Desenvolvendo a inteligência social para gerenciar as emoções – pessoais e alheias.
Por Adriana Fellipelli
Como falamos no artigo anterior, a motivação advém de trabalhar naquilo com o que nos importamos, mas também de trabalhar com pessoas com as quais nos importamos. Nesse sentido, nem todos os parceiros de trabalho satisfazem a mesma necessidade ou exigem de nós as mesmas habilidades interpessoais.
Identificar seus perfis, entender como e por que você se relaciona com cada um deles é fundamental para desenvolver recursos mentais apropriados.
Alguns dos principais tipos de perfis são:
O confidente:
“O prazer no trabalho aperfeiçoa a obra.”
Aristóteles
Este é o amigo de trabalho que se solidarizará quando você levar uma bronca do seu chefe e dará um feedback sincero quando você mais precisar. Embora um colega confidente seja essencial para manter a saúde mental em dia, estamos cada vez menos propensos a ter um.
Em 1985, metade dos norte-americanos afirmava possuir um amigo próximo no emprego, porém em 2004 esse número caiu para um terço. Hoje, como tendemos a mudar de trabalho mais frequentemente, muitas vezes acabamos enxergando também nossos colegas como laços transitórios, cumprimentando-os com civilidade, mas deixando a camaradagem para fora do ambiente profissional.
Ainda que as pessoas frequentemente passem a maior parte do dia no trabalho, há gestores que parecem preferir que os funcionários deixem a vida pessoal do lado de fora. No entanto, se passamos mais tempo no trabalho do que em casa, é normal desejar construir relações mais profundas com os colegas.
Isto aumenta o senso de propósito no trabalho, ou seja, queremos sentir que todo o sacrifício vale a pena, e ter confidentes e apoiadores ajuda a intensificar esse sentimento.
Se não podemos falar com os colegas para comentar, celebrar e lamentar assuntos de nossa vida pessoal e profissional, o trabalho tende a ser muito mais solitário e opressivo.
Além do bem-estar psicológico, existem outros fortes motivos para incentivar as amizades no ambiente laboral: de acordo com recentes levantamentos da empresa de pesquisa de opinião norte-americana Gallup, homens e mulheres com melhores amigos no trabalho têm desempenho superior. Atualmente, em média dois em cada dez profissionais nos Estados Unidos afirmam ter grandes amigos no trabalho – se esse número aumentasse para 6 em cada 10, as organizações teriam 36% menos acidentes de trabalho, clientes 7% mais engajados e lucros 12% maiores (GALLUP, 2018).
Quando os colaboradores experimentam um senso de pertencimento como membros de uma equipe coesa, são mais propensos a tomar atitudes positivas em prol dos negócios – ações que talvez eles nem considerassem se não tivessem uma relação tão íntima e harmoniosa com os colegas.
Para ter um confidente, comece a compartilhar histórias e criar confiança com alguém que esteja próximo de você. Ou marque um encontro: pessoas que proporcionam apoio social às outras – um simples convite para almoçar juntos já pode ser o suficiente – têm dez vezes mais chance de se sentir engajadas no trabalho do que os indivíduos solitários (Business News Daily, 2020).
Embora competitivo, o local de trabalho também pode ser fonte de amizades duradouras. E você, possui um confidente no trabalho? Ele geralmente apresenta as seguintes características:
- Empatia;
- Cumplicidade;
- Comunicação fluida e capacidade de ler as entrelinhas do que você diz;
- Solicitude;
- Sinceridade.
O inspirador
“Aproveitar um bom conselho requer mais sabedoria do que dá-lo.”
John Collins
O inspirador é seu “crush” platônico na empresa: você não deseja estar com ele, mas sim ser como ele. Ele pode ser um colega que você admira profundamente ou um mentor formal.
Você pode e deve ter vários mentores ao longo de sua carreira, pois eles dão conselhos valiosos e mantêm você na direção certa. Se estiver passando por um período em que precisa tomar decisões importantes, discuta suas opções com o mentor, se tiver um. Ele ajudará a visualizar com mais clareza todas as possibilidades, inclusive as armadilhas em potencial.
Costumamos nos inspirar em bons exemplos ao longo da vida, e na trajetória profissional não é diferente: ter um mentor é extremamente útil para definir grandes objetivos, retomar o ânimo diante de dificuldades e almejar um cargo melhor ou uma virada na carreira.
