Toda interação é uma forma de comunicação. Saber interpretar sinais e inspirar pessoas usando uma linguagem corporal positiva é um grande diferencial.
O mais importante na comunicação é ouvir o que não foi dito.”- Peter Drucker
Essencial nas interações sociais, a comunicação não verbal está muito mais presente em nossas vidas do que imaginamos. De acordo com Paulo Sérgio de Camargo, especialista em linguagem corporal e grafologia, uma conversa típica apresenta apenas 35% de linguagem verbal, enquanto 65% é comunicação não verbal. Esse tipo de interação, inclusive, é considerado em diversos países e organizações como uma competência mais relevante do que um segundo idioma (CAMARGO, 2010).
As relações entre influência, sucesso e linguagem corporal também são alvos de estudo da pesquisadora, palestrante e professora da Harvard Business School, Amy Cuddy. Seu livro “O Poder da Presença” (CUDDY, 2016) baseia-se na palestra “Sua linguagem corporal molda quem você é”, a segunda TED Talk mais assistida de todos os tempos, com 35 milhões de visualizações.
Cuddy acredita que qualquer pessoa é capaz de aperfeiçoar a própria linguagem corporal, transmitindo uma imagem mais positiva e segura – além de compreender melhor os verdadeiros significados e intenções por trás dos gestos e movimentos das outras pessoas.
Os cientistas sociais vêm dedicando anos de pesquisas sobre as manifestações corporais e os julgamentos internos que elas revelam. Segundo eles, essas informações são valiosas especialmente no âmbito dos negócios, ajudando a prever resultados e até a entender por que um indivíduo é contratado, promovido ou demitido.
Em um processo seletivo, dois candidatos aguardam a entrevista. Um deles está com o queixo baixo, ombros para frente, braços cruzados. O outro está sentado com a postura ereta, olha para frente, respira fundo. Mesmo sem nenhuma comunicação verbal, é possível perceber quem está mais confiante.
Cuddy ensina que pessoas que se sentem poderosas tendem a expandir o próprio corpo – e vice-versa, ou seja, manter a cabeça erguida e a firmeza no andar favorecem o ganho de confiança. Não é à toa que o gesto mundial da vitória é erguer os braços e balançá-los.
A expansão como manifestação de confiança é encontrada até mesmo no mundo animal; um pavão, por exemplo, abre as plumas e infla o peito para demonstrar dominância, atraindo as fêmeas com esse comportamento.
Uma postura “caída”, por outro lado, reflete desânimo, vergonha, tristeza e até depressão. Amy explica que “baixar a cabeça, encostando o queixo no peito, parece ser a expressão mundial da vergonha, um comportamento submisso diante de uma derrota”.
Cultivar a postura positiva tem a ver com a sensação de estar no controle da situação. Quando as pessoas adotam posturas poderosas, elas sentem que estão avançando no tempo. Em posições para baixo, a impressão é de que o tempo está passando por elas”.
A especialista recomenda a adoção de hábitos simples, porém eficazes para melhorar a linguagem corporal:
- Preparação empoderada:
Em vez de desperdiçar tempo tentando adivinhar o que pode dar errado, Amy defende que devemos concentrar forças para enfrentar o próximo desafio.
A seleção neozelandesa de rugby, uma das melhores do mundo, executa uma dança cerimonial do século 19, conhecida como haka, antes de cada partida. Composta por movimentos firmes, a dança faz com que os jogadores abram sua postura e estendam os braços, intimidando os oponentes que assistem do outro lado do campo. No dia a dia, cada pessoa pode desenvolver seu próprio “ritual” para alcançar o mesmo objetivo.
- Postura ereta:
Manter a espinha reta e alinhada pode beneficiar nosso estado de espírito. Para corroborar essa conclusão, Cuddy cita um estudo que analisou indivíduos que sofrem de depressão crônica e a postura que assumem ao ficar sentados. A maioria sentava de uma forma “jogada” na cadeira, com uma postura largada e os olhos voltados para o chão. Ao longo do experimento, os pesquisadores solicitaram que todos se sentassem de modo alinhado, com as costas eretas.
