Freud foi o criador da psicanálise, abordagem extremamente importante no campo da Psicologia. Ele iniciou os seus estudos através da utilização da técnica da hipnose, como via de acesso aos conteúdos mentais, predominantemente se aproximando de pacientes com histeria. Ele elaborou a hipótese de que a causa da histeria seria de origem psicológica, e não orgânica, como havia sendo estudado na época. Além disso, Freud desenvolveu inúmeras outras teorias, como a dos mecanismos de defesa, sonhos, sexualidade, personalidade, complexo de édipo, entre outros.
Jung era contemporâneo de Freud e conheceu o pensamento do pai da psicanálise, muito controverso na época. Supõe-se que o primeiro contato com as obras freudianas se deu através da leitura de Interpretação dos Sonhos (1900), na qual Freud expõe a sua teoria acerca do mundo onírico. Entretanto, o encontro pessoal entre eles – que dizem ter durado treze horas — em 1907, marcou o início de uma relação estreita e de muita parceria, que resistiu até 1913.
Freud, aos 50 anos (quase vinte anos mais velho que Jung), já havia construído os pilares de sua obra. Por outro lado, Jung, aos 31 anos, estava apenas começando a sua grande carreira. Através da análise das centenas de cartas trocadas por eles, pode-se inferir que eles criaram uma relação paternal. Jung tinha várias características para ser o filho ideal, herdeiro e divulgador da obra de Freud, que inclusive escreveu em 1909: “… na noite em que eu o adotei como filho mais velho (…), como meu sucessor e príncipe coroado…” (Carta 139, Freud).
Entretanto, divergências entre os dois começaram a surgir e se acentuar. Em 1913, houve uma separação abrupta, sem qualquer integração de suas diferenças. Segundo Carlos Byington, um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica (SBPA), essa separação traumática dos dois pilares da psicologia dinâmica afetou o campo da Psicologia de maneira fundamental.
É evidente que a discordância quanto à natureza sexual da libido, teoria elaborada por Freud a qual ele nunca abriu mão, foi o ponto teórico central da ruptura entre eles. E, apesar das semelhanças e aproximações entre as teorias de ambos, muitos desacordos teóricos de fato permeavam as respectivas obras e pensamentos.
É muito importante destacar a diferença que eles atribuíam ao inconsciente. Enquanto Freud acreditava que este consistia em um depósito de conteúdos reprimidos, se limitando ao âmbito pessoal, Jung enxergava o inconsciente em duas camadas: a individual e a coletiva. O inconsciente pessoal consiste na individualidade psíquica onde é mantida toda a experiência pessoal e, o inconsciente coletivo, como uma área mais profunda da mente e pertencente a todos. Esta camada teria as imagens primordiais denominadas por Jung como arquétipos, herdados da humanidade.
Essa diferença entre a concepção acerca do inconsciente é fundamental para entender as divergências entre os dois gênios. Isso se estende ao que se refere na compreensão deles acerca da interpretação dos sonhos, por exemplo. De forma extremamente reduzida, para Freud, a finalidade do sonho seria concretizar um desejo reprimido, enquanto que, para Jung, este se expressa simbolicamente como uma tentativa da psique de se autorregular, tendo em vista o mecanismo compensatório do sonho. Além disso, vale ressaltar também a diferença que ambos estabeleciam acerca dos processos mentais. Enquanto Jung acreditava nesses como dinâmicos e relativos, Freud enxergava-os como fatores estáticos.
Segundo Byington, a maior resistência da psicanálise à teoria junguiana centralizou-se no conceito de arquétipo – apesar de apontar que nenhum psicanalista nega inúmeras funções psíquicas teorizadas por Freud como pertencentes de todos os seres humanos ou presentes em qualquer cultura, o que caracterizariam elas como arquetípicas. O psicólogo ainda aponta o fato da psicanálise não ter ampliado a sua técnica ultrapassando a “cura pela fala”, não se apoiando em técnicas expressivas, muito importantes na psicologia analítica e em inúmeras outras escolas da psicoterapia.
Apesar dessas e outras divergências entre as teorias freudiana e junguiana, deve-se seguir os conselhos de Byington e evitar acreditar que cada uma das teorias seja auto-suficiente e possa se desvincular das posições teóricas da outra. Muitas características de suas obras foram mantidas separadas, apesar das inegáveis semelhanças entre elas.