A inspiração é essencial no processo de aprendizado e amadurecimento das escolhas, e o exemplo de pessoas mais experientes e bem-sucedidas pode ser determinante para evitar uma série de equívocos já cometidos pelos próprios mentores no passado. Por isso, startups em rápida ascensão costumam ter executivos mais tradicionais como membros de seus conselhos, formando assim uma equipe simultaneamente ambiciosa e racional.
A influência de um bom mentor pode transformar completamente o rumo de uma carreira, identificando armadilhas disfarçadas de atalhos promissores e proporcionando a serenidade necessária para crescer. Um guru adequado normalmente têm as seguintes qualidades:
- Desejo de ajudar, dedicando altas doses de tempo, energia e conhecimentos à evolução de seus mentorados;
- Experiências pessoais e profissionais positivas;
- Reputação impecável;
- Habilidades efetivas de comunicação e aconselhamento.
O Narcisista
“Os infinitamente pequenos têm um orgulho infinitamente grande.”
Voltaire
“Espelho, espelho meu, existe alguém mais belo do que eu?” Esta icônica indagação da madrasta má da Branca de Neve sintetiza o comportamento do narcisista, aquela pessoa que está sempre superestimando as próprias qualidades e conquistas. Claro que um pouco de autoconfiança não faz mal a ninguém, mas quem não tem raiva daquele colega de trabalho que “se acha”?
Cumprimentar o porteiro nem passa pela cabeça do narcisista e ouvir não é seu forte, a não ser que esteja liderando uma equipe. Nesse caso, escuta atentamente, identifica a melhor ideia e a passa adiante como se fosse sua. Se funcionar, o mérito é todo dele; se der errado, não falta quem culpar.
Marqueteiro nato, ninguém vende tão bem o próprio peixe quanto o narcisista. Ao apresentar um projeto, convence facilmente os ouvintes de que a sua é a “ideia do século” e que só ele consegue realizá-la, enquanto menospreza grosseiramente as propostas e contribuições dos demais, principalmente quando os outros recebem elogios ou reconhecimento pelo que fizeram.
No campo amoroso, esbanja um currículo invejável de conquistas – seus ex-namorados (as), porém, cansam de ser desvalorizados, enquanto o narcisista simplesmente afirma que não sabem aproveitar a grande oportunidade de conviver com alguém tão especial.
Há ainda aquela pessoa que “se acha” por medo de perder o emprego.
É o sujeito que ocupa um alto cargo mesmo sem ter a qualidade para isso, sabe que é uma farsa, mas não se esforça para melhorar, tentando a todo custo cobrir sua inaptidão com autoelogios.
Caçador de admiração, o narcisista está o tempo inteiro se vangloriando do que fez – e, mais comumente, do que imagina ter feito. Seu currículo narrado é sempre muito melhor do que o real, já que qualquer pequena realização transforma-se em uma vitória épica em seu discurso prepotente.
“Narciso acha feio o que não é espelho”, diz Caetano Veloso na canção “Sampa”. Por não conseguir enxergar nenhuma virtude além do próprio nariz, o narcisista costuma ser invejoso e ainda se queixa de ser alvo de inveja. Seu bordão é: “Sou a prioridade número um, número 2, número 3 e número 4”, deixando talvez o quinto lugar para o pai, a mãe, o filho ou alguém que considere uma extensão de si mesmo.
Pessoas tão despreparadas quanto o próprio narcisista normalmente são convencidas pela sua estratégia da “mentira dita mil vezes torna-se verdade”.
Elas ficam fascinadas pelo narcisista e tornam-se presas fáceis para a conquista e posterior descarte. No entanto, nem todos são enganados com tamanha facilidade e, quando ele percebe isso, concentra-se em “puxar o tapete” de quem não caiu na armadilha.
Trata-se de um paradoxo, já que essa pessoa tão exibida geralmente assume tal comportamento exatamente por não acreditar em si mesma e sentir que precisa se afirmar o tempo todo.
Assim, apesar da fachada luminosa, indivíduos narcisistas são extremamente sensíveis a críticas e insucessos, que geralmente só aumentam suas demonstrações de arrogância.
A Associação Americana de Psiquiatria aponta oito características que devem ser consideradas para o diagnóstico de narcisismo (APA, 2011):
- Crença de ser alguém único e especial;
- Demanda excessiva por atenção;
- Sensação grandiosa quanto à própria importância;
- Fantasias de sucesso ilimitado na vida pessoal e profissional;
- Certeza de possuir direitos exclusivos;
- Pouca ou nenhuma empatia;
- Tendência a ser explorador nas relações interpessoais;
- Propensão a ser invejoso e sentir-se alvo de inveja.