Só isso já provocou uma mudança no estado de espírito, as pessoas começaram a falar mais e se lembraram de memórias mais positivas”, diz Cuddy.
- Despertar confiante:
Para começar melhor o dia e ganhar confiança logo cedo, a especialista sugere: “A partir de uma posição fetal, sem abrir os olhos ou pegar o celular, espere alguns instantes. Depois abra os olhos, repare no ambiente ao seu redor, estique os braços, dê uma boa espreguiçada e se alongue. Você se sentirá sim mais animado”.
Interpretando a linguagem corporal
Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos.” – Sigmund Freud
Tratando-se de linguagem corporal, a mentira é um dos temas mais analisados e debatidos pelos pesquisadores.
O conceito de mentira se refere a qualquer tipo de comportamento direcionado a fornecer informações falsas aos outros – ou ao menos privar de informações verdadeiras. O simples fato de não dizermos o que pensamos já pode ser considerado uma mentira e, de acordo com um estudo da Universidade de Massachusetts, 60% dos adultos não conseguem ter uma conversa de dez minutos sem mentir ao menos uma vez (MENTAL FLOSS, 2012).
Seja por medo da punição, para evitar constrangimentos ou para autopromoção, a realidade é que convivemos diariamente com a mentira – nossa e dos outros -, porém na maioria das vezes ela passa despercebida. Paulo Sérgio de Camargo destaca que “em geral as mulheres mentem por motivos emocionais, os homens para se promover”. Em sua obra “Não minta pra Mim! Psicologia da Mentira e Linguagem Corporal” (CAMARGO, 2012), ele ensina estratégias para reconhecer mentiras e evitar ser enganado em diversas situações, seja em casa, no ambiente de trabalho ou até mesmo na política.
São alguns dos principais indícios de mentira segundo o autor:
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Cobrir a boca:
Tapar a própria boca é um típico gesto de quem não está falando a verdade. Limpar os lábios e afagar o queixo são outros sinais comuns. De acordo com Camargo, esses gestos revelam a intenção de impedir que os outros escutem a mentira, ou mesmo um desejo inconsciente de cercear o que é dito por ser falso.
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Desviar o olhar:
Não encarar o outro diretamente nos olhos não representa sempre mentira, podendo ser também mera timidez ou insegurança. No entanto, frequentemente os mentirosos evitam contato visual para disfarçar o engano. Camargo alerta que é necessário ter cuidado com esse detalhe, uma vez que “muitos mentirosos, sabendo disso, fazem exatamente o contrário quando mentem: olham diretamente nos olhos da vítima na tentativa de fazer suas afirmações mais críveis”.
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Morder os lábios:
Um mentiroso usualmente tenta se fechar em si mesmo, resistindo à comunicação ao comprimir os lábios e apertá-los com força. Essa reação é bastante frequente diante de questionamentos considerados arriscados à perpetuação da mentira. Segundo Camargo, isso costuma mostrar que a pessoa foi afetada pela pergunta e gostaria de não respondê-la.
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Imobilizar e/ou enrijecer braços e pernas:
Pessoas que estão mentindo tendem a reduzir consideravelmente a gesticulação. “As mãos ficam grudadas às pernas, nos bolsos, colocadas para trás. Os movimentos são escassos e controlados”, descreve Camargo. Isso acontece porque, inconscientemente, o indivíduo acredita ter mais chances de passar despercebido se ficar imóvel, evitando que seus gestos contradigam o que está dizendo. A movimentação do corpo geralmente é mecânica, dura e repetitiva.
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Manter distância do interlocutor:
Camargo conta que uma das técnicas mais empregadas por especialistas para descobrir se uma pessoa está mentindo é se aproximar ao fazer uma pergunta delicada. Essa atitude costuma despertar ansiedade e nervosismo em mentirosos, que preferem manter uma distância maior para se sentirem mais seguros.
A linguagem corporal poderosa
Todo o poder é confiança.” – Benjamin Disraeli
Em diversas situações profissionais o sucesso está atrelado à capacidade de demonstrar confiança em si mesmo.
Nas negociações, principalmente, a linguagem corporal de cada parte envolvida costuma ser tão ou mais importante do que o que é de fato dito.
