face oculta no inconsciente humano, em constante adaptação às flutuações dos meios internos e externos. Estamos falando de células que têm registradas toda a nossa história de vida e quem sabe muito antes… se pensarmos na árvore genética infinita.

A Psicanálise trabalha com material inicialmente consciente e que depois “foi jogado” para o inconsciente e chama esse mundo de material recalcado, depois da censura do sistema pré-consciente-consciente.

Jung fala do inconsciente coletivo, englobando mais profundamente as camadas subcorticais.

gestalt

A Gestalt, muito em conversa com a metodologia criada por pesquisadores neurocientistas, trabalha com o aqui e agora, através da revivência imediata da emoção em um clima seguro, gerado entre o cliente e o psicoterapeuta, com a expressão da angústia antes que ela se “imprima” e se torne material recalcado, segundo abordagem psicanalítica.

Falando a linguagem da Neurociência, temos o cérebro reptiliano que coordena as nossas funções vitais. Ali fica a hipófise regente do equilíbrio endócrino geral. É o centro dos instintos.

O cérebro límbico compreende o hipocampo responsável pelo processo de memorização e o núcleo amigdálico, uma espécie de “hub” do que ameaça e do que gera prazer. Aqui as aprendizagens são possibilitadas. Os que ameaçam geram afastamento, e o que recompensa gera aproximação.  O sistema límbico secreta vários neuromediadores.

No córtex pré-frontal e neocortex são registradas as diversas sensações provenientes do mundo exterior. Nessa região se dá a integração com o cérebro todo e é a nossa parte consciente. Aqui há a elaboração da linguagem, da escrita e passamos da repetição à previsão e depois à prospectiva. Aqui é a área da vontade e da liberdade, da autocrítica, decisões e poder de veto.

Neurociência e Psicologia, duas áreas intrincadas, uma completa a outra. Toda a complexidade acima prova que precisamos olhar para o ser humano como sendo capaz de se transformar, se existir vontade.

A Psicologia olha para os fenômenos, percepção, dinâmica emocional, mecanismos de defesa e ajuda a pessoa a entender o que não necessariamente é bom e o que necessariamente é mau. Simplesmente é! E aprendemos a nos conscientizar o que é disfuncional e funcional no contexto social, psicológico, cultural e emocional de cada um.

A Neurociência nos ensina a dinâmica sináptica/neuronal/hormonal, as funções dos neurotransmissores e o papel dos nossos três cérebros, o reptiliano, límbico e neocortex.

Esses dois olhares nos apoiam no processo de autoconhecimento e nos faz pensar o que é ciência e o que é divino.