Essa pessoa deseja acima de tudo reconhecimento e elogios, mas estes devem ser dados apenas quando merecidos. Já as críticas devem ser realizadas com delicadeza, mas também com honestidade. É necessário fazer o narcisista sentir que não é ele quem está sendo questionado como indivíduo, mas sim suas atitudes.
Se for seu chefe, a situação pode facilmente evoluir para exploração e abuso extremos, representando assédio moral no trabalho. Nesse caso, tente ser gentil e opte pela invisibilidade, tratando-o como um personagem que demonstra força, mas oculta uma imensa fragilidade. Não alimente expectativas de reconhecimento ou valorização e, se precisar convencer o narcisista a cooperar em alguma tarefa, enfatize que o resultado será benéfico para ele.
O Maquiavélico
“Os homens são tão simples que quem quer enganar sempre encontra alguém que se deixa enganar”.
Sim, ele está entre nós! Como lidar e nos defender de tipos como este.
De todos os tipos que você encontrará em seu ambiente de trabalho, o “maquiavélico” é disparado o mais traiçoeiro e perigoso. De certa forma, é até uma maldade associar o nome do célebre filósofo florentino do Século XVI a uma qualificação tão negativa.
Talvez a culpa por isso – involuntária – tenha sido do próprio autor de “O Príncipe”. Numa época em que as divergências políticas e religiosas eram frequentemente resolvidas com uma fogueira em praça pública, Maquiavel ousou publicar análises críticas ao poder da Igreja e expôs com muita clareza os sinuosos meandros da dinâmica do poder. Seus textos foram considerados uma ameaça aos valores cristãos vigentes, e com o tempo cristalizou-se – equivocadamente – sua própria imagem ao Diabo e às práticas enganosas de trapaça que, no fundo, ele denunciava.
Fenômeno semelhante aconteceu com outro italiano de Florença, o escritor e político Dante Alighieri. Em meio às trevas da Idade Média, sua obra-prima “A Divina Comédia” atreveu-se simplesmente a descrever, com riqueza de detalhes, o inferno. Foi o que bastou para que seu nome ficasse indelevelmente ligado ao temido castigo pelos pecados terrenos por meio das chamas eternas. Até hoje, quando queremos descrever uma situação infernal, basta dizer – foi uma “cena dantesca”!
As injustas associações que a história pespegou em Maquiavel – fundador da ciência política moderna – e seu conterrâneo Dante – o maior poeta italiano – nos ajudarão a explicar os problemas com que você poderá se defrontar em seu ambiente de trabalho, em plena era digital do Terceiro Milênio. Sim, porque as trapaças da política pouco mudaram em sua essência ao longo dos séculos, e até hoje ninguém voltou do inferno para contestar a minuciosa descrição de Dante.
Pois bem, estamos aqui para ajudar você. Sim, os “maquiavélicos” existem e estão por toda parte, muito bem disfarçados em seus ternos “Armani” e permanente sorriso em meio à multidão de almas generosas e solidárias.
Como lidar com personagens tão dissimulados, e como se defender de suas diabólicas tramas e embustes?
Calma! Em primeiro lugar convém evitar teorias de conspiração e paranoias persecutórias, que podem levá-lo a encarar indiscriminadamente a todos como membros de uma seita secreta com o objetivo de derrubar você.
Sim, o ambiente de trabalho contém alguns componentes de competição semelhantes a uma “selva moderna”, mas nem todos são predadores à espreita para devorar você. O mundo empresarial é um microcosmo da sociedade, e cabe a você identificar seus aliados e adversários, entre as pessoas do seu convívio diário.
Tudo é mais fácil quando o jogo é jogado com as cartas sobre a mesa. Mas infelizmente não é sempre assim. Certamente terá opositores em seu trabalho que não esconderão suas divergências (trataremos deste personagem num próximo perfil) e vocês debaterão com franqueza ideias e propósitos em campo aberto. Melhor assim.
O “maquiavélico” exige cuidados especiais. Como o lobo sob a pele do cordeiro, ele costuma se apresentar como o “amigo” e até mesmo “confidente”. Está sempre pronto a ouvir você, compartilhar suas queixas e opiniões e “ajudar no que for preciso”. Parece concordar com tudo que você diz. Frágil com a espada, é ágil com o punhal pelas costas.
