COACHING – UMA CAUSA MUITAS VEZES TRATADA COM LEVIANDADE4 min de leitura

Os coaches ajudam as pessoas a se tornarem mais do que acham que podem ser (BELASCO, J. 2000 – Prefácio do livro Coaching o Exercício da Lideraça de Marshall Goldsmith).

 

James ainda declara que o coaching é uma das experiências mais profundas e mutuamente gratificantes que uma pessoa pode ter. O campo de coaching pessoal e profissional cresce cada vez mais ao redor do mundo.

 

Chamo a atenção para o fato de que coaching, na sua fundação, faz com que o indivíduo se torne mais completo, responsável por suas próprias escolhas. De acordo com o Coaching Training Institute, coaching é uma aliança poderosa para levar adiante e melhorar cada vez mais o processo de aprendizado humano, efetividade e realização. O trabalho deve ser feito olhando para a vida do coachee como um todo.

 

É comum a situação em que se confundem ou se misturam coaching e consultoria. A consultoria se volta para os processos, o coaching trabalha os comportamentos que ajudam a pessoa a desenvolver uma nova maneira de enxergar, sentir e se comportar em situações problemáticas.  Outra diferença fundamental é que a consultoria identifica os problemas e sugere soluções de resolução. Já o coaching traz à tona o que a pessoa tem de melhor. Daí, podemos entender melhor a metáfora: “transportar uma pessoa valiosa de onde ela está para onde ela quer ir”.

 

É possível imaginar a complexidade e a responsabilidade que é trabalhar com alguém de forma imparcial e ao mesmo tempo agregando valor e facilitando insights de forma autodirigida. Leio muitos artigos mencionando escolas de coaching que oferecem uma tentativa de formação, sem a preocupação da transformação da pessoa que quer se tornar um coach; ou de escolas que lotam suas salas com oitenta ou cem pessoas e passam os conceitos e as técnicas de forma massiva, mal apoiada e acompanhada.

 

A escola de coaching é corresponsável pelos impactos que aquela formação vai gerar nas vidas dos que se submetem ao coach certificado por ela. Não é à toa que o International Coaching Federation é firme e claro em suas diretrizes e regulamentação desta profissão tão banalizada devido a aspectos fortemente comerciais.

 

Por causa da utilidade do coaching para as pessoas, a tendência é a ausência de critérios rigorosos para a definição de competências para ser um coach.  Não há uma diferenciação clara entre o coaching profissional, o coaching vindo do chefe ou o coaching por parte de pares ou profissionais de recursos humanos.

 

Qualquer um pode pendurar uma placa que diz COACH. E estes nem sempre estiveram do outro lado da mesa, ou seja, nunca receberam coaching. Como alguém pode aplicar algo se nunca se submeteu ao mesmo tipo de desenvolvimento?  Um enfermeiro se deixa aplicar uma injeção para sentir o que um paciente sente.

 

É importante perguntar “quem somos nós” antes de “o que fazemos”. A importância do talento, da aptidão, do autoconhecimento para um coach é tão grande, porque é necessário identificar os nossos instintos naturais como coaches.  É bom perguntar: “quem está fazendo coaching? É a minha forma ou é a minha essência? “

 

Muitas escolas de coaching recheiam as suas formações com leituras e a elaboração de monografias. No entanto, não encontramos o nosso propósito num livro ou num pedaço de papel escrito, embora possamos nos inspirar. Para oferecer coaching é necessária a disposição de olharmos no espelho – entender o nosso conteúdo subjacente, identificar os nossos filtros e a nossa visão de mundo. Dessa forma, o coach será capaz de permitir que o coachee diga o que fazer, a partir dos seus insights, conscientização e reflexão.

 

O cérebro é tão poderoso…  ele geralmente força uma visão de mundo com a lente que a nossa história de vida produziu. E isso não significa ser negativo porque a evolução humana foi beneficiada por esse tipo de funcionamento. Contudo, o coch é desafiado a entender esse mesmo sistema no outro e o outro a entender a si mesmo. E tudo isso sem se praticar psicoterapia. Trabalhando-se do presente para o futuro e facilitando as descobertas pelo coachee de tudo que ele tem de melhor e ainda não percebeu.

 

Espero que este alerta sirva de conscientização e estímulo à responsabilidade de quem carrega o título profissional de coach. Que acima disso, antes de qualquer prática em coaching tenham compaixão pela vida de seus coachees e com isso o respeito pela autonomia e protagonismo deles.