Sharon Sayler, estrategista de sucesso comunicativo e uma das fundadoras da Impression Engineers, premiada organização de estratégia e planejamento de comunicação, propõe no livro “Seu corpo fala no trabalho” (SAYLER, 2013) algumas dicas para transmitir segurança e autoridade nos negócios.
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Discurso calmo e assertivo:
Um tom de voz calmo e uma clara articulação das palavras são determinantes para que alguém seja capaz de passar credibilidade. Além disso, é recomendado manter uma cadência equilibrada e consistente, abaixando o queixo suavemente ao encerrar cada frase.
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Olhar de poder:
O chamado “olhar de poder” corresponde a se direcionar a outra pessoa de forma adequada, imaginando um “terceiro olho” no centro da testa do outro e se fixando nele ao longo da conversa.
René Descartes (1596-1650), filósofo francês do século XVII criador do pensamento cartesiano, acreditava que a glândula pineal, também chamada por ele de “terceiro olho”, estava associada à sabedoria e à intuição. A glândula pineal é uma glândula endócrina, do tamanho de uma ervilha e fica escondida no núcleo do cérebro, entre os hemisférios direito e esquerdo. Ela é a principal fonte de melatonina, um hormônio derivado do triptofano e responsável pela regulação do ritmo circadiano.
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Aperto de mão dominante:
Frequente no meio empresarial, o aperto de mão representa muito mais do que um mero cumprimento. Sayler ensina que ficar com a palma da mão voltada para baixo durante esse gesto indica dominância, enquanto esticar a mão com a palma virada para cima revela que a pessoa aceita que o outro conduza a situação. Outra possibilidade para ditar os rumos da conversa é estender a mão direita e depois pousar a esquerda sobre a mão da outra pessoa.
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Respiração profunda:
Segundo Sharon, o padrão de respiração de uma pessoa pode passar muitos recados. Quando o indivíduo inspira e expira de modo superficial e apressado, por exemplo, pode ser visto como ansioso e estressado. Já uma respiração abdominal, lenta e profunda costuma ser relacionada à autoridade e desenvoltura. além de favorecer a oxigenação cerebral e combater o nervosismo.
Reparar na própria linguagem corporal e na das pessoas ao seu redor pode ser extremamente útil para revelar emoções e características da personalidade. Esse tipo de informação pode ser muito importante em uma negociação, além de ajudar a melhorar a habilidade de comunicação.
A FELLIPELLI oferece cursos/assessments exclusivos nas áreas de relacionamentos interpessoais, neuroplasticidade, inteligência emocional e muitas outras.
Para saber mais:
- Spy the Lie: Former CIA Officers Teach You How to Detect Deception. Philip Houston; Michael Floyd; Susan Carnicero; Don Tennant. St. Martin’s Press, 2012.
- Everybody Lies: Big Data, New Data, and What the Internet Can Tell Us About Who We Really Are. Seth Stephens-Davidowitz. Dey Street Books, 2017.
- What Every BODY is Saying: An Ex-FBI Agent’s Guide to Speed-Reading People. Joe Navarro & Marvin Karlins. William Morrow Paperbacks, 2009.
Referências bibliográficas
CAMARGO, Paulo Sérgio de. Linguagem corporal. Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. Summus Editorial, 2010.
CUDDY, Amy. O poder da presença. Editora Sextante, 2016.
CAMARGO, Paulo Sérgio de. Não minta pra Mim! Psicologia da Mentira e Linguagem Corporal. Summus Editorial, 2012.
MENTAL FLOSS, 2012. Acesso em: 15/06/2019.
SAYLER, Sharon. Seu corpo fala no trabalho. Conquiste seu espaço, crie relacionamentos, inspire e influencie pessoas. Editora Vozes, 2013.
Tema principal: Autoconhecimento, RH.
Subtemas: O não dito em palavras, por meio de gestos e expressões, “fala” muito sobre você e influencia a interação com seus colegas.
Objetivo: Autoconhecimento, Autodesenvolvimento, Desenvolvimento de Equipe, Team Building, Desenvolvimento de Liderança, Coaching, Coaching nas Empresas.
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