Aqui vão algumas dicas para lidar com este malicioso personagem:
- Em primeiro lugar, é preciso identificá-lo. Não é difícil observar algumas de suas características. Extremamente ambicioso, mal consegue disfarçar seus planos de ascensão. Não é culpa dele se eventualmente você for um obstáculo nessa caminhada escada acima.
- Evitando o confronto direto, a boca pequena está sempre fazendo críticas maldosas a todos, menos a você. Com certeza você também será alvo de suas intrigas quando não estiver presente. Afinal, “os fins justificam os meios”.
- Animal político por natureza, está sempre costurando alianças em grupos de interesse. Procura fazer-se amigo de todos, por meio de afagos e bajulações. Inodoro, insípido e incolor, evita expor abertamente suas convicções. Por outro lado, está sempre pronto a assumir o crédito pelos êxitos dos outros.
- Nunca revide usando as mesmas armas espúrias de intrigas e traições. Em resposta a suas atitudes ambíguas e escorregadias, contraponha sua integridade, profissionalismo e firmeza de caráter.
- Evite entendimentos informais que amanhã poderão se distorcidos em venenoso “disse-me-disse”. Use a burocracia a seu favor, documentando suas posições.
A convivência profissional é sempre permeada pelo relacionamento humano, o que inclui a genuína amizade e companheirismo. Afinal, não somos robôs, e muitas vezes passamos mais tempo na companhia de nossos colegas de trabalho do que com nossos familiares e amigos.
Felizmente, o personagem “maquiavélico” será sempre uma minoria na fogueira das vaidades e rivalidades de uma empresa. Se não fosse assim, a vida em nossos escritórios seria pior do que o “inferno de Dante”…
Esquizoide, o lobo solitário
“A primeira manifestação de consciência nascente é o desejo de morrer. Esta vida parece insuportável, e inatingível qualquer coisa. O desejo de partir deixa de ser vergonhoso: chegamos a rezar para que sejamos conduzidos da velha cela, que tanto odiamos, a uma nova, que ainda não aprendemos a odiar.”
Franz Kafka
Esquisito, estranho e solitário. O indivíduo com transtorno de personalidade esquizoide é isolado, com quase nenhuma vida social ou sexual e tem aversão ao contato humano. Como um estranho no ninho, o esquizoide tem grandes dificuldades para criar laços e interagir até com os familiares mais próximos.
Com uma faixa extremamente restrita de expressão emocional, as pessoas esquizoides parecem indiferentes, frias e distantes em suas relações interpessoais, seja na vida particular ou profissional. Não demonstram reações emocionais quando criticadas ou elogiadas e mantêm uma expressão facial neutra em qualquer situação. Mesmo diante de uma tragédia, o esquizoide apresenta uma postura e entonação de voz impessoal e inalterada.
Misantropo, o esquizoide frequentemente desenvolve um afeto exagerado por um animal de estimação e transforma o próprio quarto em um refúgio do resto do mundo. Trata-se de uma espécie de eremita do século XXI, capaz de passar horas e horas entretido, com fones de ouvido, computadores e videogames. No Japão, esse tipo psicológico é conhecido pelo termo hikikomori, que significa “puxando para dentro”.
O escritor tcheco Franz Kafka foi um claro exemplo desse estilo recluso e introspectivo. Em uma carta, Kafka se descreveu da seguinte forma:
“Sou um sujeito retraído, calado, insociável e descontente. De minha vida doméstica, posso tirar algumas conclusões. Vivo em família, com pessoas boas e carinhosas, mas me sinto mais esquisito do que um estranho. Com minha mãe, não troquei mais do que vinte palavras por dia, em média, nos últimos anos; com meu pai, quase nunca fui além do bom-dia. Com minhas irmãs casadas e meus cunhados, não falo e já percebo o enfado.”
Não é à toa que em sua obra-prima, “A metamorfose”, o protagonista é um homem que subitamente se transforma em um inseto. Assustada com sua nova aparência, a família decide trancafiá-lo, evidenciando as impressões que o tipo esquizoide causa aos outros: repulsa, estranheza e medo.
No âmbito profissional, este perfil prefere atividades que possam desempenhar individualmente, de preferência em home office. Os esquizoides são extremamente concentrados e podem passar horas em frente ao computador sem interagir com ninguém. Geralmente destacam-se nas áreas de informática ou exatas, que exigem a repetição exaustiva de padrões.
Para atividades que pedem grande energia física e mental ou trabalhos em grupo, portanto, melhor não contar com eles. Por desconhecerem o bê-á-bá emocional básico, frequentemente mostram-se pouco cordiais e incapazes de reconhecer e lidar com os sentimentos alheios.
A Associação Americana de Psiquiatria associa o diagnóstico de transtorno de personalidade esquizoide aos seguintes aspectos (The University of Chicago Press Journals, 2015):
- A pessoa prefere atividades solitárias;
- Não deseja nem desfruta de proximidade social ou relações íntimas;
- Pouco interesse por experiências sexuais;
- Frieza emocional;
- Ausência de prazer no cotidiano.
O constrangimento e o mal-estar que o esquizoide pode causar tanto no trabalho quanto no convívio social estão diretamente ligados a sua afetividade embotada. A indiferença que demonstra acaba soando como desprezo para os outros e, por isso, a tendência é o isolamento, que muitas vezes traz sofrimento tanto para o indivíduo esquizoide quanto para as pessoas ao seu redor.
Para lidar com alguém assim, é necessário antes de tudo compreender a origem do problema e tolerar o distanciamento emocional, valorizando suas qualidades e competências individuais. É importante não esperar mostras efusivas de afeto – afinal, o simples ato de compartilhar o cotidiano com outras pessoas já é um enorme sacrifício para o esquizoide.
As pessoas normalmente se preocupam quando têm alguma dor física, sentindo que algo não corre bem no próprio corpo. A dor é um indício de que precisamos cuidar mais da saúde ou de que medidas imediatas devem ser tomadas para curar algum mal.
Quando experimentamos uma dor psicológica, no entanto, nem sempre temos a mesma reação, e o sofrimento emocional é frequentemente deixado de lado porque não sabemos que também é necessário fazer um check-up da nossa saúde mental.
O Evitativo: vestindo a capa da invisibilidade
“Para evitar críticas não faça nada, não diga nada, não seja nada.”
Elbert Hubbard
“É nobre ser tímido, ilustre não saber agir, grande não ter jeito para viver.” Estes versos de Fernando Pessoa, extraídos do Livro do Desassossego, refletem o transtorno de personalidade evitativo, caracterizado por inibição social, hipersensibilidade a críticas e sentimentos de inadequação.
Quieto, tímido e inseguro, o indivíduo evitativo se vê como “patinho feio” e morre de medo da rejeição. Prefere a rotina de um cotidiano tranquilo, fugindo de contato humano e refugiando-se entre livros e computadores. Nas poucas vezes em que é obrigado a interagir, pode sofrer com pânico, tremedeiras e falta de ar. Faltam-lhe palavras nas conversas e busca desesperadamente sinais de que está agradando ao interlocutor.
Durante vários séculos, no entanto, a timidez foi vista como uma virtude. Em tempos de normas sociais rígidas, recato e repressão, não se expor era a regra. Atualmente, porém, a superexposição é geral, ou seja, todos sabem o que está acontecendo com o outro o tempo todo em apenas alguns cliques.
Toda essa vitrine social simplesmente aterroriza o evitativo, que tenta estar no mundo observando sem ser notado.
O temor do ridículo e da avaliação alheia marca a vida das pessoas evitativas também no trabalho, onde não raramente são brilhantes em suas funções, mas “travam” quando convocadas a apresentar seus projetos aos colegas, ficando ruborizadas, perdendo a voz e suando frio. Assim, elas mostram-se incapazes de fazer marketing pessoal, resistem a novidades e mudanças e são pouco habituados a trabalhar em equipe.
O universo virtual – e a possibilidade de interagir sem aparecer – representa um verdadeiro oásis para o indivíduo evitativo. Conectados à internet, os evitativos descrevem seu comportamento, relatam suas dificuldades e fantasias e encontram semelhantes. Isto deixa claro que eles de fato gostariam de estabelecer relacionamentos, mas como rejeitam a si mesmos severamente, acabam projetando no outro esse sentimento de exclusão.
“Se não fosse tão tímido, teria tido uma vida muito melhor”, confessou em uma entrevista o cineasta Woody Allen. Não é à toa que a maioria de seus protagonistas sofre com carreiras estagnadas e amores platônicos. “Só há um tipo de amor que dura: o não correspondido”, sentencia ele.
Ao se sentir acolhido e protegido, porém, o evitativo consegue desenvolver seu potencial e libertar sua criatividade.
Músicos, escritores, poetas… A autoexpressão por meio da arte é um caminho muito escolhido por pessoas desse tipo para falar de si e de seus sentimentos sem precisar encarar os outros.
O traço evitativo costuma aparecer ainda na infância – são crianças tímidas, reclusas e com medo de desconhecidos. Para realizar o diagnóstico, a Associação Americana de Psiquiatria enumera as seguintes características:
Não se envolvem com outras pessoas sem ter certeza de que serão aceitos;
- São reservados nas relações interpessoais por vergonha ou medo;
- Preocupam-se excessivamente com rejeições e críticas;
- Enxergam-se como socialmente inadequados, sem qualidades e inferiores aos outros;
- Resistem o quanto podem a riscos e mudanças;
- Evitam atividades profissionais que exijam intensa convivência e interação social.
No meio corporativo, chefes, colegas e subalternos também acham difícil lidar com o indivíduo evitativo e todo o seu pessimismo, medos e fobias. Diante desse quadro, carinho e fidelidade são palavras de ordem, uma vez que o evitativo precisa acima de tudo sentir-se valorizado. É possível tentar incentivá-lo a sair do casulo, mas este estímulo deve ser paciente e cadenciado para não gerar o resultado inverso, ou seja, ainda mais reclusão e insegurança.
Nesses casos, o auxílio dos profissionais especializados da Fellipelli é um recurso valioso para que o evitativo consiga enfrentar melhor as situações que provocam ansiedade, através de assessments de treinamento cognitivo e construção de habilidades sociais como fazer e aceitar elogios, falar em público, expressar emoções e defender os próprios direitos e opiniões.
E você, quem é?
O autoconhecimento é a principal chave para aprimorar sua autoconfiança e evoluir para responder com mais precisão a esta pergunta. Até certo grau, a maioria das pessoas tem um pouco de cada característica abordada, alguns mais e outros menos. Esses traços psicológicos integram nosso caráter evolutivo, pois nossos ancestrais lançaram mão de todos esses comportamentos para sobreviver. Atualmente, a medida certa parece ser aquela que não provoca danos – aos outros e a si mesmo.
Enquanto a maioria das empresas testa mil estratégias diferentes para reduzir o turnover e aumentar a retenção de bons profissionais, uma abordagem tão simples quanto efetiva é frequentemente esquecida: fomentar o tipo de lealdade que se desenvolve entre um funcionário e outro. É o que mantém as pessoas felizes em seus empregos – e isso transcende os negócios.
Em todos esses perfis descritos, fica claro que, especialmente na posição de liderança, ele, sua equipe e a própria organização em muito se beneficiarão se houver o desenvolvimento de sua Inteligência Emocional e todas as subescalas que a compreendem.
O time, por sua vez, ao ter clareza e consciência de conceitos como autopercepção, empatia, autoexpressão, autoestima, entre outros, em muito contribuirão para o amadurecimento do seu líder.
Pensando nisso, que a Fellipelli promove todos os anos a Semana Fellipelli da Neurociência e Inteligência Emocional, agora em sua 2ª edição, e desenhou a Jornada do Equilíbrio, com o inventário EQ-i 2.0® iniciando o processo de Coaching e o Projeto Emotions , para desenvolver líder e liderados.
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Referências bibliográficas
- CNBC, 2018. Why having friends at work is so crucial for your success. Acesso em: 22/08/2020.
- BUSINESS NEWS DAILY, 2020. Why It’s Good to Have a BFF at Work. Acesso em: 22/08/2020.
- American Psychological Association, 2011. Narcissism and the DSM. Acesso em: 29/08/2020.
- The University of Chicago Press Journals, 2015. Acesso em: 02/09/2
- American Psychological Association, 2020. Obsessive-compulsive disorder. Disponível em: Acesso em: 30/08/2020.
- GALLUP, 2018. Why We Need Best Friends at Work. Disponível em: https://www.gallup.com/workplace/236213/why-need-best-friends-work.aspx Acesso em: 25/09/2020.
Tema: 2ª Semana Fellipelli da Neurociência e Inteligência Emocional, EQ-i 2.0®, Coaching
Subtemas: A relação dos tipos de perfis com o desenvolvimento da inteligência social para o gerenciamento das emoções – pessoais e alheias.
Objetivo: Autoconhecimento, Autodesenvolvimento, Desenvolvimento Organizacional, Desenvolvimento de Liderança, Desenvolvimento de Equipe, Coaching, Coaching nas Empresas.
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